Na Ilha do Corvo não faltam encantos, para além da beleza incomum, há uma história fascinante. Conheça o mistério do cavaleiro da Ilha do Corvo!
A ilha do Corvo é a mais pequena das 9 ilhas dos Açores, sendo a ilha que se encontra mais a norte do arquipélago. Nesta ilha, de apenas 17 quilómetros quadrados (6 km de comprimento e 4 km de largura), apenas se podem encontrar 400 habitantes, sensivelmente. Pode ser uma ilha pequena, mas é singular, de uma beleza incomum. Existe uma história fascinante nesta ilha, com muitas curiosidades…
O fascinante mistério do cavaleiro da Ilha do Corvo
- História
- A estátua
- A descrição
- A pormenorização
- Outra referência
- A lenda da estátua equestre da Ilha do Corvo
- Diferentes teses, uma mão cheia de nada
- A estátua com mensagem
- A tese britânica
- Uma tese interessante
História
Foi em meados do século XV que os navegadores portugueses aportaram pela primeira vez na pequena ilha do Corvo, nos Açores. Contudo, nesse momento, depararam-se com uma intrigante estátua de pedra. A estátua representava um cavaleiro com traços característicos do norte de África. Ora, a presença da estátua faz-nos colocar a questão: quem descobriu pela primeira vez os Açores?
A estátua
Ora, se antes de lá chegarmos já se encontrava uma estátua, é sinal que por lá já tinham estado pessoas. Por isso, quem terão sido essas pessoas? Quem terão sido os construtores da Estátua da Ilha do Corvo?
Embora haja especialistas que defendem que essa estátua é apenas uma “lenda”, a verdade é que Damião de Góis (1502-1574), que foi um grande humanista português do Renascimento, revela-se uma fonte que tem obra e crédito inquestionáveis. Ora, é Damião de Góis que descreve a estátua com algum detalhe, mais precisamente no capítulo IX da sua Crónica do Príncipe D. João, que foi escrita em 1567.
A descrição do monumento do cavaleiro da Ilha do Corvo
O monumento é descrito como “antigualha mui notável”, como lhe chama o cronista. O monumento foi achado no Noroeste da pequena ilha, a “Ilha do Marco”, como os mareantes lhe chamavam. Na mesma crónica, Damião de Góis faz referência ao monumento no seu tempo de vida. A descrição do monumento é feita da seguinte forma:
“Uma estátua de pedra posta sobre uma laje, que era um homem em cima de um cavalo em osso, e o homem vestido de uma capa de bedém, sem barrete, com uma mão na crina do cavalo, e o braço direito estendido, e os dedos da mão encolhidos, salvo o’dedo segundo, a que os latinos chamam índex, com que apontava contra o poente.”
A pormenorização
O cronista pormenoriza ainda que:
“Esta imagem, que toda saía maciça da mesma laje, mandou el-rei D. Manuel tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D’armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o inverno passado.
Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber.”
Outra referência
Gaspar Frutuoso (1522-1591) foi um historiador açoriano, sendo ainda sacerdote e humanista. Na sua obra “Saudades da Terra”, fez uma pormenorizada descrição dos arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias. No vol.6 da referida obra, Gaspar refere a existência de uma misteriosa estátua de um cavaleiro na Ilha do Corvo.
A descrição
Gaspar Frutuoso descreveu a estátua da seguinte forma:
“…um vulto de um homem de pedra, grande, que estava em pé sobre uma laje ou poio, e na laje estavam esculpidas umas letras, e outros dizem que tinha a mão estendida ao nor-nordeste, ou noroeste, como que apontava para a grande costa da Terra dos Bacalhaus [Terra Nova]; outros dizem que apontava para o sudoeste, como que mostrava as Índias de Castela [Antilhas] e a grande costa da América com dois dedos estendidos e nos mais, que tinha cerrados, estavam uma letras (…) que ninguém sabia ler (…)”.
A lenda da estátua equestre da Ilha do Corvo
A possibilidade de alguém ter chegado ao arquipélago antes dos Portugueses revela-se um dos maiores mistérios dos Açores. Os marinheiros portugueses aventuraram-se rumo ao ocidente, com o objetivo de descobrir novas terras. Ao encontrarem a ilha do Corvo, que é a mais pequena do arquipélago dos Açores, encontraram algo surpreendente.
