Há hábitos silenciosos que carregam consigo perigos imensos. Um deles é a escolha de um código PIN para o cartão Multibanco. Muitas pessoas, sem grande reflexão, optam por combinações simples e fáceis de memorizar — sem imaginar que, ao fazê-lo, estão a facilitar a vida a quem menos deviam: os criminosos.
Afinal, o PIN — esse conjunto de apenas quatro números — é, para todos os efeitos, a última barreira entre o seu dinheiro e quem o quer roubar. E o que deveria ser uma muralha de segurança transforma-se, com demasiada frequência, numa porta escancarada.
Códigos previsíveis: uma ameaça real e crescente
Num mundo onde a tecnologia avança a uma velocidade vertiginosa, os riscos também se multiplicam. A inteligência artificial e os algoritmos de tentativa automática conseguem testar milhares de combinações por segundo. Aquilo que antes exigia tempo e engenho, hoje pode ser feito em segundos com um simples software.
Mas o problema começa bem antes disso. O verdadeiro erro — aquele que fragiliza tudo — é humano. Somos nós que escolhemos “1234”, “0000”, “1111” ou datas de aniversário por comodismo.
E somos nós que subestimamos o valor de quatro dígitos, esquecendo-nos de que representam acesso direto às nossas contas, à nossa estabilidade financeira, à nossa privacidade.
Um estudo que revela o que (quase) todos fazem
Um analista de dados revelou, com base em fugas de informação de milhões de palavras-passe de quatro dígitos, um padrão alarmante: 11% dos utilizadores escolhem “1234”. Um único código concentra milhões de utilizadores. E, mais grave ainda, cerca de 25% dos códigos podiam ser adivinhados com apenas 20 tentativas.
Pior que o óbvio, só o negligenciado. Ao usarmos padrões simples, estamos a repetir erros conhecidos. Estamos, no fundo, a entregar a chave de casa a quem apenas bateu à porta com um palpite.
Os 10 PIN mais usados — e mais perigosos
A lista dos códigos mais comuns é, ao mesmo tempo, um alerta e um convite à mudança:
- 1234
- 1111
- 0000
- 1212
- 7777
- 1004
- 2000
- 4444
- 2222
- 6969
Estes números são um “abre-te Sésamo” para qualquer tentativa de intrusão, refere o Postal do Algarve. A sua frequência torna-os os primeiros a ser testados por quem tenta aceder de forma fraudulenta a contas bancárias. E há ainda os que escolhem datas de nascimento — um erro compreensível, mas perigoso. Ao recorrer a algo pessoal e significativo, está, sem querer, a reduzir drasticamente o universo de possibilidades. Se alguém tiver acesso a informações básicas sobre si, adivinhar o seu PIN torna-se uma tarefa simples.
A força da aleatoriedade: proteger com inteligência
É aqui que entra a verdadeira chave da proteção: a aleatoriedade. Códigos como “8068” ou “2907”, que não seguem nenhuma lógica aparente, são significativamente mais seguros. Não apelam à memória fácil, mas oferecem resistência à tentativa automática. São, por isso, escolhas sábias para quem leva a sua segurança a sério.
Além disso, nunca — mas nunca — deve partilhar o seu PIN com terceiros. Mesmo que receba uma chamada que parece legítima, mesmo que o interlocutor se identifique como sendo do banco. Nenhuma entidade bancária séria pede o seu código pessoal. Se alguém o faz, é uma fraude. E deve ser tratada como tal.
Pequenas atitudes, grandes diferenças
Segurança não é só o código que escolhe. É também a forma como o protege. Tape sempre o teclado quando introduz o PIN num terminal. Nunca o escreva em papéis que guarda na carteira ou no telemóvel. E evite usar o mesmo código durante anos.
Atualizar o seu PIN regularmente — e escolher combinações diferentes e seguras — é uma prática recomendável. Afinal, o mundo muda. As ameaças evoluem. E a nossa defesa tem de acompanhar essa realidade.
Um gesto simples que pode salvar-lhe o salário
Pense nisto: a sua conta bancária pode conter meses de trabalho, economias de anos, o dinheiro das compras, da renda, dos sonhos. Quatro números protegem tudo isso. Acha mesmo que vale a pena arriscar com algo previsível?
A segurança digital começa em pequenos gestos. E talvez o mais pequeno — mas mais poderoso — seja a escolha de um PIN aleatório, forte e discreto.
Se o seu código está entre os mais usados, ou se foi escolhido com base na sua data de nascimento ou em qualquer padrão repetido… está na hora de mudar. Agora.
Porque a prevenção não é exagero — é responsabilidade. E, neste caso, é o escudo entre si e quem o quer prejudicar.
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Não há codigos inexpugnaveis. Veja-se a história da 2a Guerra Mundial. Batalhões de descodificadores, de um lado e outro, conseguiam descobrir as portas dos segredos.
Hoje os códigos tem alternativas, até agora mais fiaveis: o reconhecimento facial, a iris, a impressão digital…