A tensão entre a Rússia e o Ocidente tem vindo a aumentar, marcada por uma sucessão de sanções económicas, confrontos diplomáticos e alertas militares sobre o futuro da segurança europeia. Agora, um novo aviso chega da Alemanha: um conceituado especialista militar acredita que Moscovo poderá lançar uma provocação direta à NATO até 2028 — um cenário que colocaria à prova a unidade da Aliança Atlântica e, inevitavelmente, envolveria Portugal.
Segundo o jornal digital HuffPost, Carlo Masala, professor de Política Internacional na Universidade das Forças Armadas de Munique, considera “altamente provável” que a Rússia realize uma “incursão limitada” no flanco oriental da NATO nos próximos três anos.
Um movimento calculado, destinado a testar a capacidade de resposta ocidental e a medir até que ponto a solidariedade entre os aliados permanece firme.
Uma Europa sob tensão crescente
Carlo Masala é autor do livro If Russia Wins: A Scenario (“Se a Rússia ganhar: um cenário”), onde alerta para as profundas repercussões que uma vitória russa na Ucrânia teria sobre a estabilidade europeia.
Em declarações à Newsweek, o académico sublinhou que Vladimir Putin “acredita que a NATO não reagiria de forma unida” caso fosse provocada diretamente.
O professor explica que Moscovo “já não confia” na aplicação automática do artigo 5.º do tratado da NATO — a cláusula que determina que um ataque a um país membro é um ataque a todos.
Segundo Masala, há “círculos no Kremlin que desejam testar essa promessa”, talvez através de uma incursão limitada na fronteira da Polónia ou nos países bálticos.
“Uma operação de pequena escala, cuidadosamente planeada, serviria para medir a reação ocidental e avaliar o grau de coesão entre os aliados”, afirmou o especialista, acrescentando que tal provocação “poderá ocorrer antes de 2028”, aproveitando a instabilidade política global e as divisões internas na Aliança.
O olhar russo sobre os Estados Unidos
Masala observa ainda que o Kremlin acompanha atentamente o cenário político norte-americano. “Moscovo vê uma possível Administração Trump como hesitante e relutante em envolver-se numa guerra europeia”, destacou. Essa perceção, segundo o académico, pode encorajar o regime de Putin a arriscar uma jogada estratégica, apostando na divisão e na incerteza dos aliados ocidentais.
Divisões internas fragilizam a confiança na Aliança
As tensões dentro da NATO não são um segredo. Masala recorda o episódio em que aviões de combate russos violaram o espaço aéreo da Estónia, levando o país a invocar o artigo 4.º da Aliança — o mecanismo que prevê consultas entre os membros sempre que a integridade de um deles é ameaçada.
Durante essa reunião, divergiram as interpretações: enquanto os Estados Unidos e a Alemanha consideraram que poderia ter sido um erro técnico, os países da Europa de Leste e do Báltico viram o ato como uma provocação deliberada. Para Masala, este tipo de divisão é precisamente o que Moscovo poderá explorar, minando a confiança e a solidariedade entre os aliados.
Portugal não ficaria de fora
Portugal, membro fundador da NATO desde 1949, estaria automaticamente comprometido em caso de ativação do artigo 5.º. Qualquer ataque a um país aliado implicaria uma resposta conjunta, que poderia incluir apoio logístico, militar ou diplomático.
Nos últimos anos, as Forças Armadas Portuguesas têm reforçado a presença em missões internacionais, desde o Báltico ao Mediterrâneo, participando com aeronaves e navios em operações de vigilância e dissuasão. Um eventual confronto entre a NATO e a Rússia sublinharia a importância do contributo português na defesa europeia e atlântica.
Europa em alerta permanente
As palavras de Carlo Masala ecoam os recentes avisos da chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, que alertou: “A Europa continuará em risco mesmo depois de terminada a guerra na Ucrânia.”
O continente prepara-se para um novo paradigma de defesa, onde as ameaças deixam de ser apenas militares e passam a incluir ciberataques, drones e estratégias híbridas. Vários países estão já a reforçar as suas infraestruturas militares e a investir em sistemas de defesa aérea ao longo das fronteiras orientais da NATO.
Uma década decisiva para o futuro da segurança europeia
De acordo com o Postal, para Masala, os próximos anos serão cruciais para testar a coesão da Aliança Atlântica. Uma resposta fragmentada a uma provocação russa, alerta o especialista, teria “consequências devastadoras para a credibilidade e estabilidade do bloco ocidental”.
Com a guerra na Ucrânia ainda longe de uma resolução e o leste europeu sob pressão constante, a NATO enfrenta um desafio que ultrapassa o campo militar: manter viva a unidade política e a confiança mútua.
Como sintetiza o académico alemão, “a verdadeira batalha será pela unidade”. E o modo como a NATO reagir a uma possível provocação russa poderá definir o rumo da segurança europeia durante as próximas décadas.
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