A Agência Espacial Europeia (ESA) lançou um alerta de elevada importância para a comunidade científica e tecnológica internacional: uma tempestade geomagnética grave aproxima-se da Terra e poderá causar perturbações significativas em satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação. A ejeção de massa coronal — uma colossal nuvem de plasma magnetizado expelida pelo Sol — deverá atingir o planeta entre esta noite e a manhã de quinta-feira, num evento que poderá também trazer um espetáculo natural raro: auroras boreais visíveis em Portugal.
Um fenómeno poderoso vindo do coração do Sol
De acordo com a ESA, a origem deste fenómeno está numa erupção solar particularmente intensa registada na terça-feira, por volta das 10h04 (hora de Lisboa).
Pouco depois, foi observada uma ejeção de massa coronal a uma velocidade de cerca de 1.500 quilómetros por segundo — o equivalente a mais de cinco milhões de quilómetros por hora. Esta velocidade vertiginosa faz prever uma chegada rápida e um impacto considerável na magnetosfera terrestre.
Apesar da intensidade do evento, a ESA assegura que não há perigo direto para a saúde humana, já que o campo magnético e a atmosfera da Terra funcionam como barreiras protetoras eficazes contra a radiação solar.
Contudo, os riscos tecnológicos são reais: falhas em satélites de comunicação, interrupções temporárias no GPS, flutuações na rede elétrica e até perturbações nos voos transatlânticos são algumas das possíveis consequências.
A agência alerta ainda que as previsões contêm alguma margem de incerteza, uma vez que a velocidade e direção exatas das partículas solares podem variar.
Por isso, todos os centros especializados da ESA encontram-se em alerta máximo, monitorizando em tempo real o avanço da ejeção solar e preparando relatórios de impacto para infraestruturas críticas.
Quando o perigo se transforma em beleza: as auroras boreais
Se, por um lado, a tempestade solar representa um desafio tecnológico, por outro, oferece um dos mais belos espetáculos naturais do planeta. As auroras boreais, habitualmente visíveis apenas junto ao Círculo Polar Ártico, voltaram a surpreender os portugueses esta semana, iluminando os céus com tons de verde, violeta e rosa.
Este fenómeno ocorre quando partículas energéticas do Sol colidem com moléculas da atmosfera terrestre, libertando energia sob a forma de luz. Em condições normais, este fenómeno limita-se às regiões polares, mas tempestades solares intensas podem expandir a zona de visibilidade até latitudes mais baixas, como Portugal.
José Afonso, presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia, explicou à SIC que a tempestade atual, embora ligeiramente menos intensa do que a do ano passado, é uma das mais fortes dos últimos tempos. “Tempestades desta magnitude não são comuns. Estamos a atravessar uma fase de máxima atividade solar, o chamado pico do ciclo de 11 anos, durante o qual o Sol liberta grandes quantidades de energia e matéria”, refere o astrónomo.
O impacto invisível das tempestades solares
As tempestades solares podem parecer fenómenos distantes e inofensivos, mas os seus efeitos podem ser sentidos no quotidiano de milhões de pessoas.
Uma das tempestades mais severas registadas, em 1989, provocou um apagão total no Canadá, deixando milhões de pessoas sem eletricidade durante horas. Desde então, agências espaciais e governos em todo o mundo têm reforçado os sistemas de monitorização solar e proteção das infraestruturas elétricas.
Hoje, num mundo profundamente dependente da tecnologia, uma simples perturbação geomagnética pode ter efeitos em cadeia: atrasos nos transportes aéreos, falhas nos sistemas de navegação, interferências nos sinais de satélite e possíveis falhas nas redes de distribuição elétrica. A ESA e outras agências, como a NASA e o NOAA, mantêm uma vigilância constante do Sol para prever e minimizar este tipo de impactos, refere a Sic Notícias.
Um lembrete da força e fragilidade da Terra
Apesar dos riscos, há algo de profundamente poético neste fenómeno. Num planeta cada vez mais tecnológico e distante da natureza, as auroras boreais recordam-nos que a Terra continua a dançar ao ritmo do Sol.
Sob o mesmo céu onde orbitam satélites e voam aviões, repete-se um espetáculo ancestral, testemunho da ligação indissociável entre o nosso planeta e a estrela que lhe dá vida.
Nas próximas horas, os céus portugueses poderão transformar-se num palco de cores e luzes etéreas, oferecendo um momento raro de contemplação — e um lembrete de que, mesmo com toda a nossa tecnologia, continuamos sujeitos à imensidão e ao poder do cosmos.




