Descubra a história da Passarola de Gusmão em 1709. Conheça o padre português que se tornou no primeiro homem do mundo a voar.
Ao longo da história de Portugal, muitos portugueses destacaram-se, conseguindo feitos que os colocaram na lista das personalidades ilustres que transformaram a visão que se tinha do mundo.
Um desses portugueses era Padre e conseguiu evidenciar-se numa área inesperada. Este português não nasceu em Portugal, mas passou boa parte da sua vida no nosso país. Conheça melhor os feitos deste português que conquistou o seu lugar na história com a sua criatividade e engenho.
Passarola de Gusmão: foi um português o primeiro homem do mundo a voar
A pessoa
Foi no Brasil que nasceu Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724). O seu nascimento ocorreu no dia 18 de dezembro de 1685, em S. Paulo, mais precisamente em Santos. Ele teve como irmão um político e diplomata chamado Alexandre de Gusmão (1629-1724).
Tornou-se português
Bartolomeu de Gusmão nasceu no Brasil. No entanto, veio para Portugal em 1701, quando era um adolescente de 16 anos. Posteriormente, pouco após chegar ao nosso país, Bartolomeu regressou ao Brasil.
Bartolomeu de Gusmão tinha 23 anos quando regressou a Portugal no ano de 1708. O seu regresso deve-se ao desejo de fazer o curso de Cânones da Universidade de Coimbra. Foi na Universidade Portuguesa que Bartolomeu de Gusmão desenvolveu estudos de Física e Matemática.
Formação e talentos
Bartolomeu Lourenço de Gusmão realizou os seus estudos no Seminário jesuíta de Belém, mais precisamente na freguesia de Cachoeira, Capitania da Baía. Enquanto esteve no Seminário de Belém, Bartolomeu Lourenço de Gusmão interessou-se pelo estudo da Física.
Cedo Bartolomeu revelou ter talento nesta matéria, particularmente para criar invenções. Uma das suas primeiras invenções foi a criação de uma máquina de elevação de água. Esta conseguia ser elevada até 100 metros de altura.
A obra sonhada
Fernando Pessoa é um nome ilustre da história da Literatura Portuguesa, por isso não faltam frases marcantes que nos continuam a alimentar. Uma delas é pertinente para o presente artigo: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
Esta afirmação não está destinada a um homem só, mas parece servir na perfeição a um homem português, que foi um homem próximo de Deus, que foi padre e que criou uma obra que ficou para a história.
O padre português foi um daqueles homens distintos que foi guiado pelos seus sonhos e que com a sua determinação conseguiu elevar a humanidade. Este português superou as limitações do seu tempo histórico.
Bartolomeu de Gusmão foi um homem que ousou sonhar voar e elevou a humanidade!… Conheça o inventor da Passarola, o padre que se tornou o primeiro homem a voar.
O sonho do homem
Bartolomeu de Gusmão era um homem ambicioso. Alguém que batalhava pelos seus sonhos. No entanto, por vezes, os homens sonham com o impossível. Depois tratam de tornar o impossível (aparentemente) em possível. Este português acreditava convictamente que podia voar.
Contudo, Bartolomeu de Gusmão não se limitava a sonhar. O padre queria comprovar que era possível fazê-lo, por isso arriscou e trabalhou para realizar o seu sonho. Embora existam historiadores que defendam que o voo de Bartolomeu tenha sido uma lenda, outros historiadores defendem outra posição, que esse momento tenha sido verdade.
O plano
Bartolomeu de Gusmão criou planos para construir uma máquina voadora. O padre jesuíta criou uma máquina que ficou conhecida como Passarola. Bartolomeu de Gusmão realizou uma invenção que o tornou conhecido como o “padre voador”. Foi assim que colocou o seu nome na história.
A Passarola de Gusmão
Bartolomeu de Gusmão foi o cientista e inventor que criou a primeira aeronave conhecida no mundo a realizar um voo. O padre português criou a Passarola. Assim foi batizada a sua invenção que ficou com o nome do seu criador. Era a Passarola de Gusmão. No entanto, as caraterísticas técnicas da Passarola de Gusmão não são inteiramente conhecidas.
A influência
Leonardo da Vinci terá desenhado a primeira máquina voadora, feito realizado no século XVI. No entanto, não há provas que tenha tentado materializar esse desenho. Por isso, é seguro dizer que foi o padre Bartolomeu o primeiro homem a inventar um aeróstato.
A sua invenção permitiu que Bartolomeu ficasse na história da aviação. Foi um pioneiro nesta área por ter inventado um aeróstato.
Concorrência
Sabe-se que o voo realizado terá sido realizado no ano de 1709, 74 anos antes do famoso balão dos Montgolfier. Os irmãos Montgolfier realizaram várias experiências no ano de 1783.
Primeiro, eles fizeram subir um balão de ar aquecido. Ele transportava três animais. Os Irmãos Montgolfier construíram ainda o primeiro balão tripulado do Mundo. Joseph-Michel Montgolfier e Jacques-Étienne Montgolfier foram os dois irmãos inventores franceses que criaram esta invenção. O primeiro balão tripulado elevou Jacques-Étienne Montgolfier aos céus no dia 5 de junho de 1783.
