Israel participa no Festival Eurovisão da Canção desde 1973 e já conquistou quatro vitórias históricas. Contudo, em pleno cenário de guerra na Faixa de Gaza, a sua presença no concurso europeu tem levantado fortes polémicas e dividido a opinião pública. Vários países, incluindo a Irlanda, a Islândia e a Espanha, ameaçaram mesmo retirar-se do festival caso Israel não seja expulso. Mas, afinal, porque é que Israel continua a participar no certame, quando a Rússia foi excluída pouco depois da invasão da Ucrânia?
Porque é que Israel participa num concurso europeu?
A Eurovisão não é um evento apenas da União Europeia, mas sim da União Europeia de Radiodifusão (UER), um organismo que integra membros de várias regiões além da Europa.
Para além dos países europeus, também fazem parte desta organização Estados do Médio Oriente, do Norte de África e até do Cáucaso e da Ásia Central. É por isso que Israel, tal como a Geórgia, o Azerbaijão ou a Arménia, pode participar. A sua emissora pública — atualmente a KAN — é membro ativo da UER e, por isso, tem direito a enviar artistas para o festival.
A primeira participação de Israel aconteceu em 1973 e, desde então, o país conquistou o troféu em quatro ocasiões: 1978, 1979, 1998 e 2018.
A polémica atual: guerra em Gaza e apelos à expulsão
Desde o ataque do Hamas em outubro de 2023 e a subsequente ofensiva israelita em Gaza, a presença de Israel na Eurovisão tornou-se alvo de intensas críticas.
Nas redes sociais, fãs acusaram a organização de adotar “critérios duplos”, lembrando que a Rússia foi suspensa do concurso em 2022, apenas um dia após a invasão da Ucrânia.
A UER respondeu que a Eurovisão é uma competição entre emissoras públicas e não entre governos, sublinhando que a KAN é membro da organização há cinco décadas.
Ao contrário da Rússia, que segundo a UER violou “obrigações fundamentais” e “valores dos media públicos”, Israel não foi considerado em incumprimento formal.
O que diz a organização do festival?
O diretor da Eurovisão, Martin Green, defendeu que o certame não deve ser utilizado como um trampolim para sanções políticas. “Eventos como a Eurovisão existem para recordar ao mundo o melhor que pode ser. O que importa é o que nos une, não o que nos divide”, afirmou. Ainda assim, reconheceu que compreende as “preocupações e opiniões profundamente enraizadas” sobre o conflito. A decisão final sobre a participação de cada país cabe às respetivas emissoras, que têm de confirmar a inscrição até dezembro.
Pode recordar, no vídeo abaixo, todas as participações de Israel na Eurovisão:
Países em confronto: desistências e ameaças
Segundo o Notícias ao Minuto, a polémica levou a que vários países ameaçassem boicotar a edição de 2026, que terá lugar em Viena. Irlanda, Países Baixos, Islândia, Eslovénia e Espanha já confirmaram ou admitiram a possibilidade de não participar caso Israel se mantenha no concurso.
Apesar disso, Israel continua a somar forte apoio popular. Na Eurovisão de 2025, em que competiu com Yuval Raphael e a canção New Day Will Rise, o país alcançou 357 pontos, ficando em segundo lugar e quase superando a vencedora Áustria, representada por JJ com Wasted Love.
O júri deu apenas 60 pontos a Israel, mas o público atribuiu 297 — um sinal claro da divisão entre especialistas e espectadores.
Eurovisão: palco de música ou arena política?
O debate em torno da participação de Israel expõe uma questão maior: até que ponto a Eurovisão consegue manter-se apenas como um festival de música? Ao longo da sua história, o concurso foi muitas vezes marcado por tensões geopolíticas, desde boicotes até trocas de votos estratégicas entre países vizinhos.
Hoje, em plena crise humanitária em Gaza, a presença israelita simboliza essa tensão entre a música enquanto linguagem universal e a política enquanto realidade incontornável. Entre aplausos e protestos, a Eurovisão continua a ser palco não só de vozes e melodias, mas também de ideologias e divisões.