O Padre Himalaya era um homem que tinha uma personalidade única. Era um utopista, sonhou alto e criou invenções incríveis.
Ter cerca de 900 anos de história permite a Portugal impor-se entre as nações mais fascinantes do mundo. Ao longo desse tempo, muitos foram os momentos que representaram acontecimentos históricos marcantes.
Embora seja inegável que a Era dos Descobrimentos representa a época mais dourada do nosso país, muitos outros momentos surgiram que entraram para a história. Ao longo desses quase 9 séculos de história, muitos portugueses se notabilizaram.
Foram vários os homens e mulheres a criarem feitos notáveis em diferentes áreas. Uma pessoa que merece ser mais conhecida era padre. Fique a conhecer o Padre Himalaya. Este homem tinha uma personalidade única. Era um utopista, sonhou alto e criou invenções incríveis.
Padre Himalaya, o português que criou a máquina que fazia chover
Biografia
Manuel António Gomes era o nome do homem que ficou conhecido como Padre Himalaya. Ele nasceu em Arcos de Valdevez, mais precisamente em Cendufe. Ele nasceu no dia 9 de dezembro, há mais de 150 anos.
Manuel António Gomes foi uma personalidade incomum, de grande importância, não só para o concelho arcuense, como para toda a região. Manuel António Gomes foi padre e cientista, um inventor de batina.
Os estudos
Enquanto jovem teve de lidar com as agruras de estar dependente do mecenato para prosseguir os estudos. Manuel António Gomes beneficiou do apoio de Madame Emília dos Santos.
Esta benemérita brasileira foi a primeira pessoa a financiar as suas primeiras experiências. Posteriormente, foi a Condessa da Penha Longa a prestar uma ajuda importante. Esta mulher veio a custear boa parte do projeto solar.
O fiasco
Em abril de 1902, ocorreu um momento marcante pela negativa. Manuel António Gomes tinha prometido mostrar ao rei D. Carlos a potencialidade da máquina solar. Isto era algo que ele desenvolvia desde o final do século passado em França.
No entanto, a experiência que ocorreu na Tapada da Ajuda correu mal. Segundo o biógrafo Jacinto Rodrigues, “A máquina desengonçou-se e a energia captada acabou por destruir as próprias pernas da máquina solar. Foi um fiasco, mas o Padre Himalaya era resiliente.”
Jacinto Rodrigues é uma fonte importante. O seu trabalho tornou-o no principal responsável pela reabilitação desta figura da ciência portuguesa. O Padre Himalaya é agora mais reconhecido por via do trabalho realizado por Jacinto Rodrigues nas últimas quatro décadas.
A alcunha
É comum as pessoas dizerem que tamanho não é documento, mas pode servir para complementar documentos. No bilhete de identidade de Manuel António Gomes não estava a referência à palavra Himalaya, mas foi desta forma que ficou conhecido.
Manuel António Gomes era uma pessoa alta. Foi devido à sua altura que ele ficou conhecido por Padre Himalaia. O padre ganhara essa alcunha bem-disposta no seminário. Ficou conhecido como Padre Himalaya, em virtude da sua estatura incomum para a época.
Ele era alto. Podia não chegar ao céu, mas o céu parecia o limite para a sua capacidade inventiva.
Pioneiro
Manuel António Gomes foi um dos maiores cientistas portugueses que fizeram obra na viragem do século XIX, sendo mesmo um dos mais visionários. O Padre Himalaya foi um dos pioneiros mundiais no aproveitamento da energia solar. Este português chegou a conquistar prémios internacionais devido ao seu engenho.
Invenções
O Padre Himalaya inventou engenhos extraordinários. O seu intelecto estava sempre à procura de solução para diferentes problemas. Manuel António Gomes procurou encontrar solução para problemas energéticos, ecológicos e agrícolas.
Ao longo da sua vida, o Padre Himalaya realizou diversas experiências, não só em Portugal, mas também no estrangeiro. Manuel fez experiências com engenhos estranhos que serviam para captação da energia solar. Fez outras experiências com invenções que o público nem desconfiava.
Impacto Internacional
O Padre Himalaya deixou a sua marca por vários países do mundo. O impacto do seu intelecto fez-se sentir em diversos países, nomeadamente em nações como a França, os EUA ou a Argentina.
Manuel António Gomes foi um cientista inovador, que estava sempre à procura de novas abordagens científicas e de conhecimento.
Reconhecimento
A revista Occidente enalteceu os seus feitos na edição de 10 de novembro de 1906, numa publicação em que refere o seguinte: “O Padre Himalaya é hoje uma glória portuguesa e por isso tudo o que a seu respeito se possa dizer terá para o público a curiosidade que despertam os homens privilegiados por seus talentos e obras extraordinárias.”
Prémios
Manuel António Gomes chegou a ganhar o Grande-Prémio da Exposição Mundial de Saint Louis (EUA). O seu sucesso foi conseguido com uma máquina que a propaganda da época defendia que conseguia atingir o “grau supremo de calor”. Seria o máximo possível de temperatura medida.
A sua invenção surpreendia os sábios da época e os capitalistas nos Estados Unidos da América. Desta forma, o forno solar do padre Himalaya superou a sátira inicial. O português até ficou como responsável de diversas experiências para fundir metais.
Na exposição Universal de Saint-Louis de 1904, além do grande-prémio, o inventor português arrecadou ainda duas medalhas de ouro e uma de prata. O seu sucesso não só espantou cientistas e curiosos, como conseguiu superar o presidente norte-americano Theodore Roosevelt.
Um inventor surpreendente
Manuel António Gomes deu a conhecer o potencial intelectual dos portugueses. Normalmente, em Saint Louis, apenas brilhavam cientistas do “primeiro mundo”, que se apresentavam no evento com apoios, com mecenas, com máquina de propaganda.
