A história de Portugal está repleta de grandes feitos, personagens heroicas e momentos marcantes. Mas, para além do que aprendemos nos livros escolares, também há episódios caricatos e, por vezes, absurdos que, embora menos conhecidos, fazem parte do nosso passado. Estes acontecimentos, que misturam humor, tragédia e até um toque de surrealismo, revelam o lado mais humano — e falível — das figuras históricas que moldaram o nosso país.
Prepare-se para uma viagem pelo insólito e divirta-se com alguns dos momentos mais curiosos da história de Portugal!
1. A rainha que trancou a aia num baú
D. Isabel de Portugal, conhecida como Isabel de Castela, protagonizou um dos episódios mais estranhos da história. Consumida pelo ciúme da sua aia, Beatriz da Silva, a rainha mandou trancá-la num baú durante três dias. Ao ser questionada sobre o paradeiro da jovem, Isabel abriu o baú, já esperando encontrá-la morta.
Para sua surpresa, Beatriz saiu viva, alegando ter sido protegida pela Virgem Maria. Este episódio bizarro levou Beatriz a dedicar a sua vida à religião, fundando mais tarde a Ordem da Imaculada Conceição. A história não só revela a tensão na corte, mas também a fé inabalável que moldou muitos acontecimentos da época.
2. A princesa que se fez passar por frade
A vida de D. Joana, princesa de Portugal, é marcada pela tragédia e pela determinação. Viúva aos 18 anos e mãe de D. Sebastião, a jovem princesa encontrou refúgio na Igreja. Contudo, o que torna a sua história única é a suspeita de que, em 1555, D. Joana terá usado roupas masculinas e um pseudónimo para entrar na Ordem dos Jesuítas, um feito proibido para mulheres.
Embora a história não esteja totalmente confirmada, o episódio ilustra o espírito audacioso da princesa e a sua vontade de escapar às convenções da época.
3. O eremita que se proclamou rei
Na Ericeira, um homem chamado Mateus Álvares, conhecido como o Ermitão, convenceu a população de que era D. Sebastião regressado de Alcácer-Quibir. Ruivo e magro, Mateus usou a sua semelhança com o rei desaparecido para reclamar o trono.
Chegou a casar-se, coroar a esposa como rainha e formar um pequeno exército. Contudo, a farsa não durou muito. Capturado e condenado, Mateus foi decapitado e esquartejado. Antes de morrer, pediu que os seus restos fossem expostos para que os portugueses “não perdessem a esperança no regresso de D. Sebastião”.
4. O cardeal que queria ser Papa (e acabou rei)
D. Henrique, o Cardeal-Rei, é uma figura peculiar. Apesar de ser membro da realeza, a sua ambição era religiosa: chegou a candidatar-se ao papado em 1549, mas perdeu a eleição.
Anos mais tarde, com a morte de D. Sebastião, D. Henrique foi chamado a assumir o trono, mesmo sem grande interesse. Já com 66 anos, cogitou casar-se e gerar descendência para assegurar a sucessão, mas os seus planos foram frustrados pela demora em obter uma dispensa papal. Quando finalmente chegou a resposta de Roma, D. Henrique já tinha falecido, deixando Portugal numa grave crise dinástica.
5. O rei que morreu de… piolhos
D. Filipe II de Espanha e I de Portugal, conhecido pelo seu rigor burocrático, teve um fim trágico e, ao mesmo tempo, inusitado. Sofrendo de diversas doenças, incluindo gota e malária, o monarca sucumbiu a um ataque de piolhos.
Na madrugada de 13 de setembro de 1598, os parasitas provocaram uma grave infeção na pele do rei, levando à sua morte. Para um homem que governava um dos maiores impérios da história, o fim foi, no mínimo, irónico.
6. O rei boémio e o seu círculo peculiar
D. Afonso VI ganhou fama de arruaceiro e de levar uma vida desregrada. Era conhecido pelas suas noitadas em companhia de António Conti, um italiano que frequentava o Paço e até recebia convidados no quarto do rei.
O comportamento desordeiro acabou por irritar a rainha-mãe, D. Luísa de Gusmão, que deportou Conti para o Brasil. Apesar de afastado, o rei manteve a sua reputação de excessos e polémicas até ao final da vida.
7. Os luxos de D. João V e a amante freira
D. João V, apelidado de “O Magnânimo”, é conhecido tanto pelas suas obras grandiosas como pelos seus excessos amorosos. Entre as suas amantes, destacou-se Madre Paula, uma freira que vivia num luxo incomparável.
Para agradá-la, o rei transformou uma cela conventual em aposentos reais e ofereceu-lhe o Palácio Pimenta. O seu comportamento extravagante chocou muitos contemporâneos, mas deixou marcas na história como um símbolo de opulência e desmedida.
8. A amante que lançou um feitiço ao rei
D. Pedro II, conhecido pela sua vida amorosa intensa e diversificada, viveu um episódio digno de novela. Aos 15 anos, já tinha uma amante, Francisca Botelho, uma cortesã de Lisboa. Determinada a garantir o favoritismo do jovem infante, Francisca recorreu a uma feiticeira, Francisca de Sá, para lançar um feitiço que reforçasse a sua influência sobre o futuro monarca.
A conspiração foi descoberta, e enquanto a amante foi afastada da corte, a feiticeira enfrentou um destino mais sombrio: foi condenada à morte pela Inquisição. Este episódio não apenas revela o tumulto amoroso na vida de D. Pedro II, mas também a mistura de crenças místicas e intrigas políticas que permeavam a corte portuguesa da época.
9. A rainha que morreu virgem
D. Estefânia, esposa de D. Pedro V, viveu um casamento curto e trágico. Após apenas um ano como rainha, faleceu vítima de angina diftérica. Décadas mais tarde, um relatório médico revelou que a jovem rainha morreu virgem, algo que intrigou historiadores e gerou especulações sobre a relação do casal.
10. O rei que levava uma vida dupla
D. Luís I, conhecido pela sua paixão por música e poesia, tinha também um lado menos convencional. Usando o pseudónimo de Dr. Tavares, o rei frequentava clubes noturnos e desfrutava da boémia lisboeta.
Enquanto de dia governava o país, à noite vivia aventuras em segredo, para desgosto da rainha, D. Maria Pia, que se vingava através do seu comportamento extravagante e gastos excessivos.
Entre o cómico e o trágico
Estes episódios, como refere a VortexMag, mostram que a história de Portugal vai muito além dos factos heroicos que aprendemos na escola. São histórias que, entre o absurdo e o humor, nos ajudam a compreender o lado mais humano — e por vezes falível — das figuras que marcaram o nosso passado.
Seja para rir, refletir ou simplesmente conhecer um pouco mais sobre a riqueza histórica do nosso país, estas narrativas garantem momentos de diversão e surpresa. Afinal, quem disse que a história não pode ser divertida?