Um copo de cerveja gelada numa tarde de convívio é, para muitos portugueses, sinónimo de prazer, partilha e descontração. É um ritual social profundamente enraizado na cultura — a bebida que une amigos, alivia o calor e marca o final de um longo dia de trabalho. No entanto, por detrás desse aparente gesto inofensivo, escondem-se efeitos secundários que vão muito além do que a maioria imagina.
A ciência tem demonstrado que, apesar de existirem alguns benefícios pontuais, sobretudo quando o consumo é moderado, o impacto negativo da cerveja no organismo pode ser profundo e duradouro. Especialistas alertam para os efeitos no cérebro, no sono, na digestão, no peso e até no risco de doenças graves.
Um raro ponto positivo: pode fortalecer os ossos
Nem tudo é negativo. Segundo a nutricionista Kiersten Hickman, citada pelo EatingWell, o consumo moderado de cerveja — cerca de uma por semana — está associado a uma maior densidade mineral óssea, tanto em homens como em mulheres.
A explicação está na sua composição: a cerveja contém silício e polifenóis, compostos que favorecem a formação e a regeneração dos ossos. Estes elementos podem reduzir o risco de fraturas e contribuir para a saúde esquelética a longo prazo.
Contudo, os especialistas são unânimes em sublinhar que este benefício não justifica o consumo regular de álcool. É um efeito colateral positivo, mas limitado — um pequeno ganho perante uma lista muito mais longa de prejuízos.
O impacto silencioso no cérebro e no sono
Uma das áreas mais afetadas pelo consumo frequente de cerveja é o sistema nervoso central. A nutricionista Kimberly Gomer alerta que, mesmo em pequenas quantidades, o álcool interfere com as vias de comunicação do cérebro, afetando a coordenação, os reflexos, a memória e a capacidade de concentração.
Além disso, o consumo de álcool, ainda que leve, tem efeitos diretos sobre o sono. Apesar de induzir relaxamento momentâneo, prejudica a qualidade do descanso, reduzindo as fases de sono profundo e provocando despertares noturnos. O resultado é um ciclo de fadiga, irritabilidade e dificuldades cognitivas — efeitos frequentemente ignorados por quem bebe “apenas uma cerveja ao jantar”.
A cerveja e o peso: um obstáculo à perda de gordura
Outro efeito frequentemente subestimado é o impacto metabólico. O corpo não armazena álcool, tratando-o como uma substância tóxica a ser eliminada com urgência. Isso faz com que o fígado priorize o metabolismo do álcool, atrasando o processo natural de queima de gordura.
Na prática, quem tenta perder peso e consome cerveja regularmente enfrenta um duplo desafio: a bebida é calórica e, ao mesmo tempo, impede o corpo de eliminar gordura de forma eficiente. O resultado é a acumulação de tecido adiposo, sobretudo na zona abdominal — o que explica a expressão popular “barriga de cerveja”.
Problemas digestivos e inflamação intestinal
A cerveja pode ainda provocar irritação no trato gastrointestinal, especialmente no intestino delgado e no cólon. Kimberly Gomer explica que o álcool afeta a motilidade intestinal, alterando a forma como os alimentos se deslocam no sistema digestivo. Este desequilíbrio pode causar inchaço, dor abdominal e diarreia, sintomas que se agravam com o consumo regular. A longo prazo, o álcool contribui para um estado de inflamação crónica, enfraquecendo a mucosa intestinal e afetando a absorção de nutrientes.
Desidratação e sobrecarga dos rins
Contrariamente ao que se diz em tom de brincadeira — de que “a cerveja também é água” —, a verdade é que esta bebida provoca desidratação. O álcool tem um efeito diurético, fazendo o organismo eliminar líquidos e eletrólitos essenciais.
Com o tempo, esta sobrecarga afeta os rins, reduzindo a sua capacidade de filtrar toxinas e comprometendo o equilíbrio hídrico do corpo. Por isso, especialistas recomendam sempre a ingestão de água entre cada bebida alcoólica — uma estratégia simples para minimizar os efeitos nocivos.
Do prazer ao perigo: o risco de doenças graves
O consumo excessivo e prolongado de cerveja está diretamente ligado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares e metabólicas, como hipertensão, insuficiência cardíaca e cardiomiopatia — uma condição que enfraquece as paredes musculares do coração.
Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece uma ligação clara entre o consumo de álcool e vários tipos de cancro, incluindo o da boca, garganta, esófago, cólon, fígado e mama.
Estudos recentes reforçam que não existe um nível seguro de consumo de álcool, e que até pequenas quantidades podem ter impacto cumulativo ao longo do tempo.
O equilíbrio possível
Segundo o Notícias ao Minuto, beber uma cerveja ocasionalmente, em contexto social e com moderação, não representa um perigo imediato para a maioria das pessoas. No entanto, é importante compreender que o álcool é uma substância tóxica e que os seus efeitos são progressivos e cumulativos.
A chave está no equilíbrio e na consciência: saber quando e quanto beber, ouvir o corpo e dar-lhe tempo para se regenerar. Afinal, a verdadeira celebração de um brinde entre amigos deve ser pela vida — e não à custa dela.