Contudo, ao contrário dos inventores desses países, o português apresentou-se no evento quase sem apoios, sem mecenas, sem máquina de propaganda. O artigo da revista Occidente assegurava que “O país ficou conhecido em toda a América e em todo o mundo como um país onde há mais do que vinho do Porto, cortiça e pescadores.”
Sucesso
Após ter apresentado um conjunto de invenções bem-sucedidas, o padre era em 1906 um homem reconhecido pelo pioneirismo. O sucesso numa exposição mundial permitia ao Padre Himalaya ombrear com outros grandes inventores do início do século XX. Nessa altura, já tinha várias patentes registadas.
A queda
O génio do Padre Himalaya era inquestionável. Contudo, este homem carismático revelava ser também algo ingénuo. Após ter captado a atenção de todos no meio, ele aceitou um convite para visitar os Estados Unidos depois da Exposição.
No entanto, quando regressou, percebeu que o seu engenho tinha sido vandalizado. Os azares iram fazer com que o seu destino fosse bem diferente do esperado. A sua invenção foi pilhada no final da feira de Saint Louis, em 1904.
Ele teve de lidar com uma realidade triste. A sua invenção tinha sido despojada dos 6.117 espelhos côncavos de cristal, elementos essenciais que lhe permitiam operar a máquina. Por isso, a invenção apagou-se para sempre.
Este foi um momento que levou ao seu afastamento desta área. Desde então, a memória dos feitos deste homem ficou coberta de nuvens negras.
O contexto
A história política de Portugal encontrava-se na antecâmara de uma mudança revolucionária de regime. Foi neste contexto difícil que o Padre Himalaya constatou que não tinha condições para a consolidação do génio inventor, uma vez que os anos que se seguiram foram turbulentos, cheios de golpes e revoluções.
A morte
O Padre Himalaya morreu em 1933. Nessa época, o sucesso que em tempos tinha conhecido encontrava-se esquecido, por isso os ecos dos seus sucessos e das suas invenções já se esfumavam nas brumas da história.
Durante quase quatro décadas, os seus feitos mantiveram-se esquecidos. Contudo, em 1968, aconteceu uma pequena exceção. Neste ano, celebrou-se o centenário do nascimento do Padre Himalaya e foi feita a publicação de uma pequena obra de exaltação ao padre inventor.
O investigador Jacinto Rodrigues
Este homem teve um papel importante na forma como deu ao Padre Himalaya o devido reconhecimento. Após fugir da ditadura portuguesa, Jacinto Rodrigues exilou-se em França na década de 1960.
Este investigador lecionara disciplinas de Sociologia Urbana e Organização do Território nesse país. Era um homem apaixonado por questões relacionadas com a energia e a ecologia.
Após a revolução de 1974, Jacinto Rodrigues regressou a Portugal. Quis o destino que Jacinto Rodrigues encontrasse num alfarrabista uma revista de 1905. O feliz acaso permitiu ao investigador encontrar um artigo que abordava o português pioneiro que deixara os norte-americanos em Saint Louis verdadeiramente espantados.
A investigação
Jacinto Rodrigues (atualmente catedrático aposentado da Universidade do Porto) fez primeiro uma sondagem do terreno, fruto de ser um arqueólogo do conhecimento. Ele ficou surpreendido ao constatar que pouco ou nada se sabia do Padre Himalaya.
Jacinto Rodrigues reconhece que o Padre “não era totalmente desconhecido na academia”. O investigador frisou que “existiam alguns trabalhos fragmentados sobre as suas experiências, mas a sua biografia era quase desconhecida.”
Olá coração, adeus religião
Segundo o investigador, o Padre Himalaya teve um problema grave na sua carreira eclesiástica, mais precisamente entre 1891 e 1892. Jacinto Rodrigues revelou o seguinte:
“Aparentemente, a paixoneta de uma senhora casada conduziu-o a uma reflexão sobre o seu vínculo à igreja. Era um homem muito sério, com uma postura muito interessante. Pediu para ser reduzido ao estado laical (pedido esse que seria recusado), mas essa documentação tem também o mérito de nos mostrar a sua obsessão com a ciência. Ele argumenta que, embora se mantivesse cristão, queria prosseguir as suas experiências científicas, intensificar contactos e aprofundar o conhecimento.”
Oficinas de Criatividade Himalaya
Foi criado um espaço dedicado a esta figura emblemática. As Oficinas de Criatividade Himalaya honram devidamente o legado deixado por um dos maiores cientistas e visionários portugueses da viragem do século XIX.
Esta plataforma visa a promoção da ciência e incide em várias áreas do Conhecimento muito estimadas pelo investigador, nomeadamente a Ecologia e a Eco sustentabilidade. O seu principal público-alvo são as famílias, os jovens e a comunidade escolar.
Este projeto incorpora ainda o Centro Interpretativo Himalaya, um espaço documental e biográfico, com diversos discursos tecnológicos e informativos de última geração, além de várias salas e espaços dedicados à ciência e à pedagogia. Existe ainda o “Centro da Ecocidadania” e um labirinto dedicado à figura universal do cientista.
No espaço exterior, destaca-se a presença de uma réplica do Pirelióforo, em tamanho natural, a máquina solar apresentada pelo Padre Himalaya na Exposição Universal de St. Louis de 1904.
Informações gerais
Morada: Rua Dr. Félix Alves Pereira, S/N, 4970-456 Arcos de Valdevez
Contactos: [email protected] / 258 247 326
Horário de visita:
Horário de 15 de junho a 15 de setembro
De segunda-feira a sábado das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00
Posteriormente:
De segunda a sexta-feira: das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00
Ao sábado: das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00.
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Estou encantado.