O debate sobre a segurança rodoviária entre gerações está novamente em destaque. Um relatório recente divulgado em França está a gerar reflexão em toda a Europa: afinal, os condutores idosos são realmente mais seguros ou apenas conduzem menos?
De acordo com o site especializado Automobile Magazine, o Relatório de Segurança Rodoviária de 2024 revela que os idosos estão menos envolvidos em acidentes do que os condutores entre os 18 e os 24 anos — mas a explicação poderá não estar apenas na prudência ou na experiência, e sim na redução do número de quilómetros percorridos.
Europa dividida: exames obrigatórios ou liberdade ao volante?
Enquanto a União Europeia discute o fim das cartas de condução vitalícias e a implementação de exames médicos regulares para condutores seniores, França pondera uma abordagem mais equilibrada.
De um lado, estão as vítimas de acidentes rodoviários, que exigem maior controlo sobre a aptidão física e mental dos condutores mais velhos — como o caso emblemático da tenista Pauline Déroulède, atropelada por um condutor de 92 anos.
Do outro, milhares de residentes rurais receiam perder a mobilidade e a independência, caso sejam impostas regras demasiado restritivas.
Estatísticas que não contam toda a história
A interpretação dos dados continua a ser um desafio. O Observatório Nacional Interministerial de Segurança Rodoviária em França divulga números de mortalidade e responsabilidade, mas não apresenta informações sobre a quilometragem média anual por faixa etária, o que impede conclusões definitivas.
Um estudo da associação francesa de seguros GPMA, publicado em 2023, estimou que os condutores idosos percorrem cerca de 10.000 quilómetros por ano, contra 12.200 quilómetros da média nacional.
Ainda assim, os números surpreendem: as estatísticas de 2023 indicam 97 mortes por milhão de habitantes entre os jovens condutores (18-24 anos) e 84 mortes por milhão entre os maiores de 85 anos. As diferenças são reduzidas, mas o dado mais relevante é que os números incluem todas as categorias de utilizadores — peões, ciclistas e motociclistas — o que complica a leitura isolada sobre a condução automóvel.
Quando a experiência não chega
A análise da responsabilidade em acidentes mortais revela um dado preocupante: os condutores com mais de 75 anos têm maior probabilidade de serem considerados culpados nas colisões fatais. Em 2019, 82% dos condutores dessa faixa etária foram considerados responsáveis pelos acidentes em que estiveram envolvidos, superando os 77% registados entre os jovens de 18 a 24 anos.
Entre as principais causas estão problemas de saúde súbitos (22%) e o não respeito pela sinalização rodoviária (18%) — sinais claros de que o declínio das capacidades cognitivas e motoras pode interferir com a segurança ao volante.
Menos quilómetros, mas o mesmo perigo
Desde a pandemia da Covid-19, três em cada dez idosos admitem conduzir menos. A mobilidade reduziu-se, mas o risco por quilómetro percorrido mantém-se. Isto significa que, proporcionalmente, os condutores mais velhos não são necessariamente mais seguros — apenas menos expostos.
Em termos absolutos, a probabilidade de um idoso se envolver num acidente é menor, mas quando o faz, o desfecho tende a ser mais grave, devido à fragilidade física e à menor capacidade de reação.
O futuro das cartas de condução
O tema continua a dividir especialistas e legisladores. Para uns, a idade não deve ser um critério automático; o que deve contar é o estado de saúde e as capacidades cognitivas do condutor. Para outros, a ausência de controlo médico regular é um risco público que não pode ser ignorado.
Em França, e em vários países europeus, cresce a ideia de uma reforma equilibrada, que mantenha a autonomia dos condutores seniores, mas que garanta avaliações periódicas obrigatórias para prevenir tragédias evitáveis.
Uma coisa é certa: com o envelhecimento da população e o aumento da esperança média de vida, o número de idosos ao volante vai continuar a crescer — e o debate sobre a segurança nas estradas europeias está longe de terminar.
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