A História de Portugal guarda segredos e acontecimentos que não se encontram nos manuais escolares e que revelam facetas inusitadas de alguns dos nossos reis. Para além das batalhas e decisões políticas, havia também uma vida pessoal que, por vezes, surpreendia – com amores proibidos, escândalos e excentricidades que mostram a enorme diferença de mentalidades entre a época da monarquia e os dias de hoje.
Estes episódios, embora não sejam narrados nas aulas, ajudam-nos a compreender a complexidade da natureza humana, independente das coroas e títulos. A seguir, revelamos-lhe algumas das histórias mais intrigantes sobre a vida amorosa dos reis portugueses, conforme refere a VortexMag.
D. Sebastião – O enigmático “Desejado”
D. Sebastião é recordado como o rei jovem e destemido que partiu para a batalha em Alcácer-Quibir e nunca mais voltou, dando origem à lenda do “Encoberto”. Contudo, a sua vida amorosa e pessoal também levanta várias questões.
Durante a sua infância, com apenas 10 ou 11 anos, contraiu gonorreia, possivelmente através de interações inapropriadas que ocorreram durante o tempo que passou em Almeirim com a corte. Essa doença provocou-lhe uma condição que muitos associam à impotência, o que pode explicar a ausência de interesse em casar ou em envolver-se com mulheres.
No entanto, há quem acredite que a sua falta de interesse pelo sexo oposto não se devia apenas a esta condição, mas à sua orientação homossexual. Existe até uma história peculiar em que o rei foi encontrado a abraçar um escravo negro, alegando depois que pensava estar a segurar um javali no escuro. Sabendo-se que D. Sebastião era um caçador exímio, muitos consideram esta justificação bastante duvidosa, deixando espaço para especulações sobre a verdadeira natureza dos seus interesses amorosos.
2. D. Pedro I – Entre amores eternos e ciúmes trágicos
D. Pedro I ficou eternizado pelo seu amor por Inês de Castro, a quem amou além da morte, chegando mesmo a coroá-la postumamente como rainha de Portugal.
Contudo, há rumores de que o seu coração estava também dividido entre amores menos conhecidos, incluindo o seu escudeiro, Afonso Madeira. Conta-se que D. Pedro não suportou o facto de o seu escudeiro se ter envolvido com uma mulher casada, decidindo, em resposta, castigá-lo de forma severa: ordenou a castração de Afonso.
Oficialmente, esta punição foi justificada como castigo pelo seu envolvimento com uma mulher comprometida. No entanto, há quem diga que a verdadeira razão foi um ataque de ciúmes do próprio rei, que se sentiu traído por este amor platónico. Esta história, ainda que envolta em mistério, revela um lado emocional e passional de D. Pedro que poucos conhecem.
3. D. Afonso VI – O rei boémio e o amigo controverso
D. Afonso VI não só tinha a fama de desordeiro, como era conhecido pelas suas frequentes saídas noturnas e companhias duvidosas, mesmo após sofrer uma paralisia parcial do lado direito do corpo. Entre os seus amigos, destacava-se um comerciante genovês chamado António Conti, que se tornou frequentador do Paço e chegava mesmo a ter livre acesso ao quarto do rei.
Conti levava prostitutas, rapazes e bebidas para os aposentos reais, ganhando uma posição privilegiada na corte, recebendo até o título de fidalgo e o hábito da Ordem de Cristo. Farta dos comportamentos do filho e das influências de Conti, D. Luísa de Gusmão, mãe do rei, acabou por deportar o genovês para o Brasil. Embora esta decisão tenha tornado o ambiente mais discreto, acredita-se que o monarca nunca abandonou as suas preferências e continuou a receber visitantes jovens nos seus aposentos.
4. D. João V – O Freirático e o convento de São Dinis
D. João V, também conhecido como “O Magnânimo” ou “O Rei-Sol Português”, deixou-se levar pela luxúria e tornou-se célebre pelas suas aventuras amorosas, especialmente no convento de São Dinis, em Odivelas. Este convento tornou-se um local de encontros amorosos, onde o rei cultivava relações com freiras, muitas vezes encorajando o escândalo e a má fama do local.
A mais famosa destas ligações foi com a Madre Paula, uma freira de quem teve um filho, D. José, que viria a ser conhecido como um dos “meninos de Palhavã”. Em sinal de devoção, D. João V mandou construir aposentos luxuosos para Madre Paula e ergueu também o palacete de Palhavã em Lisboa, onde atualmente se encontra a Embaixada de Espanha. Esta ligação, entre outras com as religiosas de Odivelas, valeu-lhe o apelido de “O Freirático”, mostrando como o poder e o desejo se entrelaçavam na vida deste rei.
Estes episódios revelam uma faceta humana e intrigante da monarquia portuguesa. Embora possam ser vistos como escândalos, são, na verdade, recordações de uma época em que o poder absoluto permitia aos reis viverem de acordo com as suas paixões, fora do escrutínio das normas sociais. Estes contos oferecem uma perspetiva curiosa e reveladora sobre a complexidade da história e dos seus protagonistas, deixando claro que, por trás das coroas, havia seres humanos com as suas fraquezas e desejos.