No coração do distrito de Coimbra, ergue-se um castelo que atravessou séculos, resistiu a batalhas e se tornou guardião de uma das histórias de amor mais trágicas e célebres da História de Portugal. O Castelo de Montemor-o-Velho é considerado por muitos o castelo mais antigo de Portugal e continua a impressionar pela sua imponência, pela sua envolvência paisagística e pelo peso das memórias que as suas muralhas encerram.
Visitar Montemor-o-Velho é muito mais do que admirar uma fortificação medieval: é mergulhar num legado que combina tradição, cultura e património, num cenário marcado pelos arrozais do Baixo Mondego que mudam de cor ao sabor das estações.

O castelo mais antigo de Portugal e o ex-libris do Mondego
O Castelo de Montemor-o-Velho é a maior fortificação do Mondego e, segundo várias fontes, a mais antiga de Portugal. A sua origem remonta ao período muçulmano, sendo mencionado já no século X como uma poderosa fortaleza. O seu posicionamento estratégico tornava-o crucial na defesa da região contra incursões inimigas, razão pela qual foi alvo de sucessivas conquistas e reconquistas ao longo da história.
Classificado como Monumento Nacional desde 1910, o castelo distingue-se pela sua planta irregular, as torres quadrangulares e semicirculares que recortam a muralha e pela envolvente barbacã. Dentro do recinto muralhado, os visitantes encontram ainda a Igreja de Nossa Senhora da Alcáçova, o Paço das Infantas e vestígios de várias capelas.
Mas não é apenas pela sua imponência arquitetónica que este castelo se destaca. Foi também palco de episódios decisivos para o rumo da História de Portugal.
O cenário da trágica história de Pedro e Inês
Poucos locais em Portugal estão tão intimamente ligados à paixão trágica de Pedro e Inês de Castro como Montemor-o-Velho. Foi precisamente dentro das suas muralhas que se decidiu o destino de Inês, amante de D. Pedro e figura central de uma das histórias de amor mais pungentes da Europa medieval.
No dia 6 de janeiro de 1355, reunidos no Castelo de Montemor-o-Velho, o rei D. Afonso IV e os seus conselheiros decidiram que Inês deveria ser assassinada, temendo que a sua influência pudesse ameaçar a estabilidade da coroa. Um dia depois, Inês foi degolada em Coimbra, num ato que marcaria para sempre a memória coletiva do país.
Mais tarde, já como rei, D. Pedro vingou-se dos assassinos e imortalizou o seu amor, mandando construir em Alcobaça os túmulos que ainda hoje permanecem frente a frente, para que ambos pudessem “olhar-se nos olhos quando despertassem no Dia do Juízo Final”.
A lenda acrescenta ainda um episódio macabro: diz-se que D. Pedro coroou o cadáver de Inês e obrigou a corte a prestar-lhe vassalagem. “Rainha depois de morta”, Inês de Castro é a prova viva de como a História se mistura com a lenda e de como Montemor-o-Velho está indissociavelmente ligado a um amor maior do que a vida.

Uma fortificação entre arrozais
Ao contrário de outros castelos que se erguem sobre montanhas agrestes, o Castelo de Montemor-o-Velho distingue-se pela sua envolvência singular. Rodeado pelos extensos arrozais do Baixo Mondego, oferece um espetáculo cromático ao longo do ano: ora verdejantes, ora dourados, ora azulados pela reflexão da água. É neste cenário natural que cresce o famoso Arroz Carolino do Baixo Mondego, produto de excelência gastronómica que transporta consigo a identidade agrícola da região.
Património religioso e cultural
A visita ao castelo pode ser complementada com outros espaços de grande valor histórico:
- Igreja de Santa Maria da Alcáçova – mandada edificar no século XI e reedificada no século XVI, guarda memórias religiosas e arquitetónicas.
- Convento de Nossa Senhora dos Anjos – edificado a partir de uma pequena ermida, é um testemunho do fervor espiritual da região.
- Capela de São João Batista e Capela de Santo António – ainda que em diferentes estados de conservação, recordam a forte ligação do território à fé e à religiosidade.
Montemor-o-Velho para além do castelo
O concelho oferece ainda outras experiências, como o Europaradise, um parque zoológico único em ambiente mediterrânico, ideal para famílias e para quem procura momentos de lazer em contacto com a natureza.
Com uma história que cruza batalhas, reis, lendas e paixões, Montemor-o-Velho é hoje um destino turístico que combina autenticidade, património e tranquilidade.
Informações práticas para visitar
- Localização: Rua de Coimbra, Vila de Montemor-o-Velho, distrito de Coimbra
- Coordenadas GPS: 40.17521726675916 N, -8.683919906616211 O
- Horário:
- Inverno (novembro a fevereiro): 9h30 – 17h30
- Verão (março a outubro): 10h – 18h30
- Aberto todos os dias
Um castelo, muitas histórias
Seja pela imponência arquitetónica, pela importância histórica ou pela aura romântica da lenda de Pedro e Inês, o Castelo de Montemor-o-Velho é um dos monumentos mais fascinantes de Portugal. Visitar este espaço é viajar no tempo, contemplar paisagens que parecem pintadas e sentir de perto as marcas deixadas por séculos de conquistas, paixões e tragédias.
Montemor-o-Velho não é apenas um destino; é uma experiência imersiva que convida a descobrir o passado, refletir sobre a memória coletiva e apaixonar-se por uma das mais belas fortificações do país.