A criação da Passarola
A informação que se tem da Passarola é escassa. O próprio desenho que existe da Passarola de Gusmão deixa sérias dúvidas que seja o original. O padre Gusmão fez uma petição ao rei D. João V na sequência dos estudos que realizou sobre aerostação, em 1708. Ele quis mostrar ao rei aquilo que designou como “instrumento de andar pelo ar”.
O padre teve o assentimento do rei, além disso, também foi concedido um financiamento. Por isso, o padre cientista dedicou-se a tempo inteiro ao seu projeto, ficando na Quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira, (Lisboa).
Relacionamento com o rei
Bartolomeu de Gusmão conseguiu apresentar a sua invenção, após dirigir uma petição a D. João V, em 1709. O relacionamento com o rei estreitou-se após ter anunciado a descoberta de “um instrumento para se andar pelo ar da mesma sorte que pela terra e pelo mar”.
Foi por via de alvará de 19 de abril de 1709 que o rei D. João V concedeu a Bartolomeu de Gusmão o privilégio de desenvolver e apresentar o seu instrumento.
A primeira apresentação
A Passarola de Gusmão foi apresentada perante uma assistência ilustre. Entre as pessoas que assistiram ao momento na Sala dos Embaixadores da Casa da Índia, estavam o Rei e a Rainha, o Núncio Apostólico, o Cardeal Conti (futuro papa Inocêncio XIII), membros do Corpo Diplomático (tal foi referido em documentos da época) e toda a Corte Portuguesa.
Nesse momento, o padre cientista fez subir até ao teto da sala um balão aquecido com ar. Bartolomeu tornou-se num nome importante ao apresentar nesse dia o seu primeiro engenho. A sua invenção foi capaz de se elevar no ar, entusiasmando a plateia. O balão de papel de Bartolomeu encontrava-se cheio de ar quente. A invenção do padre português elevou-se uns 4 metros.
O padre cientista realizou várias experiências com balões de ar aquecido. Parte delas foi realizada na presença de D. João V e da respetiva corte. Convém ter também em conta que foram desenvolvidas mais experiências com aeróstatos na segunda metade do século XVIII.
A apresentação da Passarola
Bartolomeu de Gusmão concentrou-se posteriormente no desenvolvimento da versão maior, já tripulada. Esta invenção foi batizada com o nome “Passarola”. Ficou conhecida como a Passarola de Gusmão. O enorme balão do padre português foi lançado da Praça de Armas do Castelo de S. Jorge, em Lisboa.
A Passarola voou cerca de 1 Km, possivelmente levando no seu interior o seu inventor. Voou até ao momento de aterrar no Terreiro do Paço. Após esse momento, Bartolomeu de Gusmão ficou conhecido como “O Padre Voador”.
Ele tornou-se um dos pioneiros da aeronáutica. O acontecimento foi notável e histórico para a época em que Bartolomeu vivia. Devido a este feito o seu nome Bartolomeu de Gusmão foi falado em diversos países.
Partida e regresso
Bartolomeu de Gusmão partiu para a Holanda em 1713 com a intenção de desenvolver as suas experiências. O padre português sentiu necessidade de regressar a Portugal em 1716. Bartolomeu de Gusmão regressou ao nosso país para concluir o curso universitário (que tinha interrompido) em 1720.
Bartolomeu de Gusmão foi nomeado académico, após ser fundada a Academia Real de História em 1720. Posteriormente, o rei D. João V colocou o padre português na Secretaria de Estado. Bartolomeu de Gusmão foi nomeado fidalgo-capelão da casa real.
O rei concedeu ao padre cientista rendimentos no Brasil. Ele foi encarregue pela Academia de escrever a História do Bispado do Porto em português.
A morte
Pouco antes de Bartolomeu de Gusmão morrer, ele converteu-se ao judaísmo. Bartolomeu de Gusmão fugiu para Espanha em 1724, para evitar as perseguições de que era alvo por parte da Inquisição.
Bartolomeu de Gusmão faleceu nesse ano, em plena fuga. Acabou por falecer num hospital de Toledo, Espanha. Bartolomeu de Gusmão morreu novo, a um mês de completar 40 anos, no dia 18 de novembro de 1724.
A inspiração
Bartolomeu de Gusmão e o voo da Passarola inspiraram José Saramago. No romance do Nobel português, é apresentado o sonho do padre luso brasileiro. Na mítica obra “Memorial do Convento”, o voo da Passarola é materializado na perfeição. Naturalmente, que o escritor misturou personagens históricos com ficção.
José Saramago retrata Bartolomeu Lourenço de Gusmão e aproveita o momento do apadrinhamento do rei D. João, em que o padre lhe mostra o plano da Passarola. Na obra “Memorial do Convento” de José Saramago, a Passarola cruza mesmo os céus de Lisboa, de Mafra e da serra de Montejunto.
Contudo, para esse acontecimento se materializar, a passarola necessita da força de Baltasar (sete sóis) e dos incríveis poderes de Blimunda (sete luas). Após conseguir recolher as vontades humanas, estas são transformadas em éter e consegue, desta forma, ficar acima da Terra. Há, portanto, muito magia nesta obra memorável!
Bibliografia
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