As contraordenações por uso do telemóvel ao volante dispararam em Portugal no início de 2025, revelando uma tendência alarmante nas estradas nacionais. Só no primeiro trimestre do ano, as infrações duplicaram face a 2024, com uma média de 84 condutores multados por dia, totalizando 7.587 autos levantados, segundo o mais recente relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).
O documento, divulgado apenas agora, mostra um aumento impressionante de 114,2% nas contraordenações por utilização do telemóvel durante a condução, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Um número que expõe, de forma clara, uma perigosa desconexão entre a consciência dos condutores e a realidade da estrada.
Entre janeiro e março de 2025, as forças de segurança fiscalizaram mais de 75,7 milhões de veículos, tanto em operações presenciais como através de sistemas automáticos de controlo de velocidade — um aumento de 31,2% face a 2024. E
ssa intensificação do controlo resultou em mais de 327 mil infrações registadas, o que representa um crescimento de 15,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Infrações disparam em várias frentes
O aumento das multas não se restringe ao uso do telemóvel. O relatório da ANSR revela um crescimento generalizado de comportamentos de risco. A ausência de seguro automóvel aumentou 85,6%, a falta de inspeção periódica obrigatória subiu 79,7%, e as infrações relacionadas com a não utilização de sistemas de retenção infantil cresceram 54%.
Já as situações de condução sob efeito de álcool registaram um aumento de 32%, confirmando que os perigos da estrada continuam a residir, sobretudo, na irresponsabilidade humana.
Excesso de velocidade: o perigo constante
O excesso de velocidade manteve-se como a principal infração nas estradas portuguesas. As atuações da PSP cresceram 53,3%, e as da GNR 8,5%.
Curiosamente, as multas emitidas através do Sistema Nacional de Controlo de Velocidade (Sincro) — os radares automáticos da ANSR — e pela Polícia Municipal de Lisboa registaram ligeiras quedas, de 2,6% e 7%, respetivamente. Ainda assim, a velocidade excessiva continua a ser um dos principais fatores de risco de morte nas estradas.
Criminalidade rodoviária em alta: quase 11 mil detenções
A criminalidade rodoviária também atingiu números preocupantes. Entre janeiro e março, 10.800 condutores foram detidos, o que representa um aumento de 95,2% em comparação com o mesmo período de 2024. Desses, 4.805 foram apanhados sob o efeito do álcool, e 2.985 conduziam sem carta de condução. A tendência é clara: o desrespeito pelas regras básicas de segurança continua a colocar vidas em risco.
Acidentes com menos vítimas, mas mais comportamentos de risco
Durante o primeiro trimestre de 2025, registaram-se 8.270 acidentes com vítimas, que resultaram em 90 mortos, 531 feridos graves e 9.641 feridos ligeiros.
Embora os números revelem uma ligeira descida face a 2024 — com menos 16 acidentes e menos 15 vítimas mortais —, a gravidade dos comportamentos de risco mantém-se preocupante.
Em relação a 2019, o ano de referência usado pela Comissão Europeia para as metas de redução da sinistralidade até 2030, Portugal registou menos 151 acidentes (-1,8%) e menos 30 mortos (-25%), confirmando progressos lentos, mas consistentes, na redução das consequências mais trágicas.
Explosão de acidentes com bicicletas e trotinetas
Outro dado que merece destaque é o aumento de 21% nos acidentes envolvendo bicicletas e trotinetas, em comparação com o primeiro trimestre de 2024 — e cerca de 60% acima dos valores registados em 2019.
No total, ocorreram 793 acidentes com estes veículos leves, provocando oito mortos (mais 100%), 38 feridos graves (+5,6%) e 738 feridos ligeiros (+23%).
Enquanto os acidentes com motociclos diminuíram, as vítimas mortais entre os motociclistas aumentaram 23%, totalizando 26 mortes. Uma estatística que reforça a urgência de reforçar a formação, o civismo e o respeito mútuo entre todos os utilizadores da via pública.
Um alerta que não pode ser ignorado
Os números revelados pela ANSR traçam um retrato preocupante da condução em Portugal. A distração ao volante, o excesso de velocidade e o consumo de álcool continuam a ser os grandes inimigos da segurança rodoviária.
Mais do que estatísticas, são vidas perdidas, famílias destruídas e sonhos interrompidos em segundos.
De acordo com o JN, a mensagem é clara: a segurança na estrada depende de cada condutor, de cada escolha, de cada gesto de responsabilidade. O telemóvel pode esperar — a vida, essa, não volta atrás.
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