Em Portugal, o Multibanco é mais do que uma máquina: é parte da rotina diária. Levantar dinheiro, pagar contas, carregar o telemóvel ou tratar de serviços essenciais faz parte da vida de milhões de pessoas. Porém, aquilo que é visto como comodidade também se tornou num terreno fértil para burlões. Entre os esquemas mais frequentes está o chamado “truque da fila”, uma técnica discreta, quase invisível, mas capaz de esvaziar contas bancárias em poucos minutos.
Quando a proximidade não é inocente
Todos já sentiram o desconforto de ter alguém demasiado próximo numa fila do Multibanco.
Muitos interpretam esse gesto como impaciência ou falta de educação, mas, na verdade, pode tratar-se de uma estratégia calculada. Ao encostar-se excessivamente, o burlão observa cada movimento, tentando memorizar o código PIN introduzido.
O perigo começa muitas vezes antes mesmo de se digitar o código.
Olhares insistentes para o teclado, inclinações suspeitas por cima do ombro ou conversas inoportunas podem ser sinais de alerta de que se está perante um esquema fraudulento.
Como funciona a burla da fila no Multibanco
O plano segue quase sempre o mesmo guião:
- O burlão aproxima-se em excesso, criando desconforto e pressão psicológica.
- Enquanto finge impaciência, observa cuidadosamente a introdução do código secreto.
- Se atuar em grupo, um cúmplice pode criar uma distração: deixar cair um objeto, puxar conversa ou até simular uma discussão.
- O passo final é o mais perigoso: o roubo ou troca do cartão sem que a vítima se aperceba. Como já têm o PIN memorizado, basta-lhes minutos para levantar dinheiro.
Este tipo de burla funciona porque se alimenta da distração e da confiança excessiva. É silenciosa, rápida e, muitas vezes, só é descoberta quando a vítima recebe uma notificação do banco a informar de levantamentos que nunca fez.
Pequenos sinais de alerta que não devem ser ignorados
Nem sempre é fácil distinguir um cliente apressado de um burlão experiente, mas existem indícios que merecem atenção imediata:
- Pessoas que se aproximam demasiado, mesmo havendo espaço livre atrás.
- Olhares fixos no teclado ou no ecrã da máquina.
- Tentativas de conversa em momentos críticos da operação.
- Insistência em acelerar o processo, criando pressão desnecessária.
Estes sinais podem parecer banais, mas ignorá-los pode custar centenas de euros ou até mais.
Como proteger o dinheiro e a segurança pessoal
A prevenção é a arma mais eficaz contra este tipo de burla. Entre as recomendações mais importantes destacam-se:
- Manter distância: se alguém estiver demasiado perto, deve pedir-se, com firmeza e educação, que se afaste.
- Proteger o teclado: usar a mão livre para cobrir os dígitos ao introduzir o PIN.
- Escolher locais seguros: optar por Multibancos em zonas movimentadas, mas não caóticas, evitando locais isolados à noite.
- Verificar sempre o cartão: antes de sair, confirmar se o cartão é o seu e se não houve qualquer troca.
- Recusar ajuda de estranhos: nunca aceitar apoio de desconhecidos em caso de erro da máquina.
Histórias reais que deviam servir de alerta
Em fóruns online e redes sociais, segundo a Leak, multiplicam-se os relatos de vítimas deste esquema. Muitos perderam, em segundos, quantias significativas, sem se aperceberem de que o seu PIN tinha sido observado e memorizado.
O mais angustiante é a descoberta tardia. O telemóvel vibra, chega a notificação do banco: dinheiro levantado numa localidade distante. Só nesse momento a vítima percebe que o “desconforto” sentido na fila foi, afinal, a primeira fase de uma burla cuidadosamente preparada.
A distância que salva
Na próxima vez que alguém ficar demasiado próximo numa fila de Multibanco, talvez não seja apenas uma questão de falta de educação. Pode ser a diferença entre sair em segurança ou perder o controlo da própria conta bancária.
Em muitos casos, a barreira decisiva é um gesto simples: reclamar o espaço que protege o dinheiro e a tranquilidade. Num mundo onde a criminalidade se reinventa a cada dia, a vigilância e a prudência continuam a ser a melhor defesa.
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