As máquinas Multibanco tornaram-se tão comuns na rotina diária que muitas pessoas já as utilizam quase mecanicamente, sem reparar nos detalhes que as rodeiam. Este automatismo, embora natural, é precisamente aquilo que torna os utilizadores mais vulneráveis a esquemas de fraude cada vez mais sofisticados.
E a verdade é simples e dura: basta um segundo de distração para que alguém copie os dados do cartão e o respetivo PIN, abrindo a porta a levantamentos ilegítimos que podem esvaziar uma conta bancária em minutos.
Nos últimos anos, as autoridades têm registado um aumento de fraudes com recurso a skimming, uma técnica discreta e extremamente eficaz que manipula fisicamente o terminal. Os criminosos apostam no detalhe, no disfarce perfeito e na pressa de quem se aproxima da caixa automática apenas para “levantar dinheiro e seguir caminho”.
Por isso mesmo, reconhecer os sinais de adulteração deixou de ser uma simples recomendação: é um ato de proteção financeira e emocional.
Porque o Multibanco é um alvo tão apetecível
O Multibanco português é reconhecido internacionalmente pela sua eficiência e diversidade de serviços. É possível levantar dinheiro, fazer pagamentos, transferências, carregamentos e inúmeras operações numa única interface.
Mas essa conveniência traz consigo um risco acrescido: onde há movimento constante de pessoas, há também grande oportunidade para criminosos se misturarem e instalarem dispositivos de forma discreta.
Além disso:
- os terminais exteriores são mais vulneráveis;
- a instalação de skimmers dura, muitas vezes, menos de 30 segundos;
- muitos utilizadores assumem que “se a máquina está ali, é segura”.
É precisamente essa sensação de segurança que os burlões exploram.
1. A ranhura adulterada: o disfarce perfeito
A ranhura do cartão é o ponto-chave de qualquer esquema de skimming. É ali que os criminosos colocam dispositivos finíssimos, desenhados milimetricamente para imitar a estrutura original.
Alterações que costumam passar despercebidas
- Uma ligeira saliência que parece parte do design.
- Um brilho diferente, resultado de um plástico barato usado na cópia.
- Pequenas folgas entre a ranhura e o painel.
- A ranhura ficar “presa” ou demasiado solta quando tocada.
Basta um toque superficial para perceber que algo não está bem. Porém, quem vai ao Multibanco normalmente está com pressa, de pé, segurando carteira, saco, telemóvel — e raramente pára para examinar o terminal.
Mas deveria.
Porque um skimmer bem colocado pode recolher centenas de dados em apenas algumas horas.
2. O teclado falso: o golpe silencioso que apanha o PIN
Se a ranhura copia dados, o teclado copia o código PIN — e é isso que completa o esquema.
Um teclado falso é normalmente uma peça sobreposta ao original, com aparência quase idêntica, mas ligeiramente mais elevada. Sobre ele, pressões são registadas e transmitidas para o criminoso. Noutros casos, o criminoso instala uma microcâmara direcionada para os dedos do utilizador.
Como reconhecer um teclado falso
- A superfície é demasiado lisa, sem textura.
- As teclas parecem mais altas ou rígidas.
- A peça abana quando se pressiona no canto.
- Existe um “moldura” suspeita ao redor.
- A cor varia subtilmente em relação ao painel.
Muitas vítimas apenas se apercebem do esquema quando começam a ver levantamentos em países onde nunca estiveram. A clonagem do cartão é rápida e brutal.
O gesto que salva: tapar o PIN
Pode parecer insignificante, mas este hábito trava o plano da maior parte dos burlões.
Tapar o teclado com a mão livre impede que câmaras — colocadas em suportes de panfletos, coladas no topo do ecrã ou disfarçadas em molduras — captem o código.
É um gesto simples, gratuito e imediato que bloqueia uma parte crucial da fraude.
O que fazer se desconfiar que o Multibanco está adulterado
Aqui não há espaço para dúvidas ou hesitação — qualquer suspeita deve ser tratada como real.
- Não inserir o cartão. A prevenção começa aí.
- Avisar imediatamente o banco. Cada terminal tem um número identificador visível, útil para a denúncia.
- Contactar as autoridades, especialmente se o terminal estiver em via pública.
- Registar o momento, se possível, com uma fotografia — útil para a polícia e para o banco.
- Escolher outro terminal, de preferência numa agência bancária ou num local visível e movimentado.
Mesmo que a suspeita seja um falso alarme, a atitude protege sempre mais do que arriscar.
Porque esta fraude continua a crescer
Os esquemas evoluem. O skimming tornou-se uma atividade organizada, rápida e difícil de detetar sem atenção minuciosa. Além disso:
- os dispositivos de clonagem são baratos e fáceis de obter;
- os criminosos dominam técnicas de montagem rápida;
- o Multibanco continua a ser essencial para milhares de portugueses todos os dias.
Com esta combinação, a vigilância tornou-se uma ferramenta indispensável.
A segurança começa nos detalhes
Os terminais Multibanco não são, por si só, perigosos — mas a ilusão de segurança pode levar a erros fatais.
A maioria das fraudes bem-sucedidas acontece porque o utilizador não notou um pequeno detalhe:
uma ranhura fora do lugar, um teclado um milímetro mais alto, uma peça estranhamente nova.
E é por isso que a mensagem central permanece clara, forte e urgente:
A atenção é o melhor escudo contra o skimming.
A observação é a primeira linha de defesa.
E o hábito protege mais do que a força policial ou tecnológica.
Proteger os dados é proteger o dinheiro, a identidade e a tranquilidade, refere a VortexMag.
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