Num momento carregado de emoção e simbolismo para milhões de fiéis em todo o mundo, a Igreja Católica prepara-se para um novo capítulo na sua longa história. A morte do Papa Francisco, ocorrida a 21 de abril, aos 88 anos, mergulhou o Vaticano num silêncio reverente, enquanto se ergue lentamente a expectativa em torno de quem será o próximo a carregar o peso espiritual e moral do Papado. E, entre os nomes que ecoam com força crescente, há um que toca particularmente o coração dos portugueses: o do cardeal José Tolentino de Mendonça.
Um nome português entre os mais falados para suceder a São Pedro
Natural de Machico, na Madeira, com 59 anos de idade, Tolentino de Mendonça surge hoje como um dos principais favoritos à sucessão de Francisco. Segundo o jornal italiano La Repubblica, é um dos cardeais mais respeitados e conhecidos do Colégio Cardinalício. Apesar de ser o mais jovem entre os candidatos de peso, a sua influência não é menor. Pelo contrário. Com uma presença serena, uma inteligência luminosa e uma capacidade rara de tocar mentes e corações, Tolentino é descrito como tendo um “forte perfil cultural e uma capacidade ímpar de comunicar com um público vasto e diverso”.

Um homem de fé, cultura e espírito visionário
A sua trajetória fala por si. Iniciou os estudos de Teologia em 1982 e foi ordenado sacerdote em 1990. A sua vida tem sido marcada pela palavra — escrita, falada, rezada. Poeta, teólogo, ensaísta e pensador profundo, Tolentino tem sido uma ponte entre a espiritualidade e o pensamento contemporâneo. A sua visão humanista da fé, o seu compromisso com uma Igreja mais próxima das pessoas e o seu discurso inclusivo e compassivo valeram-lhe o respeito não apenas no seio da Igreja, mas também nos círculos intelectuais e académicos fora dela.
Em 2018, a sua caminhada deu um salto marcante quando o Papa Francisco o convidou a orientar os exercícios espirituais da Cúria Romana — um gesto de confiança e reconhecimento do seu valor espiritual e teológico. Pouco depois, seria nomeado arquivista e bibliotecário da Santa Sé, funções de grande prestígio e responsabilidade. Em 2022, assumiu o cargo de Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, consolidando o seu papel como uma das vozes mais influentes da Igreja atual.
Um cardeal português com alcance global
O perfil de Tolentino de Mendonça não se limita à fé. Ele representa uma nova sensibilidade dentro da Igreja — mais humana, mais próxima, mais capaz de dialogar com o mundo de hoje. La Repubblica sublinha a sua “personalidade gentil e astuta”, a sua “vasta cultura”, o seu “talento administrativo” e a sua “notoriedade mundial”. Mais do que um homem da Igreja, é um homem do mundo. Um português de alma universal.
As redes sociais também não ignoraram o seu nome: publicações destacam a sua notoriedade, a sua capacidade de comunicação e a forma como, com simplicidade e profundidade, é capaz de inspirar fé num tempo tantas vezes marcado pela dúvida.
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O Conclave: a decisão que marcará uma era
Com o Conclave marcado para o dia 7 de maio, os olhares voltam-se agora para a Capela Sistina — aquele lugar sagrado onde a história da Igreja volta, mais uma vez, a ser escrita. É ali, sob os céus pintados por Miguel Ângelo, que mais de 130 cardeais se reunirão para escolher o novo sucessor de Pedro. Cada voto será um gesto de discernimento e oração. Cada nome pronunciado, um possível caminho para a Igreja do futuro.
E talvez, desta vez, seja Portugal a ver um dos seus filhos elevar-se ao mais alto ministério da Igreja Católica. Um gesto que uniria passado e presente, fé e cultura, raiz e horizonte.
Será Tolentino de Mendonça o próximo Papa?
Ninguém o sabe. Mas muitos, em silêncio, acalentam a esperança. Porque em tempos de mudança e incerteza, a figura deste cardeal português — gentil, culto, profundo — representa mais do que uma escolha possível. Representa uma possibilidade luminosa de renovação.
A força simbólica de um Papa vindo do “fim da Europa”
Caso José Tolentino de Mendonça venha a ser eleito Papa, estaríamos perante um momento de profundo simbolismo. Não apenas pela nacionalidade portuguesa, mas pelo facto de vir das margens geográficas da Europa — da Madeira, onde o Atlântico encontra o céu — para o centro espiritual do mundo católico. Seria, de certa forma, a materialização da mensagem evangélica que tanto Tolentino tem defendido: a de que as periferias têm voz, de que os lugares afastados do poder central são também centros de sentido e de fé.
Na sua obra escrita, Tolentino fala frequentemente da importância do silêncio, da escuta, da compaixão, da necessidade de uma Igreja que não apenas fala, mas que sabe também calar e acolher. Uma Igreja que se ajoelha ao lado dos que sofrem, que estende a mão sem julgar, que não teme a dúvida e que sabe que fé e fragilidade podem caminhar juntas.
O perfil progressista que dialoga com o presente
Ao contrário de outros favoritos ao papado, cuja visão se ancora em posturas mais conservadoras, Tolentino é visto como um símbolo de renovação e equilíbrio. Não rompe com a tradição, mas também não se agarra a ela de forma cega. Lê os sinais do tempo com inteligência e sensibilidade. A sua ligação à ala progressista do Vaticano pode significar uma abertura mais ampla ao diálogo inter-religioso, à valorização do papel das mulheres na Igreja, e a uma abordagem mais pastoral e menos dogmática das questões morais contemporâneas.
O seu pensamento é profundamente enraizado na espiritualidade cristã, mas está igualmente atento à literatura, à arte, à poesia, à ciência, à condição humana. Os seus textos cruzam referências bíblicas com autores como Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Simone Weil ou Rainer Maria Rilke. Um Papa que cita poetas? Sim. Porque, como ele próprio já escreveu, “a fé também precisa de beleza”.
Uma ponte entre gerações
Num momento em que muitos jovens se afastam da Igreja por não se sentirem representados, a figura de Tolentino poderia abrir novos caminhos. O seu discurso é acessível sem ser simplista, profundo sem ser obscuro. Sabe falar ao coração dos que creem, mas também ao dos que procuram, duvidam, ou até rejeitam. A sua eleição poderia representar um regresso da Igreja ao espaço do diálogo cultural e humano, mostrando que é possível uma fé inteligente, inclusiva e contemporânea.
O peso do silêncio na Capela Sistina
Enquanto os cardeais se preparam para o Conclave, paira sobre a Capela Sistina um silêncio denso e expectante. É o silêncio de séculos de história, de decisões que moldaram o mundo, de homens que, entre si, escolhem um sucessor de Pedro. Cada cardeal leva consigo o peso do discernimento e da oração. E cada fiéis, onde quer que esteja, acompanha com esperança o fumo branco que, um dia destes, subirá ao céu de Roma.
E se, entre os frescos de Miguel Ângelo, ecoar o nome de José Tolentino de Mendonça, será Portugal a estremecer primeiro. E logo depois, o mundo inteiro. Porque uma nova página começará a ser escrita — com tinta, com alma, e com fé.
Um Papa poeta? Um Papa português?
Num tempo em que o mundo procura líderes com profundidade e compaixão, em que a Igreja precisa de se reinventar sem se perder, Tolentino de Mendonça representa a síntese rara entre espírito e razão, tradição e frescura, humildade e liderança.
Será ele o próximo Papa? Ninguém o sabe. Mas se for, será um Papa que conhece o silêncio das bibliotecas, o perfume das palavras e o peso da esperança.