A longevidade é muito mais do que um número estatístico: é um espelho da qualidade de vida, da saúde pública, do acesso a cuidados médicos e até das condições socioeconómicas que moldam o quotidiano das populações. Os novos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam um retrato profundo — e emocionalmente marcante — das regiões onde os portugueses vivem mais anos e daquelas onde a esperança de vida continua abaixo da média nacional.
Estes números, referentes ao triénio 2022–2024, mostram não apenas um país que recupera gradualmente dos impactos da pandemia, mas também um território onde as desigualdades persistem e revelam histórias distintas. Há zonas onde cada novo ano representa mais tempo ganho, mais saúde e mais futuro — e outras onde a longevidade continua presa a desafios estruturais difíceis de ultrapassar.
O Norte e o Centro voltam a destacar-se como territórios de vida longa, enquanto os Açores, a Madeira e o Baixo Alentejo permanecem entre as áreas com estimativas mais baixas. A tendência positiva nacional existe, mas não chega a todos por igual — e é precisamente nesses contrastes que este retrato se torna tão relevante.
Onde a longevidade é mais elevada: Cávado e Ave lideram o país
O INE confirma que, tal como em anos anteriores, o Norte e o Centro continuam a ser as regiões onde se vive mais tempo.
Duas sub-regiões são particularmente impressionantes:
- Cávado: 82,94 anos
- Ave: 82,18 anos
Estes valores, entre os mais altos do país, mostram territórios com forte dinâmica económica, melhor acesso a cuidados de saúde e estilos de vida associados a maior qualidade de vida. São áreas onde o envelhecimento não só aumenta, como é acompanhado de maior esperança de vida.
As regiões onde se vive menos tempo: Açores, Madeira e Baixo Alentejo
O retrato no extremo oposto é mais preocupante.
A esperança de vida à nascença é:
- Açores: 78,33 anos — a mais baixa do país
- Baixo Alentejo: 78,65 anos — a mais baixa em Portugal continental
- Madeira: 79,20 anos — também abaixo da média nacional
Estes valores revelam desigualdades persistentes, associadas a afastamento dos grandes centros, menores rendimentos, dificuldades em acesso a cuidados especializados e desafios demográficos acumulados ao longo de anos.
Apesar de uma tendência positiva, estas regiões continuam a exigir políticas públicas sólidas e continuadas para aproximar os seus indicadores dos restantes territórios.
A tendência nacional: Portugal está a viver mais tempo
Mesmo com contrastes regionais, o país como um todo apresenta evolução positiva.
- Esperança de vida nacional: 81,49 anos (2022–2024)
- Aumento face ao triénio anterior: +0,32 anos
- Equivalente a mais 3,8 meses de vida
Este crescimento mostra uma recuperação progressiva após os impactos da pandemia, que interrompeu, temporariamente, a tendência ascendente que Portugal registava há décadas.
O INE reforça que estes dados são calculados com base na mortalidade observada, o que torna os triénios instrumentos essenciais para compreender padrões mais sólidos e estáveis.
Homens vs Mulheres: um fosso que persiste
As diferenças entre sexos continuam marcantes:
- Esperança de vida masculina: 78,73 anos
- Esperança de vida feminina: 83,96 anos
Uma diferença de mais de cinco anos, alinhada com o que se observa na maioria dos países europeus.
A evolução recente mostra que:
- Os homens ganharam 0,36 anos (cerca de 4,3 meses)
- As mulheres ganharam 0,29 anos (cerca de 3,5 meses)
Apesar das disparidades, ambos os resultados mostram uma progressão positiva, refere a RTP.
Portugal a envelhecer, mas com mais vida para viver
O retrato do INE deixa uma mensagem clara: Portugal continua a envelhecer, mas está também a viver mais.
Mesmo com diferenças regionais expressivas, a tendência aponta para uma longevidade nacional crescente — um indicador que traduz resiliência, melhoria de condições de vida e avanços contínuos na saúde pública, explica o Postal.
Ainda assim, os contrastes territoriais não podem ser ignorados. O desafio futuro será garantir que todas as regiões, independentemente da sua localização e densidade populacional, tenham acesso às mesmas oportunidades de viver mais — e melhor.




