O Nepal atravessa uma das mais graves crises sociais dos últimos anos. As ruas de Katmandu, habitualmente repletas de turistas, transformaram-se em cenários de guerra urbana, com carros incendiados, estradas bloqueadas e protestos violentos contra o governo. No meio deste caos, dois portugueses viveram momentos de puro terror, após o hotel Hilton ter sido vandalizado e consumido pelas chamas.
Uma viagem de lazer transformada em pesadelo
Para Paulo Machado e Luís Fernandes, a viagem ao Nepal deveria ser uma experiência cultural e espiritual, mas rapidamente se tornou num pesadelo marcado pelo medo e pela sobrevivência. O que começou como dias tranquilos em Katmandu culminou numa fuga desesperada, em plena noite, com apenas o passaporte e o telemóvel nas mãos.
“Estávamos preparados para sair do hotel, quando de repente o gerente bateu à porta e disse-nos que não podíamos sair. Foi nesse momento que percebemos que estávamos encurralados”, relata Paulo Machado.
O silêncio dentro das paredes em chamas
Refugiados num quarto, juntamente com uma médica e um piloto nepaleses, os dois portugueses viveram horas de silêncio forçado e medo absoluto. Cada som vindo do exterior podia significar a invasão do edifício. Vidros a estalar, portas a bater, gritos nas ruas.
“Estava toda a gente em pânico. A médica rezava, o piloto tentava manter a calma, mas nós sentíamos que não havia saída”, descreve Luís Fernandes.
O momento da decisão: fugir ou morrer
Quando alguém começou a bater com violência à porta, não havia mais tempo a perder. O grupo teve de decidir entre enfrentar o fogo ou esperar pela morte. “O piloto disse: ‘Levem o que tiverem e saiam agora’. Peguei apenas no passaporte. Não pensei em mais nada. Só queria sobreviver”, conta Paulo Machado.
Com o fogo a espalhar-se pelo hotel, atravessaram corredores cheios de fumo e correram pelas escadas, sentindo o calor das chamas a cada passo. Do lado de fora, a cidade não oferecia refúgio: estradas bloqueadas, helicópteros a sobrevoar e multidões em protesto.
A difícil procura por segurança
Após a fuga, os dois portugueses encontraram abrigo temporário na casa de um funcionário local. Porém, o drama não terminou aí. O aeroporto de Katmandu estava encerrado, os bancos fechados e os hotéis apenas aceitavam pagamentos em dinheiro vivo, algo que nem todos os estrangeiros tinham disponível.
“Ontem nem conseguimos jantar. Foi desesperante. Viemos para o Nepal com a ideia de uma viagem única e acabámos encurralados num cenário de guerra”, lamenta Paulo Machado.
A resposta insuficiente das autoridades
Contactada, a embaixada portuguesa no Nepal recomendou apenas “paciência e aguardar”. Uma resposta que, para os dois homens, foi um sinal claro de abandono, já que se encontravam numa situação limite, rodeados de violência e sem perspetivas de evacuação imediata. Este episódio reacende o debate sobre a capacidade de resposta diplomática de Portugal em cenários de crise internacional e levanta questões sobre o apoio real prestado aos cidadãos nacionais em situações de emergência fora do país.
A violência que não dá tréguas ao Nepal
As manifestações, que começaram como protestos pacíficos contra a censura das redes sociais e a corrupção das elites políticas, rapidamente degeneraram em confrontos sangrentos. A polícia respondeu com violência extrema, provocando pelo menos 19 mortos e centenas de feridos.
Nas ruas de Katmandu, os sinais da violência são visíveis: carros queimados, edifícios vandalizados, lojas saqueadas e milhares de pessoas em fuga. O Nepal, conhecido mundialmente pela sua hospitalidade e pelas paisagens do Himalaia, encontra-se mergulhado numa instabilidade sem precedentes.
@sanjeet.nelsondrummer Condition of Hilton hotel after people took over the building… @hilton
Quando as férias se transformam em luta pela sobrevivência
O caso destes dois portugueses é apenas um exemplo da fragilidade que qualquer turista pode enfrentar em destinos que, de um momento para o outro, se tornam cenários de conflito. O contraste é gritante: de uma viagem planeada para momentos de lazer e descoberta cultural, para uma realidade de medo, insegurança e luta pela vida.
Reflexão final
Mais do que uma simples notícia, esta história é um alerta para todos os viajantes. Num mundo em permanente mudança, marcado por instabilidade política e social, a segurança deve estar no centro de qualquer planeamento de viagem. Para Paulo e Luís, o Nepal ficará para sempre gravado na memória, não pelas suas montanhas ou templos, mas pelo horror de uma noite em que tudo o que importava era sobreviver.