A história aeroespacial portuguesa está prestes a ganhar um novo capítulo. Depois de décadas de ambição, avanços tímidos e projetos interrompidos, Portugal avança finalmente para um momento que promete redefinir o seu posicionamento internacional: o primeiro lançamento de um foguetão a partir de território nacional.
Num contexto global em que cada país procura assegurar o seu espaço no setor aeroespacial, este passo não é apenas simbólico — é estratégico, tecnológico e económico. E acontecerá num lugar que até agora se associava à tranquilidade rural: a ilha de Santa Maria, nos Açores, mais precisamente na zona isolada de Malbusca, onde está a nascer o primeiro porto espacial português.
Malbusca: do silêncio rural ao palco da exploração espacial
O portal meteorológico Meteored confirma: Malbusca foi escolhida devido a um conjunto raro de condições — segurança, baixa densidade populacional, clima favorável e excelente controlo aéreo e marítimo.
Estas características são tão valiosas que colocam esta localidade dos Açores acima de muitos locais europeus frequentemente associados à exploração espacial.
É deste cenário remoto que o Perun, um foguetão suborbital de 11,5 metros criado pela empresa polaca Space Forest, irá partir para o espaço na primavera de 2026. Será o primeiro foguetão da história a atingir o espaço com origem em Portugal, um marco que transporta consigo mais de três décadas de sonho tecnológico.
2027 traz a missão mais ambiciosa: o Space Rider chega a Portugal
Se 2026 ficará marcado como o ano do primeiro lançamento suborbital, 2027 promete algo ainda maior: a aterragem do Space Rider, o primeiro sistema europeu reutilizável de transporte espacial não tripulado, desenvolvido pela Agência Espacial Europeia (ESA).
Trata-se de um feito de enorme complexidade técnica. O Space Rider funcionará como uma espécie de laboratório orbital capaz de regressar à Terra e ser reutilizado, permitindo experiências científicas em microgravidade que poderão impulsionar áreas como:
- Biomedicina
- Farmacêutica
- Física avançada
- Tecnologias aeroespaciais
- Novos materiais
E a aterragem inaugural acontecerá precisamente em Santa Maria, projetando os Açores como um dos centros operacionais mais relevantes da Europa no domínio aeroespacial.
Três décadas de ambição: o caminho até aqui não foi fácil
Sonhar com espaço não é novo em Portugal. A ideia de integrar o país na rota das missões espaciais remonta aos anos 90, mas apenas recentemente existiram passos concretos. Em 2024, pela primeira vez, foram realizados testes com foguetões atmosféricos Gama, que atingiram cerca de 5 quilómetros de altitude através de uma plataforma móvel instalada na ilha. Estes ensaios abriram caminho ao projeto em curso, demonstrando que o território tem condições reais para acolher missões mais ambiciosas.
O que está a ser construído no porto espacial dos Açores
O futuro porto espacial está a ser desenhado para responder às exigências das missões europeias e internacionais. Entre as infraestruturas em desenvolvimento incluem-se:
- Plataformas fixas de lançamento
- Centros de controlo de voo
- Hangares técnicos
- Áreas de preparação científica
- Equipamentos de segurança e certificação
O objetivo final: criar um hub espacial capaz de operar regularmente a partir dos Açores, tornando Portugal um ponto estratégico para missões suborbitais e, futuramente, orbitais.
A coordenação do projeto está a cargo do Atlantic Spaceport Consortium, que reúne empresas portuguesas como a Optimal Structural Solutions e a Ilex Space, sediadas na região de Lisboa, ambas já envolvidas em contratos para os primeiros lançamentos.
2027 será o ano do maior desafio português no espaço
O lançamento do Perun será histórico, mas o momento mais exigente ocorrerá no ano seguinte, com a aterragem controlada do Space Rider em Santa Maria — uma operação de enorme complexidade, que colocará Portugal no centro da inovação aeroespacial europeia.
Na missão inaugural seguirá uma experiência científica desenvolvida pelo Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas da Universidade de Coimbra, dedicada à observação de raios gama, radiação e fenómenos atmosféricos, com o apoio da Agência Espacial Portuguesa. É ciência portuguesa a bordo de um veículo europeu que aterrará… também em Portugal.
Portugal e o futuro: os Açores como porta de entrada para o espaço
Malbusca prepara-se para deixar de ser apenas um local tranquilo: tornar-se-á um dos pontos estratégicos mais promissores da Europa. O impacto será científico, económico, tecnológico e até turístico.
A médio e longo prazo, o Space Rider poderá funcionar como um verdadeiro laboratório orbital português, ampliando a capacidade nacional de investigação em microgravidade e atraindo projetos internacionais para os Açores, explica o Postal.
Assim, Portugal deixa de ser apenas um observador no panorama aeroespacial mundial — passa a ser um protagonista.
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