É uma história pouco conhecida. O português João Maria Celestino nasceu em 1826 em Lisboa. Solteiro, era um homem do mar, rude, com tendência para dar nas vistas, tendo sido associado ao plano de assassinato do presidente norte americano Abraham Lincoln. Apesar de ter sido ilibado, sempre existiram dúvidas sobre a sua inocência.
“Cinco dias depois de Abraham Lincoln ter sido assassinado, apareceu na capa do jornal The New York Times a notícia da detenção do português Celestino Rodrigues que já tinha provocado suspeitas. O jornal descrevia que a ordem de prisão fora assinada por La Fayette Baker, chefe dos serviços secretos americanos (…) e descrevia o detido como um muito conhecido corredor de bloqueio”, refere a revista Sábado.
De acordo com esta publicação, corredor de bloqueio era uma expressão que definia os comandantes que pretendiam abastecer as suas embarcações, indo assim contra o bloqueio naval a que os estados do sul dos Estados Unidos estavam submetidos durante a Guerra Civil.
A primeira vez que foi detido foi no Golfo do México, em abril de 1864. Na embarcação, as autoridades constataram que Celestino tinha 3 mil dólares em ouro e prata e tinha à sua disposição animais vivos que seriam utilizados para as suas refeições. Durante duas semanas cumpriu pena em Washington. Quando saiu, regressou ao seu barco… e a sua fortuna tinha desaparecido.
Assim, Celestino foi viver durante um ano na capital dos Estados Unidos, começando por ter alguma atividade nos portos. Foi precisamente ali que se relacionou com dois dos responsáveis pela queda de Lincoln. O primeiro plano, que não chegou a avançar, previa sequestrar Lincoln em Baltimore.
Celestino teria como função deslocar Lincoln num navio. Em abril de 1865, surgiu uma ideia mais radical e teve um fim (parcialmente) desejado… assassinar Lincoln e outros elementos do governo. Lincoln foi morto a tiro por John Wilkes Booth.
Lewis Paine esfaqueou Seward (o Secretário de Estado) em casa, que incrivelmente sobreviveu ao massacre. Começou, assim, uma busca aos conspiradores.
Algumas testemunhas contaram que ouviram, poucas horas antes das tragédias ocorridas, Celestino (que se preparava para embarcar para Filadélfia) dizer que queria acabar com William Seward, que acreditava ser o responsável pelo desaparecimento da sua fortuna.
A 18 de abril, Celestino foi capturado e disse à polícia que não tinha nada a ver com o que aconteceu e que não tinha qualquer ligação com os assassinos, pedindo ainda ajuda por escrito ao embaixador. O embaixador argumentou que não podia fazer nada, que estava a decorrer a investigação, mas existiam provas que o relacionavam com o crime.
Ao contrário de outros arguidos, Celestino esteve 4 dias na Sala das Malas de Monthauk, sob o olhar constante de um segurança. De seguida, foi para a cela 209 na prisão (onde já estavam os outros arguidos), junto ao tribunal que iria decidir a sua vida. Ali esteve 52 dias. Para evitar tentativas de suicídio, teve de usar um capuz ou gorro que “colava” ao pescoço. Também tinha ferros nos pulsos e ainda uma bola de ferro muito pesada no tornozelo, que fazia barulho cada vez que tentava andar. A 8 de julho de 1865 foi declarado inocente, escapando assim à forca. Contudo, vários agentes afirmaram que Celestino não teria nenhum problema em eliminar Lincoln.
O misterioso pedido
Cartas que foram dirigidas ao governo, escritas por James Stevenson, o advogado do português, solicitavam que Celestino recebesse 100 mil dólares através dos serviços secretos. O pedido foi aprovado pelo novo presidente dos Estados Unidos, Andrew Johnson.
Não se sabe qual o fundamento para este pedido. Talvez o motivo esteja no documento que Celestino assinou no dia da sua libertação, onde critica, por exemplo, o modo como foi tratado na prisão.
Também é possível que tivesse ajudado os Serviços Secretos a obter mais detalhes sobre a conspiração. Desconhece-se se Celestino chegou a receber o dinheiro, mas sabe-se que viveu mais tarde no Brasil.