Nos últimos tempos, um livro misterioso e polémico voltou a estar na ordem do dia, reacendendo debates sobre o destino da Igreja e até mesmo sobre o fim do mundo. O motivo? A recente hospitalização do Papa Francisco, que fez ressurgir interpretações das profecias de São Malaquias, um arcebispo irlandês do século XII que teria previsto com precisão a sucessão dos papas até ao fim dos tempos.
Mas o que diz exatamente esta profecia? E há razões para acreditar que o mundo pode realmente acabar em 2027?
A origem da profecia dos Papas
As profecias de São Malaquias baseiam-se num texto obscuro, conhecido como “A Profecia dos Papas”, supostamente escrito em 1139. De acordo com a tradição, Malaquias teve uma visão durante uma visita a Roma, onde lhe foram reveladas 112 frases enigmáticas, cada uma associada a um futuro papa.
O documento permaneceu desconhecido durante séculos até ser descoberto em 1595 pelo monge beneditino Arnold Wion, que afirmou tê-lo encontrado nos arquivos secretos do Vaticano. O texto descreve cada papa com uma breve frase enigmática, supostamente relacionada com características da sua vida, brasão ou contexto do seu pontificado.
Embora muitos dos papas até ao século XVI pareçam corresponder às descrições feitas na profecia, os historiadores têm sido mais céticos em relação aos papas que vieram depois desse período, levantando dúvidas sobre a autenticidade da obra.

O último Papa e o fim dos tempos
A parte mais inquietante da profecia está reservada ao último nome da lista: Pedro, o Romano.
Segundo o texto, este papa conduzirá a Igreja durante um período de grande tribulação, que culminará na destruição de Roma e no Juízo Final. O trecho final da profecia diz:
“No último período da Santa Igreja Romana, reinará Pedro, o Romano, que conduzirá o seu rebanho através de muitas tribulações. Depois, a cidade das sete colinas será destruída e o terrível Juiz julgará o povo. O fim.”
A profecia não menciona diretamente o Papa Francisco, mas alguns interpretam que o seu sucessor poderá ser este enigmático Pedro, o Romano, e que a sua ascensão ao trono papal será o prenúncio do Apocalipse.

2027: o ano do fim do mundo?
Uma das interpretações da profecia sugere que o fim do mundo ocorrerá 442 anos depois de 1585, o que nos leva ao ano de 2027. Embora não exista uma explicação clara para esse cálculo, algumas teorias apontam para a soma de períodos simbólicos encontrados noutras profecias, incluindo as de Nostradamus.
Além disso, a atual instabilidade global tem alimentado o receio de um grande colapso. A guerra na Ucrânia, as tensões entre os Estados Unidos e a China e os constantes conflitos no Médio Oriente levam alguns a temer que uma nova guerra mundial possa estar iminente. Para os mais supersticiosos, estes eventos parecem alinhar-se com as profecias que preveem tempos difíceis para a humanidade.
Facto ou ficção? O debate entre historiadores
Apesar da popularidade das profecias de São Malaquias, muitos historiadores e especialistas em religião consideram-nas uma fraude. Uma das principais razões para o ceticismo é que a precisão das descrições é muito maior para os papas anteriores a 1590, enquanto os papas posteriores são descritos de forma muito mais vaga e ambígua.
Segundo investigações, há indícios de que a profecia foi fabricada no século XVI com o objetivo de influenciar a eleição papal da época. Especificamente, acredita-se que tenha sido escrita para favorecer a candidatura do Cardeal Girolamo Simoncelli, associando-o à profecia para legitimar a sua eleição. No entanto, a tentativa falhou, e em vez de Simoncelli, foi eleito o Papa Gregório XIV.
Além disso, a Igreja Católica nunca reconheceu oficialmente o documento como autêntico, e muitos teólogos consideram que as descrições dos papas posteriores foram ajustadas retroativamente para parecerem mais precisas do que realmente são, refere a Euronews.
Conclusão
Seja uma profecia autêntica ou uma invenção manipulada do século XVI, a Profecia dos Papas continua a intrigar e a alimentar teorias sobre o futuro da Igreja e do mundo. Para os crentes, os sinais de instabilidade global, as crises dentro da Igreja e a saúde frágil do Papa Francisco são evidências de que estamos a viver os últimos tempos. Para os céticos, tudo não passa de uma coincidência e de um jogo de interpretações forçadas.
Independentemente do que se acredita, uma coisa é certa: as profecias sempre exerceram um fascínio especial sobre a humanidade. Afinal, o desejo de saber o futuro e a busca por sinais que expliquem o presente são tão antigos quanto a própria história.
Mas será que realmente caminhamos para o fim do mundo em 2027? Ou será apenas mais uma previsão apocalíptica que, tal como tantas outras, acabará por não se concretizar?