A Ryanair, a maior companhia aérea da Europa em número de passageiros e uma das mais rigorosas nas suas políticas operacionais, anunciou uma mudança histórica que promete transformar a experiência de embarque. A partir de 12 de novembro de 2024, a empresa abolirá por completo os cartões de embarque em papel e qualquer forma de check-in físico nos aeroportos. Todos os passageiros passarão a ser obrigados a utilizar exclusivamente o aplicativo “myRyanair” para realizar o processo de embarque.
Uma decisão que marca o fim de uma era
Michael O’Leary, CEO do Grupo Ryanair, revelou que a medida visa alinhar a companhia com outros setores que já abandonaram bilhetes impressos, como festivais de música e grandes eventos desportivos.
Segundo a transportadora, cerca de 80% dos mais de 206 milhões de passageiros anuais já utilizam cartões de embarque digitais, o que, para a empresa, demonstra que a transição será natural para a maioria.
Com esta política, deixa de existir a possibilidade de imprimir o cartão de embarque em casa ou de o obter nos balcões do aeroporto. A Ryanair reforça assim a sua estratégia digital e, ao mesmo tempo, reduz custos operacionais, canalizando a responsabilidade do processo diretamente para os viajantes.
Check-in tradicional deixa de existir
Até ao momento, apenas os passageiros com tarifas Flexi Plus tinham a opção de realizar o check-in no aeroporto. Com a nova política, essa exceção desaparece.
Quem não apresentar o cartão de embarque digital através da aplicação poderá enfrentar penalizações significativas: até 55 euros por pessoa para embarque sem cartão digital, além de uma taxa extra de 20 euros para reemissão.
A medida insere-se no já conhecido modelo de negócio da Ryanair, que, ao longo dos anos, tem imposto regras rígidas e penalizações pesadas a quem não as cumpre. A filosofia da companhia é clara: quem não se adapta paga o preço.
O avanço tecnológico… mas a que custo?
É inegável que esta decisão acompanha a tendência mundial de digitalização. Hoje, grande parte dos passageiros possui smartphones e já está habituada a utilizar aplicações móveis para gerir viagens, reservas e pagamentos. Para muitos, a medida pode significar maior rapidez e menos desperdício de papel. Contudo, a exigência do uso exclusivo do aplicativo levanta sérias questões de acessibilidade. Há viajantes que, por idade, limitações tecnológicas ou simples indisponibilidade de equipamentos móveis, poderão sentir-se excluídos.
A dependência total da aplicação também pode tornar-se um problema em situações comuns, como falhas de rede, telemóveis descarregados ou dificuldades técnicas no próprio sistema.
Comparação com outras companhias aéreas
Ao contrário da Ryanair, outras companhias aéreas de baixo custo, como a EasyJet ou a Vueling, ainda oferecem a possibilidade de imprimir cartões de embarque em casa, sem custos adicionais, ou de utilizar quiosques automáticos no aeroporto.
As companhias tradicionais, como a TAP Air Portugal, a Lufthansa ou a Air France, também permitem a utilização de bilhetes digitais, mas não aboliram por completo o suporte físico, garantindo assim maior flexibilidade para diferentes perfis de viajantes.
Enquanto muitas transportadoras procuram equilibrar a modernização com a acessibilidade, a Ryanair aposta numa política de “tudo ou nada”. É um movimento ousado, mas que pode reforçar a imagem de uma companhia que privilegia eficiência e redução de custos acima de qualquer conveniência para o passageiro.
O risco de frustração nos aeroportos
Embora a Ryanair defenda que a medida é prática e alinhada com o futuro da aviação, a transição pode criar cenários de tensão nos aeroportos. Passageiros desinformados ou desprevenidos podem enfrentar custos inesperados e atrasos no embarque.
A imagem da companhia, já marcada por políticas consideradas por muitos como severas, pode sofrer novos abalos caso o processo não seja devidamente comunicado e acompanhado.
Uma aposta arrojada
Segundo a Aeroin, a Ryanair sempre foi conhecida por desafiar convenções e implementar mudanças que, muitas vezes, causam controvérsia. A eliminação total dos cartões de embarque em papel é mais um passo nesse caminho.
Para uns, trata-se de modernização inevitável e sustentável; para outros, é uma imposição que poderá gerar exclusão e frustração.
O certo é que, a partir de novembro, viajar com a Ryanair sem smartphone deixará de ser uma opção. Cabe agora aos passageiros adaptarem-se a esta nova realidade, onde o digital não é apenas preferencial, mas obrigatório.