Durante séculos, os vikings, guerreiros e navegadores oriundos do Norte da Europa, aterrorizaram as costas europeias com incursões violentas e saques. Apesar de serem mais conhecidos pelas suas atividades na Grã-Bretanha, França e Escandinávia, também deixaram o seu rasto em Portugal e na Península Ibérica, com ataques que marcaram a história e a memória popular.
A primeira incursão viking e o início da era dos saques
O primeiro registo histórico sobre os vikings remonta ao casamento do rei Beorhtric de Wessex com a rainha Eadburh, quando, em 789, foram avistados barcos desconhecidos ao largo das ilhas britânicas. Beorhtric, sem saber quem eram, enviou emissários para os convidar à corte. No entanto, os vikings, em vez de aceitar a hospitalidade, mataram os enviados, mostrando a agressividade que se tornaria uma característica das suas ações.
Poucos anos depois, em 793, a pilhagem do mosteiro de Lindisfarne marcou oficialmente o início da Era Viking. Nos séculos que se seguiram, os marinheiros nórdicos expandiram-se por várias regiões do mundo, desde a Europa Ocidental até à América do Norte, passando pelo Médio Oriente e a Ásia Central.

Os vikings na Península Ibérica: da Galiza a Lisboa
Segundo a VortexMag, a primeira incursão viking na Península Ibérica ocorreu no verão de 844. Vindos da costa francesa, onde haviam saqueado regiões ao longo do rio Garrone, os vikings dirigiram-se para a Galiza, entrando na Corunha em agosto. Apesar de pouco se saber sobre este ataque, é certo que provocaram grande destruição antes de serem enfrentados pelas forças de Ramiro I, rei das Astúrias.
Muitos vikings haviam morrido numa tempestade durante a travessia para a Península, enfraquecendo o seu poderio. Os sobreviventes foram derrotados na batalha de Farum Brecatium, localizada perto da atual Corunha. Esta vitória, no entanto, não foi suficiente para dissuadir os vikings, que, semanas depois, chegaram à foz do Tejo, em Lisboa.
Lisboa: um alvo ambíguo
O ataque a Lisboa em 844 é envolto em mistério. Fontes históricas divergem quanto ao número de navios envolvidos, com algumas referindo 54 embarcações e outras sugerindo até 80. Os vikings permaneceram 13 dias na região, mas não se sabe ao certo se atacaram a cidade ou se exploraram áreas adjacentes, incluindo a margem sul do Tejo.
As razões para a demora na chegada a Lisboa são igualmente desconhecidas. Alguns historiadores acreditam que realizaram saques menores ao longo da costa, enquanto outros sugerem que a sua presença na Galiza foi mais prolongada do que inicialmente relatado.
Os vikings e o Douro: o ataque mais devastador
O maior ataque viking em território português ocorreu em julho de 1015, quando invadiram o vale do Douro. Durante nove meses, saquearam a região entre o Douro e o Ave, capturando reféns que foram vendidos como escravos. A destruição foi significativa, obrigando as populações locais a recuar para o interior e a reforçar as suas defesas costeiras.
Fim das incursões e impacto a longo prazo
A última incursão viking na Península Ibérica terá ocorrido em 1086, em Sada, na Galiza. Este ataque final, embora violento, marcou o declínio da presença nórdica na região. Com o passar do tempo, os ataques vikings foram ofuscados por outras ameaças, como as invasões muçulmanas, que dominaram a Península nos séculos seguintes.
Apesar de 200 anos de incursões, o impacto dos vikings na Península Ibérica foi relativamente limitado. Não há registo de colónias permanentes ou de integração significativa na cultura local. A construção de fortificações costeiras intensificou-se no século X, mas a maioria das cidades já enfrentava desafios constantes devido a outros conflitos.
Lendas e memórias
Embora o impacto físico tenha sido reduzido, a memória das incursões vikings persiste na cultura popular. Lendas de cidades saqueadas, reféns capturados e batalhas nas margens dos rios continuam a fazer parte da tradição oral de algumas regiões.
Conclusão
Os vikings foram um dos povos mais temidos da sua época, e a sua passagem por Portugal não foi exceção. Contudo, a sua presença na Península Ibérica foi menos marcante do que noutras partes da Europa. O legado viking em Portugal é um misto de história e mitologia, lembrando-nos de um período turbulento em que as costas do Atlântico eram constantemente ameaçadas pelos “homens do Norte”.