O Palácio de Fronteira, embora não seja completamente desconhecido, é um dos mais belos e fascinantes palácios de Lisboa. Situado em São Domingos de Benfica, nas proximidades do Parque Florestal de Monsanto, este edifício destaca-se não apenas pela sua história rica, mas também pela sua impressionante azulejaria e belíssimos jardins formais. Apesar da sua relevância patrimonial e artística, o palácio ainda é pouco visitado pelos portugueses, atraindo sobretudo turistas estrangeiros que o descobrem através de guias turísticos e rankings internacionais.
Uma casa de campo com história
O Palácio de Fronteira foi construído no século XVII como uma casa de férias e pavilhão de caça para D. João de Mascarenhas, 2.º Conde da Torre e 1.º Marquês de Fronteira.
A sua localização em São Domingos de Benfica, então um ambiente campestre e longe do bulício da cidade, proporcionava um refúgio ideal para a aristocracia da época. A distância de cerca de três horas a cavalo do Chiado, onde se situava a residência oficial da família, era considerada conveniente para escapadelas prolongadas.
Com o Terramoto de 1755, a residência principal da família, situada no Chiado, foi destruída. Contudo, o Palácio de Fronteira permaneceu praticamente intacto, levando a família a transferir-se definitivamente para esta propriedade.
Esta mudança resultou em alterações significativas no palácio, incluindo a adição de uma nova ala, o encerramento de varandas para criar mais espaço e a introdução de tetos de estuque elaborados, conferindo-lhe o estilo mais sofisticado que conhecemos hoje.
A azulejaria: um património único
Se há algo que define o Palácio de Fronteira é a sua magnífica azulejaria. No interior, destacam-se espaços emblemáticos como:
- A Sala das Batalhas, onde se encontram representados episódios das Guerras da Restauração (1640-1668), nas quais D. João de Mascarenhas teve um papel destacado.
- A Sala dos Painéis, que exibe azulejos holandeses do século XVII, atribuídos a Adriaen van Oort e ao seu filho Jan van Oort, sendo os primeiros registos conhecidos de azulejos exportados da Holanda para Portugal.
- Salas mais intimistas, como aquelas que abrigam relíquias como a mesa de costura oferecida por Maria Antonieta à 4.ª Marquesa de Alorna, D. Leonor de Almeida, uma figura notável pela sua poesia e envolvimento nas lutas políticas da época.
No exterior, a riqueza dos azulejos estende-se a espaços como o terraço monumental, adornado com painéis representando as sete artes liberais, pequenas cenas satíricas e estátuas gregas. Um dos destaques é o Tanque dos Cavaleiros, cujos azulejos de inspiração velasquiana representam figuras equestres de desenho erudito.
A azulejaria do palácio é única não apenas pelo volume e qualidade, mas também porque muitos dos painéis permanecem no seu local original, mesmo em áreas expostas às intempéries, como o terraço e os jardins.
Os Jardins: uma obra de arte ao ar livre
Os jardins do Palácio de Fronteira são uma verdadeira obra-prima. O mais icónico é o jardim formal, desenhado no século XVII e inspirado nos jardins italianos do Renascimento. Este espaço é composto por elaborados canteiros de buxo geométricos, um enorme lago central e esculturas que celebram a realeza portuguesa, visíveis na Galeria dos Reis.
Outro espaço notável é o jardim de cima, acessível a partir do terraço do palácio. Apesar de menos monumental, oferece um ambiente intimista e encantador, ideal para contemplação.
Os jardins do Palácio de Fronteira têm merecido reconhecimento internacional, tendo sido destacados no livro The Gardener’s Garden como um dos 250 melhores jardins do mundo e incluídos no top 10 pela revista Condé Nast Traveler, o que ajuda a explicar a grande afluência de turistas estrangeiros.
Lendas e curiosidades
O Palácio de Fronteira está repleto de histórias e lendas curiosas. Uma das mais célebres conta que, durante a inauguração do palácio, o 1.º Marquês de Fronteira convidou D. Pedro II para um grande banquete. No final, ordenou que toda a loiça usada fosse partida, sendo os fragmentos utilizados na decoração das paredes da capela. Esta técnica, conhecida como embrechados, combina pedaços de porcelana com pedras e conchas, criando padrões decorativos únicos.
Outro facto curioso é o papel desempenhado pelo 12.º Marquês de Fronteira, Fernando Mascarenhas, conhecido como o “marquês vermelho”. Durante o Estado Novo, o palácio serviu como palco para reuniões clandestinas contra o regime, o que levou Fernando a ser interrogado pela PIDE. Foi também graças a ele que o palácio abriu ao público, com a criação da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna nos anos 80, promovendo eventos culturais e educativos.
Visitas ao Palácio de Fronteira
Hoje, o Palácio de Fronteira mantém a sua dupla função como residência da família Mascarenhas e monumento nacional, classificado desde 1982. A ala habitada pela família não é acessível ao público, mas grande parte do palácio e dos jardins pode ser visitada.
- Horários: O espaço está aberto para visitas nas manhãs, enquanto as tardes são reservadas para uso privado dos residentes.
- Preços: A entrada custa 9 euros, com acesso exclusivo ao jardim por 3 euros.
- Eventos: O palácio também pode ser alugado para eventos privados, como casamentos, jantares ou conferências, mantendo viva a tradição de hospitalidade e elegância que define este lugar.
Um tesouro a descobrir
Como explica o site VortexMag, o Palácio de Fronteira é um testemunho vivo da história, da arte e da cultura portuguesas. A sua arquitetura, azulejaria e jardins fazem dele um destino obrigatório para quem procura explorar a riqueza patrimonial de Lisboa. Se ainda não conhece este pequeno paraíso escondido na cidade, aproveite para o visitar e mergulhar na sua história fascinante.
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