Isabel de Aragão, filha de D. Pedro III de Aragão e de Constança da Sicília, foi uma das figuras mais marcantes da história portuguesa, não apenas pela sua posição como rainha consorte de D. Dinis, mas também pela sua piedade, dedicação aos mais pobres e capacidade de mediadora em tempos de conflito.
Casou-se com D. Dinis em 1282, consolidando uma aliança política e cultural entre Aragão e Portugal. Durante o seu reinado, ganhou fama de santa pela sua caridade incansável e pela influência pacificadora que exerceu em momentos de crise.
Após a morte de D. Dinis em 1325, Isabel retirou-se para o Convento de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, onde continuou a sua vida de oração e serviço aos necessitados. Foi beatificada em 1516 e canonizada em 1625, recebendo o título de Rainha Santa Isabel.
O Milagre das Rosas: entre a lenda e a fé
A história mais conhecida associada à Rainha Santa Isabel é o famoso milagre das rosas, uma narrativa que perpetua a imagem de Isabel como um ícone de devoção e bondade. Segundo a lenda, D. Dinis proibiu Isabel de distribuir esmolas aos pobres, temendo que isso prejudicasse os cofres do reino.
Contudo, a rainha, movida pela sua profunda compaixão, continuou a ajudar os necessitados em segredo, levando pão escondido no seu regaço. Num frio dia de janeiro, D. Dinis confrontou-a, questionando o que levava consigo. Isabel respondeu com serenidade: “São rosas, senhor”.
Quando o rei insistiu para que ela mostrasse o conteúdo, o pão transformou-se milagrosamente em belas rosas, impossíveis de existir naquela época do ano.
Esta lenda tem variações: em algumas versões, o pão é substituído por moedas de ouro; outras localizam o evento em cidades diferentes, como Coimbra, Estremoz ou o castelo do Sabugal.
Embora o milagre não tenha fundamentos históricos concretos, o registo mais antigo encontra-se num retábulo do século XV, preservado no Museu da Catalunha. A lenda foi transcrita pela primeira vez em 1562 por Frei Marcos de Lisboa, na sua “Crónica dos Frades Menores”.
Curiosamente, o milagre das rosas não é exclusivo de Isabel de Aragão; relatos semelhantes são atribuídos a Santa Isabel da Hungria, sua tia-avó, e outras santas europeias, como Santa Cacilda e Santa Zita.
Factos históricos por trás da lenda
Apesar de a lenda ser uma criação posterior, baseia-se em aspetos reais da vida de Isabel. A rainha era conhecida pela sua generosidade e dedicação à caridade, distribuindo pão, dinheiro e apoio aos mais necessitados. Contrariando a imagem de um D. Dinis severo, sabe-se que o rei também praticava atos de caridade, sendo ambos um casal exemplar no cuidado com os desfavorecidos.
Além das suas obras sociais, Isabel teve um papel político relevante. Durante o reinado de D. Dinis, interveio como mediadora em conflitos internos, o mais significativo dos quais entre o rei e o seu filho, o futuro D. Afonso IV.
Este ressentia-se dos favores concedidos pelo pai ao seu meio-irmão bastardo, levando a uma tensão que quase resultou numa guerra civil. Isabel, com a sua sabedoria e diplomacia, conseguiu reconciliar pai e filho, evitando derramamento de sangue.
Após a morte de D. Dinis, Isabel manteve a sua influência política, intervindo em disputas entre Portugal e Castela. A sua capacidade de promover a paz e o entendimento fez dela uma figura respeitada tanto no âmbito nacional como internacional.
Legado e santidade
A devoção da Rainha Santa Isabel atravessou séculos, consolidando-se na cultura portuguesa. O Convento de Santa Clara-a-Velha, onde passou os últimos anos da sua vida, tornou-se um símbolo da sua espiritualidade, revela a VortexMag.
A canonização em 1625 foi o reconhecimento oficial da Igreja pela sua vida exemplar e pelos milagres a ela atribuídos. Hoje, Isabel de Aragão continua a ser venerada como padroeira de Portugal e modelo de caridade e pacificação.
A história de Isabel é um testemunho da força e influência que uma mulher piedosa e determinada pode exercer, mesmo num contexto histórico dominado por homens. A lenda do milagre das rosas, independentemente da sua veracidade, simboliza o poder da fé e da bondade em transformar vidas e inspirar gerações.
Faltou referir que o seu corpo se mantém ainda hoje indeteriorado pelo tempo e isso é um dos milagres e Ela atribuídos.