Num mundo onde o tempo corre contra nós, os oceanos, silenciosos e pacientes, preparam-se para reclamar o que um dia lhes pertenceu. Um novo e inquietante estudo, publicado na revista Communications Earth and Environment, vem lançar uma luz sombria sobre o nosso futuro: mesmo que o aquecimento global se mantenha abaixo dos 1,5°C, milhões de pessoas serão forçadas a abandonar as zonas costeiras num cenário de migração interna em massa.
O alerta é claro e dramático: a subida do nível do mar está a tornar-se incontrolável. Não é uma ameaça distante ou abstrata. Está a acontecer agora — “dentro do tempo de vida dos nossos jovens”, como sublinha o investigador Chris Stokes, da Universidade de Durham. A perda de gelo na Gronelândia e na Antártida, que já quadruplicou desde a década de 1990, é agora o principal motor desta subida imparável.
Mesmo com ações drásticas de redução de emissões, os mares continuarão a subir 1 cm por ano até ao final do século, ultrapassando a capacidade humana de construir defesas costeiras. Com um aquecimento global projetado entre 2,5°C e 2,9°C, os pontos de rutura ecológica estão à beira de ser ultrapassados, condenando-nos a um cenário onde a subida do mar poderá atingir os 12 metros.

É uma realidade devastadora: hoje, cerca de 230 milhões de pessoas vivem a menos de 1 metro acima do nível atual do mar, e mil milhões estão abaixo dos 10 metros. Apenas 20 cm adicionais até 2050 poderiam causar danos de 910 mil milhões de euros por ano nas principais cidades costeiras. As consequências serão devastadoras para milhões de vidas, meios de subsistência e para a própria ordem social e económica global.
Portugal, com a sua extensa costa e comunidades ribeirinhas, será duramente atingido. Setúbal, Faro (com a vulnerável Ria Formosa), Aveiro (particularmente a zona da Ria), bem como Lisboa — nomeadamente o Terreiro do Paço, Cais do Sodré e Alcântara — são zonas identificadas como estando em elevado risco. Carlos Antunes, especialista da Faculdade de Ciências de Lisboa, estima que o mar em Portugal já subiu 23 cm desde o início do século passado e poderá atingir 44 cm até 2050.
O limite dito “seguro” para a adaptação humana situa-se num aumento máximo de 1 cm por ano. Acima disso, como alerta o investigador Jonathan Bamber, da Universidade de Bristol, “tornamo-nos incapazes de adaptar-nos — e enfrentamos uma migração terrestre massiva numa escala nunca antes testemunhada na história da civilização”.
Este estudo, sustentado por dados de milhões de anos e observações recentes, desenha um futuro onde, mesmo que consigamos reduzir drasticamente as emissões e remover CO₂ da atmosfera, as calotes polares levarão séculos ou milénios a recuperar. A terra perdida ao oceano poderá nunca mais ser reconquistada — a não ser que a Terra entre numa nova era glacial.
Andrea Dutton, da Universidade de Wisconsin-Madison, lembra-nos que da última vez que os níveis de CO₂ estavam tão altos como hoje — há cerca de 3 milhões de anos — o mar estava entre 10 a 20 metros acima do atual. É uma lição do passado com implicações alarmantes para o presente.
Será coincidência… ou destino?
A pergunta ecoa, pungente, perante a inércia coletiva. Estaremos condenados a assistir, impotentes, ao mar engolir as nossas cidades, a nossa história, o nosso lar? Ou seremos finalmente capazes de agir com a urgência e coragem que este momento exige? O mar está a subir. E com ele, sobe também a maré da responsabilidade de cada um de nós.
E se não bastasse o mar, vêm também as tempestades
Com o aquecimento global, a frequência e intensidade de fenómenos extremos — tempestades, chuvas torrenciais, marés vivas — agravam ainda mais o risco. As infraestruturas costeiras, muitas já envelhecidas e mal preparadas, tornam-se frágeis perante este novo cenário. Não falamos apenas de perder terreno ao mar. Falamos de escolas, hospitais, habitações, linhas férreas e estradas submersas em poucos minutos.
A erosão costeira já consome praias inteiras, como vemos na Costa da Caparica ou em Espinho, e não tarda a avançar para zonas urbanas. As soluções temporárias — enrocamentos, reenchimento de areia, muralhas — revelam-se cada vez mais inúteis perante a força imparável das águas. A natureza exige mais do que remendos: exige respeito e ação verdadeira.
O drama humano por detrás dos números
Quando falamos em milhões de desalojados, não falamos apenas de estatísticas. Falamos de famílias obrigadas a abandonar a casa onde viveram toda a vida. De pescadores que veem o seu sustento afundar-se. De crianças que crescem a ver o mar mais próximo a cada ano — e com ele, o medo.
O impacto psicológico desta transformação é profundo. O sentimento de impotência, de perda, de constante incerteza corrói o bem-estar das populações. O aumento da ansiedade ecológica, sobretudo entre os jovens, torna-se um reflexo legítimo da angústia coletiva.
Mas ainda há tempo
Segundo o ZAP aeiou, cada décimo de grau de aquecimento que conseguirmos evitar conta. Cada ação política corajosa, cada inovação tecnológica, cada gesto individual de redução da nossa pegada ecológica pode atrasar o avanço das águas. Não se trata apenas de salvar terras — trata-se de salvar histórias, culturas, comunidades.
Estamos perante um momento decisivo da humanidade. A escolha é nossa: esperar pela maré ou construir o futuro.
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Claro que estou plenamente de acordo com o alerta … para o qual tenho vindo a chamar a atenção há cerca de 30 anos … o que pode ser facilmente verificado !!! … Evidentemente que a autarquia da minha terra … ainda não percebeu a trágica gravidade da situação … continuando a “despejar” pedra sobre a orla costeira … e tentando fazer crer á população … que resolve o gravíssimo problema … só pensando nos votos de mais uma eleição !!! … Estou cansado de dizer e escrever que a questão da defesa da costa … entre Espinho e a Figueira da Foz não tem solução … APENAS PODE SER ATRASADA !!! … Nunca será despejando pedra na praia … que o meu Furadouro poderá ser preservado da extinção !!! … Para atrasar o desaparecimento de muitas povoações e cidades … terá de haver um programa de defesa … que seja posto em prática de Espinho á Figueira da Foz !!! … Aquilo que estão a fazer atualmente … só interessa aos fornecedores da pedra e … talvez áqueles que a mandam despejar !!! … Nunca será demais pedir e ouvir a opinião dos holandeses … altamente especializados nestes assuntos !!! … Será muito difícil entender … e perceber esta gravíssima tragédia anunciada … com tantos anos de antecedência ???