Uma simples viagem de táxi por Lisboa transformou-se num pesadelo para uma passageira. O que deveria ter sido um trajeto banal de apenas oito quilómetros, entre o Cais do Sodré e Sete Rios, terminou com uma cobrança de 1.360 euros. O caso, revelado pela reportagem Sábado, transmitida no canal NOW, expôs um esquema de burla sofisticado, mas extremamente fácil de executar, que está a deixar contas bancárias vazias e passageiros em pânico.
Uma viagem curta, uma fatura impensável
Isabel, a vítima, recorda com incredulidade o episódio. “Desde que tudo isso aconteceu, nunca mais apanhei um táxi”, confessou à jornalista Ana Leal. O medo ficou gravado na memória — e o episódio expôs uma realidade preocupante: a vulnerabilidade dos passageiros perante burlas tecnológicas quase invisíveis.
Tudo começa com um terminal de pagamento aparentemente legítimo, igual aos usados em milhares de estabelecimentos. No entanto, o dispositivo — facilmente adquirido online por cerca de 30 euros — é manipulado para enganar o cliente no momento do pagamento. O passageiro aproxima o cartão, vê um valor aparentemente normal no visor do terminal, mas o montante real é alterado segundos antes no telemóvel do burlão, sem que a vítima perceba.
O truque por trás da burla
Segundo a reportagem, o esquema utiliza terminais da marca SumUp, ligados por Bluetooth ao telemóvel do motorista. O truque é simples e eficaz: o valor da viagem é introduzido no telemóvel, não diretamente na máquina. Quando o cliente se distrai, o motorista altera o montante. O visor do terminal mostra apenas um número neutro, sem revelar a quantia real.
O telemóvel, estrategicamente colocado virado para baixo, impede o passageiro de perceber a manipulação. O resultado só aparece horas depois, quando o banco alerta para uma transação anormal. Nessa altura, o prejuízo já está consumado — e recuperar o dinheiro é quase impossível.
A Rua Cor de Rosa e os grupos que dominam os táxis na capital
O episódio ocorreu na Rua Cor de Rosa, uma das zonas mais conhecidas da vida noturna lisboeta e também um ponto sensível para o setor dos táxis.
Motoristas e passageiros reconhecem o local como um “território de risco”, onde grupos informais controlam o movimento e impõem regras próprias.
Segundo relatos recolhidos, as burlas repetem-se com frequência, afetando não só portugueses, mas também turistas, que muitas vezes não dominam a língua nem conhecem os valores médios das viagens.
O esquema é rápido, discreto e difícil de denunciar, o que o torna ainda mais perigoso.
Um problema antigo com novas ferramentas
Fraudes no setor dos táxis não são novidade em Lisboa. Já em 2004, a Inspeção-Geral das Atividades Económicas (IGAE) denunciava o uso de dispositivos que aceleravam eletronicamente o taxímetro. Agora, com a era digital, os métodos tornaram-se mais sofisticados — e mais difíceis de detetar.
Hoje, a burla via terminal digital substitui o taxímetro adulterado, permitindo que o golpe aconteça em segundos e sem contacto físico. Paralelamente, há relatos de intimidação entre motoristas, especialmente nos pontos estratégicos da cidade, como o aeroporto. Condutores honestos que se recusam a aderir a esquemas são alvo de ameaças e sabotagens.
Falta de fiscalização e confiança em declínio
A ausência de fiscalização constante é apontada como um dos principais fatores que permitem a proliferação destas burlas. Locais movimentados deixaram de ter presença regular das autoridades e entidades fiscalizadoras, abrindo espaço para o abuso.
Consequência direta: a perda de confiança dos passageiros. Muitos, como Isabel, optam por evitar o táxi tradicional, preferindo serviços alternativos de mobilidade. O impacto na imagem do setor é devastador, minando décadas de trabalho de motoristas honestos que veem a sua profissão manchada por uma minoria sem escrúpulos.
Uma chamada de atenção urgente
De acordo com o Postal, casos como o de Isabel revelam a fragilidade dos sistemas de pagamento móveis e a urgência de uma resposta institucional. É necessário reforçar a fiscalização, exigir certificações mais rigorosas para os terminais usados em transportes públicos e criar canais eficazes de denúncia e reembolso para vítimas.
Enquanto isso, passageiros e motoristas honestos continuam a partilhar o mesmo espaço — mas com uma sombra de desconfiança crescente.
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