A língua portuguesa é um património de valor incalculável, repleto de preciosidades fantásticas e fascinantes. Será que dizer “tinha pagado” ou “foi pago” são erros de português?
A língua portuguesa é um património de valor incalculável, repleto de preciosidades fantásticas e fascinantes. Convém estar atento a algumas curiosidades para perceber que este património é realmente um universo vasto que merece ser explorado. Por exemplo, sabia que existem verbos abundantes? Lendo este artigo ficará a perceber o que são verbos abundantes.
O presente artigo do NCultura visa esclarecer uma dúvida: será que dizer “tinha pagado” ou “foi pago” são erros de português? Permaneça connosco e fique devidamente esclarecido nesta matéria. Seguramente que já se deu conta que existem determinados verbos que contêm dois particípios passados. Estes verbos com dois particípios passados são os chamados verbos abundantes e, geralmente, eles geram confusão no momento de formar os tempos compostos.
Pode surgir a dúvida, num determinado contexto, se estivermos perante um particípio regular e outro irregular, qual se deve usar? Qual dos particípios se deve escolher em cada ocasião? Quer saber mais?
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«Tinha pagado» e «Foi pago» são erros de português
O exemplo
Para exemplificar este contexto que pode suscitar dúvidas, iremos analisar um caso em que se usa o verbo “pagar”. Posteriormente, também iremos citar outros verbos que possuem o particípio duplo como característica.
A resposta
Será que dizer “tinha pagado” ou “foi pago” são erros de português? Não, não são. Tanto “tinha pagado”, como “foi pago”, não são erros, podendo ambos ser usados em determinados contextos.
Contudo, devemos, agora, perceber a razão destas duas construções existirem, embora seja também importante tentar perceber se existem outras formulações possíveis.
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Análise
Efetivamente, tanto a forma “pagado”, como a forma “pago”, são dois modos equivalentes do particípio do verbo “pagar”, algo que se pode classificar como um verbo abundante.
A forma “pagado” é particípio regular do verbo pagar. A forma regular é, habitualmente, usada na voz ativa, nomeadamente com os verbos auxiliares “ter” ou “haver” (exemplo: “Quando ele saiu, já tinha pagado o café”).
A forma “pago” é particípio irregular do verbo pagar. A forma irregular é, habitualmente, usada na voz passiva, nomeadamente com os verbos auxiliares “ser” ou “estar” (exemplo: “O café foi pago por ele”).
Informação a reter:
Apesar do que anteriormente foi exposto, é importante perceber que é cada vez menos comum ouvir-se e ler-se “pagado” (que, como vimos, é a forma regular), sendo normalmente privilegiado o modo “pago” (que, como vimos, é a forma irregular).
Tal ocorre mesmo em frases que usam os verbos auxiliares “ter” ou “haver”. Logo, onde seria mais correto usar a forma “pagado”.
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O verbo pagar
O verbo pagar é tido como um sinónimo de desembolsar, custear, reembolsar, remunerar, gratificar, indemnizar, quitar e liquidar. O verbo pagar também pode significar retribuir, cumprir, realizar, corresponder e compensar. Pode ainda significar padecer, sofrer e expiar.
Convém perceber e lembrar que a forma “pago” é igualmente a forma do verbo pagar no presente do indicativo, mais especificamente na 1ª pessoa do singular (exemplo: Eu pago a renda mensalmente, sempre no dia 1).
Presente do indicativo de verbo pagar
Eu pago
Tu pagas
Ele paga
Nós pagamos
Vós pagais
Eles pagam
Conferir casos idênticos
O particípio permite ainda a formação de tempos verbais compostos que transmitem a noção de conclusão da ação verbal, mais especificamente o estado da ação depois desta estar concluída.
“Pagar” não é o único verbo abundante da língua portuguesa. Há outros exemplos a apresentarem um particípio duplo, um com uma forma regular e outro com uma forma irregular. Entre outros exemplos desses verbos abundantes estão: ganhar (particípio duplo: ganhado/ganho), morrer (particípio duplo: morrido/morto), extinguir (particípio duplo: extinguido/extinto).
Creio lembrar-me que o verbo TER exige o particípio passado REGULAR e os verbos SER ou ESTAR o irregular.