Com a chegada dos dias quentes, as praias portuguesas enchem-se de banhistas em busca de sol e mar. Mas entre mergulhos e passeios à beira-mar, há um inimigo silencioso à espreita: o peixe-aranha. Pequeno, discreto e venenoso, este peixe esconde-se debaixo da areia, especialmente em zonas de maré baixa, e a sua picada pode transformar um dia de praia numa verdadeira provação.
A dor intensa que ninguém esquece
Se já foi picado por um peixe-aranha, sabe bem a intensidade da dor: súbita, aguda, como se tivesse pisado vidro incandescente. O veneno é libertado pelos espinhos dorsais e, além da dor extrema, pode causar inchaço, hemorragia e, em casos mais sensíveis, reações alérgicas graves. Saber como agir nos primeiros minutos é essencial para evitar complicações e aliviar o sofrimento.
Calor: o melhor aliado contra o veneno
João Cavaco, nadador-salvador da Ilha de Tavira, alerta para o erro mais comum: aplicar frio. “O frio contrai os vasos sanguíneos e mantém o veneno concentrado. É um erro. O que resulta mesmo é o calor”, afirma. O procedimento recomendado é simples, mas eficaz: mergulhar a zona afetada em água quente (acima dos 40 °C) durante pelo menos 30 minutos.
Caso não haja acesso a água quente, outras fontes de calor podem ajudar: areia escaldante, passadeiras ao sol ou até mesmo compressas quentes. O importante é aplicar o calor o mais rápido possível. “A rapidez na resposta pode fazer a diferença entre uma dor que dura minutos ou uma que se arrasta durante horas”, sublinha Cavaco.
Maré baixa? Risco aumentado
É durante a maré baixa que o perigo se intensifica. Como explica o nadador-salvador, “com o mar vazio, as pessoas caminham mais com os pés no fundo e é aí que o peixe-aranha se encontra, camuflado sob a areia”. Com maré cheia, o contacto com o solo é menor e o risco diminui consideravelmente. Além disso, nos dias mais quentes há maior afluência às praias, o que aumenta a probabilidade de alguém ser atingido. Não é que o peixe-aranha apareça mais com o calor, mas sim porque há mais pessoas a circular pela sua zona de habitat natural.
Casos mais graves e sinais de alerta
Na maioria das situações, a dor e o inchaço são controláveis com calor e algum repouso. No entanto, pessoas com historial de alergias ou sensibilidade ao veneno podem ter reações mais severas, como dificuldade em respirar, tonturas ou mal-estar geral. Nestes casos, é essencial procurar assistência médica imediata.
Existem relatos de banhistas que sofreram múltiplas picadas ao pisarem acidentalmente mais do que um peixe ou ao manterem o pé na zona atingida. “Já assistimos a casos com duas ou três picadas. A dor é mais prolongada, mas o tratamento continua a ser o mesmo”, refere Cavaco.
Mitos que podem agravar a situação
Apesar de ainda persistirem crenças populares, como a ideia de urinar sobre a zona afetada, essas práticas são desaconselhadas. A urina não tem a temperatura nem as propriedades necessárias para neutralizar o veneno. Também o uso de sprays analgésicos apenas mascara os sintomas temporariamente e pode atrasar o verdadeiro alívio.

Prevenção: a melhor defesa
Para evitar ser picado por um peixe-aranha:
- Evite caminhar longos períodos com os pés assentes no fundo durante a maré baixa;
- Use chinelos ou calçado aquático quando entra no mar;
- Mantenha-se atento às zonas onde o peixe-aranha é mais comum;
- Em caso de dúvida ou sintoma, procure imediatamente um nadador-salvador.
Os nadadores-salvadores estão preparados e equipados para lidar com este tipo de ocorrências, e a sua intervenção precoce pode poupar-lhe não só dor, como sustos desnecessários.
A dor da picada de peixe-aranha: o que se sente?
Quem já foi picado por um peixe-aranha dificilmente esquece a experiência. A dor é descrita como uma queimadura intensa, muitas vezes acompanhada de uma sensação de choque elétrico. É tão repentina e violenta que há quem entre em pânico ou até perca momentaneamente o equilíbrio dentro de água, aumentando o risco de afogamento — especialmente em crianças ou pessoas com mobilidade reduzida.
Além da dor, podem surgir sintomas como:
- Inchaço localizado;
- Hematomas ou coloração roxa na zona da picada;
- Sangramento;
- Formigueiro persistente;
- Febre ligeira ou mal-estar geral (em casos menos comuns).
É importante não desvalorizar o episódio e procurar ajuda sempre que os sintomas se agravem ou persistam durante mais de 24 horas.
Crianças e idosos: atenção redobrada
Os grupos mais vulneráveis, como crianças pequenas e idosos, estão particularmente expostos aos efeitos da toxina. Nestes casos, mesmo uma única picada pode provocar reações exageradas, com dor mais intensa, maior inchaço e necessidade urgente de avaliação médica. Também pessoas com historial de alergias graves ou doenças crónicas devem ser vigiadas com especial cuidado após uma picada.
Evitar o pânico é fundamental. O apoio imediato do nadador-salvador ou de quem esteja por perto pode fazer toda a diferença no controlo da situação.
Como evitar ser picado por um peixe-aranha
A melhor forma de evitar a dor é a prevenção. Eis alguns conselhos simples, mas eficazes, que podem fazer toda a diferença nas suas férias:
- Use calçado próprio para a água: sandálias aquáticas ou sapatos de neoprene reduzem drasticamente o risco de contacto direto com o peixe.
- Evite caminhar longas distâncias com os pés no fundo durante a maré baixa.
- Pise com firmeza: em zonas propensas à presença de peixe-aranha, o impacto pode assustar o animal e fazê-lo fugir antes de ser pisado.
- Esteja atento aos avisos da praia: em algumas zonas, os nadadores-salvadores colocam bandeiras ou alertas quando há relatos de picadas recentes.
Curiosidades sobre o peixe-aranha
Apesar de temido, o peixe-aranha é uma espécie fascinante. O seu nome vem da aparência das suas espinhas dorsais, que se assemelham às patas de uma aranha. Vive enterrado na areia, com apenas os olhos e a parte superior da cabeça visível — uma camuflagem perfeita para caçar pequenos crustáceos e peixes.
É mais ativo durante os meses quentes, entre junho e setembro, o que coincide com a maior presença de banhistas no mar. Apesar de não ser agressivo, reage instintivamente ao ser pisado — o que, infelizmente, acontece com frequência nas praias portuguesas.
Quando deve ir ao hospital?
Embora a maioria das picadas de peixe-aranha se resolva com o tratamento local (água quente e repouso), existem sinais de alarme que justificam deslocação a uma unidade de saúde:
- Dor insuportável mesmo após aplicação de calor;
- Inchaço que se espalha para outras partes do corpo;
- Dificuldade em respirar ou sensação de desmaio;
- Febre alta ou vómitos.
Nestes casos, é essencial procurar ajuda médica imediata.
Conclusão: um verão mais seguro começa com informação
A picada do peixe-aranha é um perigo real, mas evitável, explica o Postal do Algarve. Com informação, atenção e alguns cuidados básicos, é possível minimizar o risco e manter as férias tranquilas. Nunca desvalorize a dor e, acima de tudo, confie nos profissionais que vigiam as praias — como João Cavaco, cujo conselho simples e eficaz já ajudou dezenas de veraneantes a escapar a um susto maior.
Este verão, proteja-se. O mar é para ser desfrutado… não temido.