Ao se aproximarem da ilha, do lado noroeste, os marinheiros portugueses viram a silhueta de um homem de pedra, em cima de um cume, encontrando-se montando um cavalo. A imagem parecia servir de referência aos navegadores. Ainda se pode encontrar o espaço onde a estátua foi erguida na ilha do Corvo, sendo o mesmo identificado por um marco. Ora, esta ilha chegou a ser conhecida como a ilha do Marco precisamente por essa razão.
Diferentes teses, uma mão cheia de nada
Os marinheiros portugueses ficaram intrigados com esta descoberta. A verdade é que desconheciam a identidade do homem que terá construído a estátua, não sabiam a razão de ter uma estátua por ali. Até aos nossos dias não existiu uma resposta para questões como: A estátua é verdadeira ou uma lenda? Se é verdadeira, quem a fez? Se é verdadeira, que povo esteve nos Açores antes dos portugueses?
Há quem defenda que a estátua tenha tido um papel fulcral nos descobrimentos. Terá mesmo sido o dedo indicador do homem da estátua a ajudar os marinheiros a rumar em direção às Américas? Muitos arqueólogos defenderam a tese de que a escultura terá origem Cartaginesa ou Fenícia. Eles defendem ainda que o arquipélago açoriano terá sido visitado por estas civilizações antes da ilha ser descoberta pelos portugueses.
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A estátua com mensagem
Este monumento revelava um homem coberto com um manto, surgindo apenas a cabeça descoberta. A estátua encontrava-se com um ar gasto, estava danificada devido à erosão do mar a que foi exposta. O homem encontrava-se a montar o seu cavalo. O braço direito encontrava-se estendido a apontar com o seu dedo indicador para algum local.
Algumas teorias defendem que estaria a apontar para o Brasil, que na época em que a estátua tinha sida avistada o país ainda não sido visitado pelos portugueses… Estavam escritas algumas palavras na pedra base da estátua, embora pouco visíveis e podia ler-se: “Jesus, avante”.
A tese britânica
Gavin Menzies escreveu a obra “1421- The Year China Discovered the World”. Este oficial da marinha britânica percorreu as rotas dos navegadores do passado. Foi nessa qualidade que escreveu o livro que tem sido alvo de muita contestação do mundo científico. No entanto, na referida obra, Gavin Menzies aborda as viagens do almirante chinês Zheng-He (1405-1433).
O almirante chinês, que também surge identificado como Cheng-Ho, realizou a exploração dos oceanos Índico e Pacífico, que foram confirmadas por outros historiadores. No entanto, também terá explorado o Atlântico Sul e Norte. De acordo com Gavin Menzie era costume nessas viagens erigir-se uma estátua de um homem a cavalo em locais proeminentes, a estátua visava apontar a localização da China.
Uma tese interessante
Manuel Faria e Sousa, que escreveu “Epítoma de las Historias Portuguesas, Madrid, 1638) defendeu uma tese que vai ao encontro do que defendeu a posição do oficial da marinha britânica, Gavin Menzies, tendo defendido:
“Seria o caso da Ilha do Corvo (…) a primeira que os chineses terão avistado vindos das Américas (…)”.
Ora, ainda há espaço na obra para referir os primeiros relatos da chegada dos portugueses à Ilha do Corvo em 1430:
“(…) no cume de uma montanha numa ilha a que chamam Corvo…a estátua de um homem montado num cavalo; a sua cabeça está descoberta e é calvo; a mão esquerda está pousada no cavalo e a direita aponta para ocidente. A estátua está firmemente implantada num pedestal de pedra esculpida numa rocha. Na base há inscrições numa escrita que não conseguimos compreender.”
Assim, existem diferentes teorias por detrás desta estátua. Muitos historiadores defendem teses opostas, mas certo é, quer seja lenda ou facto, a estátua do Cavaleiro da Ilha do Corvo é uma curiosidade que ficará para sempre como um mistério fascinante. Representa uma boa oportunidade para os historiadores fazerem história…