A máquina do Estado prepara-se para mexer nas contas dos trabalhadores da Função Pública. O que até há pouco tempo parecia um simples acerto salarial poderá transformar-se numa atualização mais robusta, capaz de ultrapassar a barreira simbólica dos 60 euros por mês já em 2026.
Segundo informações avançadas pela imprensa económica, as Finanças estão a avaliar uma revisão em alta dos aumentos previstos para o próximo ano, indo além dos 56,58 euros ou dos 2,15% que estavam inicialmente acordados.
Este sinal ganha ainda mais força tendo em conta o novo horizonte da legislatura, que se prolonga até 2029, abrindo margem para reajustar os valores em linha com as expectativas dos sindicatos e com as pressões inflacionistas que continuam a pesar sobre os orçamentos familiares.
O que muda face ao acordo inicial
O pacto de valorização salarial, que vigorou até à mudança de Governo, já tinha garantido aumentos consideráveis: entre 6,9% e 2,15% em 2024, o que se traduziu em acréscimos entre os 56,58 e os 146,63 euros para cerca de 760 mil funcionários públicos. A Base Remuneratória da Administração Pública (BRAP), o chamado salário mínimo do Estado, também subiu de 821,83 para 878,41 euros.
O calendário original previa para 2027 e 2028 novos aumentos de 60,52 euros até salários de 2.620 euros, e de 2,30% para rendimentos mais elevados. Mas com a extensão da legislatura até 2029, o cenário está a ser reavaliado. Ou seja, em vez de aumentos limitados a pouco mais de 56 euros, os trabalhadores do Estado poderão já em 2026 receber acréscimos superiores a 60,61 euros.
Lista comparativa: quanto pode aumentar o salário em 2026?
Para se perceber melhor o impacto real destes valores, veja-se quanto poderão representar os aumentos salariais em diferentes escalões de vencimento:
- Salário de 900€ → aumento previsto: +60,61€, passando para 960,61€ mensais.
- Salário de 1.200€ → aumento previsto: +60,61€, passando para 1.260,61€ mensais.
- Salário de 1.500€ → aumento previsto: +60,61€, passando para 1.560,61€ mensais.
- Salário de 2.000€ → aumento previsto: +60,61€, passando para 2.060,61€ mensais.
- Salário de 2.600€ → aumento previsto: +60,61€, passando para 2.660,61€ mensais.
- Salário acima dos 2.620€ → aumento previsto de 2,3%, o que significa:
- Para 3.000€ → +69€, totalizando 3.069€ mensais.
- Para 4.000€ → +92€, totalizando 4.092€ mensais.
- Para 5.000€ → +115€, totalizando 5.115€ mensais.
Esta lista mostra que o aumento fixo de 60,61€ terá maior impacto proporcional nos rendimentos mais baixos, enquanto os salários mais elevados beneficiam de uma atualização em percentagem.
Porque é que este aumento importa
Segundo o Notícias ao Minuto, a atualização dos salários da Função Pública não é apenas uma questão de justiça laboral. É também um fator de estabilidade social e económica. Num país em que os custos da habitação, da energia e da alimentação continuam a subir, qualquer acréscimo mensal pode significar a diferença entre viver em esforço ou recuperar algum equilíbrio financeiro.
Além disso, salários mais robustos ajudam a reter talento no setor público, cada vez mais pressionado pela concorrência do setor privado e pela fuga de quadros qualificados para outros países.
O que esperar para 2026 e além
O Orçamento do Estado para 2026 poderá trazer surpresas. Se confirmada a revisão em alta, os funcionários públicos verão os seus rendimentos reforçados já no próximo ano, num movimento que deverá manter-se até ao final da legislatura. O impacto será particularmente relevante para os escalões mais baixos, que dependem destes aumentos para fazer face ao custo de vida.
Uma medida justa ou apenas uma jogada política?
Apesar do entusiasmo que a perspetiva de aumentos acima dos 60 euros pode gerar, não faltam vozes críticas. Muitos especialistas questionam se esta revisão salarial responde, de facto, às necessidades dos trabalhadores ou se serve apenas para suavizar o descontentamento social e político num momento em que o Governo procura consolidar a sua posição.
Para alguns, trata-se de um investimento necessário na valorização da Função Pública. Para outros, é apenas uma medida eleitoralista, desenhada para agradar a um universo de mais de 700 mil trabalhadores e respetivas famílias, que representam um peso significativo no eleitorado nacional.
Seja como for, os próximos meses serão decisivos para perceber se este aumento será efetivamente estruturante ou se acabará por ser apenas mais uma promessa governativa sujeita às oscilações da conjuntura política e económica.