Quando se pensa em múmias, não se pensa em Portugal, mas a múmia mais antiga do mundo foi encontrada no nosso país.
As múmias estão mais associadas a países de outros continentes, não tanto à Europa ou a Portugal. Contudo, é no nosso país que foi encontrado o exemplar mais antigo do planeta. Há mais de 4.500 anos foram usados no antigo Egito métodos de mumificação bem elaborados.
No Chile foram encontrados cadáveres mumificados de 5.050 a.C. no Deserto do Atacama. Existem evidências de mumificação de 1.000 a.C. que foram encontradas na Grã-Bretanha. Contudo, a recente descoberta de um exemplar mumificado é absolutamente surpreendente. O exemplar foi encontrado em Portugal, mais precisamente no Vale do Sado.
Provavelmente, a múmia mais antiga do mundo foi encontrada em Portugal
A múmia “portuguesa”
A múmia mais antiga do mundo foi encontrada em Portugal. A múmia não é propriamente portuguesa, mas foi encontrada no território onde hoje é Portugal. O exemplar foi sepultado há cerca de 8.000 anos, bem antes de o país ser formado.
A descoberta
A investigação foi conduzida por cientistas suecos (maioritariamente), tendo sido publicada na reputada revista European Journal of Archeology. O exemplar da múmia mais antiga foi encontrado em escavações dos anos 1960, fazendo parte de mais de uma dúzia de corpos encontrados na região, corpos que também mostram traços de mumificação.
Novos estudos realizados
Os restos humanos foram encontrados e fotografado em escavações mais antigas. Manuel Farinha dos Santos, um arqueólogo português falecido em 2001, esteve na origem dessas escavações. As fotografias ainda não tinham sido estudadas. Existem ainda vários filmes fotográficos em preto branco, que retratam bem as 13 covas do Mesolítico, ou seja, meados da Idade da Pedra.
Informação
Alguns documentos e mapas do local que foram desenhados à mão encontravam-se no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa. Contudo, os investigadores não sabiam da existência das fotos. Os corpos encontravam-se sepultados em dois sambaquis (ou concheiros), que são depósitos construídos pelo homem. Os sambaquis de Poças de São Bento e d’Arapouco foram os locais onde foram encontrados os exemplares mumificados.
A mumificação
A mumificação é um processo simples que até pode ocorrer naturalmente em locais secos e áridos. Há essa vantagem de países como Chile e Egito, onde estavam presentes as múmias mais antigas até esta descoberta.
Nestes locais a preservação das múmias é realizada da melhor forma. Na Europa os locais são mais húmidos, por isso, os tecidos mumificados tendem a deteriorar rapidamente. Ora, esta realidade dificulta imenso a vida dos arqueólogos.
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A especialista
Rita Peyroteo-Stjerna esteve envolvida no estudo das fotografias do Vale do Sado. A investigadora da Uppsala University, Suécia revelou à revista Live Science que, apesar das dificuldades sentidas na observação, o trabalho experimental e a combinação de diversos métodos tornou possível a identificação.
O método
Rita Peyroteo-Stjerna (e a respetiva equipa) recorreu a fotografias para reconstruir as covas nos dois locais estudados. Posteriormente, passaram a observar os restos mortais. Os investigadores notaram que os ossos de um dos esqueletos encontravam-se hiperflexionados.
Constataram que os membros haviam sido forçados além dos seus limites naturais. Concluíram que ele tinha sido amarrado. As amarras tinham sido apertadas após a morte. O esqueleto ainda se encontrava articulado, “encaixado” no seu devido lugar após o enterro, especialmente os ossos pequenos do pé, que geralmente se espalham como consequência da decomposição.
Os investigadores confirmaram que não havia sinais de movimentação do solo após a decomposição de tecidos moles do corpo. Normalmente, o cadáver encolhe e leva a um preenchimento do vazio com sedimentos. No entanto, os sedimentos não ocuparam esse espaço, permitindo constatar que tal decomposição não ocorreu.
Estas indicações todas combinadas permitiram chegar à evidência de que o corpo foi deliberadamente mumificado após a morte, tendo sido provavelmente dissecado e compactado com uso das amarras.
Demonstração por mumificação forense
No Campo de Pesquisa de Antropologia Forense da Texas State University, foram realizados experimentos em relação à decomposição humana. Estes experimentos foram conduzidos por investigadores que também estudaram locais de sepultamento.
Assim, foi possível concluir com base nos métodos de mumificação forense (usados em cadáveres modernos) quais foram métodos usados na mumificação do exemplar “português” do Vale do Sado, há 8.000 anos.
O método
O exemplar “português” foi colocado num local elevado, uma plataforma, de forma que os fluidos de decomposição fossem escoados para longe do corpo. Então, pode ter sido utilizado fogo para secar o cadáver. Os seus membros foram amarrados, apertadas ao longo do tempo, o que permitiu manter a integridade anatómica, mas levou a um aumento da flexão dos membros.
Outros exemplares
Os outros corpos sepultados no Vale do Sado revelam alguns dos sinais de mumificação, mas não apresentam as mesmas características do exemplar de 8.000 anos. É possível que tenham sido trazidos de outros locais para serem enterrados no vale. Nesse caso, há fundamento para a teoria de que a mumificação tenha sido realizada com o propósito de facilitar o transporte, pois, a mumificação deixa os corpos menores e mais leves.
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O especialista
O arqueólogo Michael Parker Pearson é um investigador da University College London. Ele foi um dos elementos da equipa que desenvolveu há quase 20 anos estas técnicas que permitem a identificação de mumificação em corpos pré-históricos. A sua equipa de investigadores encontrou numa ilha escocesa evidências de mumificação de 3.000.
Segundo o especialista, “é muito animador ver essa prática reconhecida em outros lugares da Europa”. Ele não participou diretamente dos trabalhos no Vale do Sado. O arqueólogo Michael Parker Pearson acredita que o exemplar “português” de 8.000 não será o recordista por muito tempo. Pois, segundo o especialista, existem indícios de mumificações em El Wad e Ain Mallaha, em Israel com mais de 10.000 anos.
Em Kosteni, Bielorrússia, poderão surgir exemplares com 30.000 anos. No entanto, ainda falta a realização de estudos e investigações nesta matéria. Enquanto não existir comprovação do feito pela comunidade cientista, o exemplar “português” mantém-se como o mais antigo do mundo!…
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