Filipe II de Espanha foi coroado rei de Portugal a 16 de abril de 1581, nas célebres Cortes de Tomar, após uma complexa disputa dinástica desencadeada pela morte de D. Henrique. Este momento marcou o início da União Ibérica, que uniu as coroas de Portugal e Castela sob o mesmo soberano, mas mantendo cada reino com as suas leis, moeda e instituições próprias.
A disputa pelo trono português
A sucessão ao trono português tornou-se um tema central após o desaparecimento de D. Sebastião na trágica Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
O cardeal D. Henrique assumiu o trono como regente, mas a sua morte em 1580 deixou Portugal sem um herdeiro direto. Filipe II, neto de D. Manuel I, apresentou a sua reivindicação, enfrentando António, Prior do Crato, que também reclamava o trono. A disputa culminou na Batalha de Alcântara, onde Filipe II saiu vitorioso, consolidando o seu domínio sobre Portugal.
Um rei que respeitou a identidade portuguesa
Apesar de ter unido as duas coroas, Filipe II procurou preservar a autonomia de Portugal, respeitando as suas tradições e instituições. Durante a sua estadia em Lisboa, que durou cerca de três anos, o monarca adaptou-se aos costumes portugueses, tanto na maneira de vestir como nos hábitos alimentares.
Além disso, ordenou que toda a documentação oficial relativa a Portugal fosse redigida em língua portuguesa, reforçando o seu compromisso com a identidade nacional.
Filipe II é frequentemente associado ao respeito pelos privilégios portugueses, como o acesso ao comércio ultramarino espanhol, um benefício que outras regiões sob domínio espanhol, como Aragão, não possuíam. Este gesto ajudou a mitigar o impacto da união entre os dois reinos.
Relação com Portugal: um legado familiar
O carinho de Filipe II por Portugal também se deve às suas origens. Filho de Carlos V e da imperatriz Isabel de Portugal, Filipe cresceu rodeado pela influência da cultura portuguesa.
A sua mãe, natural de Lisboa, incutiu nele um apreço pela língua e pelos costumes lusitanos. Este vínculo foi ainda mais fortalecido pelo seu casamento com a infanta portuguesa D. Maria Manuela, que lhe deu um filho, D. Carlos.
Mesmo após a morte de D. Maria Manuela, Filipe II manteve laços com Portugal. Teve uma relação amorosa com Isabel de Osório, uma nobre portuguesa, e quase contraiu matrimónio com Dona Maria, Duquesa de Viseu.
Conquistas e desafios do reinado em Portugal
Durante o seu reinado, Filipe II promoveu reformas administrativas e jurídicas em Portugal. Revisou as ordenações manuelinas, criando as ordenações filipinas, que vigoraram até ao século XIX.
Além disso, modernizou organismos como o Conselho da Fazenda e o Supremo Tribunal no Porto, reforçando a eficiência administrativa do reino.
Filipe II também investiu na defesa do império ultramarino, ordenando a construção de fortalezas em locais estratégicos como os Açores, Cabo Verde e Setúbal. Este esforço visava proteger as rotas comerciais e os territórios portugueses contra potenciais invasores.
O impacto histórico da União Ibérica
Embora Filipe II tenha governado com respeito e inteligência, a União Ibérica foi marcada por tensões. Muitos portugueses viam o domínio espanhol com desconfiança, agravada pelas derrotas em Alcácer-Quibir e pela sensação de perda de soberania.
Contudo e segundo a VortexMag, historiadores modernos destacam a diferença entre Filipe II e os seus sucessores, como Filipe III e Filipe IV, que governaram com menor carisma e habilidade.
O legado de Filipe II em Portugal foi reavaliado a partir do século XX, quando se destacou a sua preocupação com a justiça, a autonomia e a identidade cultural do país. A sua figura permanece como um exemplo de liderança prudente num período de transição histórica.
Conclusão
Filipe II não foi apenas um conquistador, mas também um gestor habilidoso que procurou equilibrar interesses distintos. O seu reinado reflete um capítulo complexo da história de Portugal, onde se conjugam a perda temporária de independência com o reforço da administração e a preservação de tradições. O respeito de Filipe II pela cultura portuguesa garantiu-lhe um lugar especial na memória histórica do país.