A presença do mosquito-tigre (Aedes albopictus) no concelho da Covilhã, distrito de Castelo Branco, veio confirmar aquilo que os especialistas em saúde pública já temiam: a expansão desta espécie invasora em território nacional está a ganhar força. O alerta lançado pela Unidade Local de Saúde da Cova da Beira (ULS) não é apenas um aviso técnico, mas um verdadeiro grito de precaução dirigido à comunidade, lembrando que o risco de transmissão de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela deixou de ser uma realidade distante.
Porque é o mosquito-tigre tão perigoso?
Diferente das espécies comuns em Portugal, o Aedes albopictus tem um comportamento altamente adaptável e agressivo, explica a SIC Notícias. Ao contrário dos mosquitos tradicionais, não depende apenas de charcos ou águas paradas no meio natural. Pode proliferar em pequenos volumes de água estagnada, encontrados em pratos de vasos, tampas de garrafas, baldes esquecidos ou até nas calhas de uma casa.
É um inimigo discreto, silencioso e persistente. Além disso, é conhecido por ser um mosquito diurno, com atividade intensa ao amanhecer e ao entardecer, períodos em que muitas pessoas se encontram em deslocações ou atividades ao ar livre, aumentando o risco de picadas.
Impacto na saúde pública e na comunidade
A introdução do mosquito-tigre em Portugal não representa apenas um incómodo relacionado com picadas dolorosas ou reações cutâneas. Trata-se de um problema de saúde pública global, pois este vetor é capaz de transmitir vírus que já provocaram surtos devastadores em diferentes regiões do mundo.
A sua presença obriga à ativação de protocolos de vigilância, campanhas de sensibilização e medidas rigorosas de prevenção. Cada foco de reprodução ignorado pode transformar-se num potencial epicentro de transmissão.
O papel das autarquias e da comunidade
Não basta esperar pelas ações das autoridades de saúde. O combate a este mosquito é uma responsabilidade partilhada. As autarquias devem reforçar campanhas de informação, inspecionar espaços públicos e promover a eliminação de potenciais focos de reprodução. Mas cada cidadão, dentro do seu espaço privado, tem um papel essencial: vigiar, eliminar e prevenir. Um pequeno recipiente esquecido com água pode ser suficiente para a proliferação de centenas de mosquitos em apenas alguns dias.
Prevenção: pequenas ações que salvam vidas
A ULS da Cova da Beira insiste em medidas práticas e acessíveis:
- Eliminar recipientes com água estagnada em varandas, quintais e jardins.
- Cobrir depósitos de água como cisternas, tanques e poços.
- Trocar semanalmente a água de bebedouros de animais.
- Tratar ou cobrir piscinas durante períodos em que não estão em utilização.
- Utilizar repelentes eficazes com substâncias como DEET ou óleo de eucalipto-limão.
- Proteger janelas e portas com redes mosquiteiras.
Estas medidas, quando aplicadas em conjunto pela população, reduzem significativamente o risco de instalação e propagação desta espécie.
Como distinguir o mosquito-tigre de outras espécies comuns em Portugal
O Aedes albopictus, conhecido como mosquito-tigre, possui características que o tornam facilmente reconhecível em comparação com outras espécies de mosquitos que habitualmente encontramos em Portugal:
- Aspeto físico: corpo e patas com riscas brancas e pretas, conferindo-lhe o nome popular de “tigre”.
- Tamanho: mais pequeno do que o mosquito comum, geralmente entre 5 e 10 milímetros.
- Comportamento: ao contrário da maioria dos mosquitos que picam sobretudo à noite, o mosquito-tigre é ativo durante o dia, com maior intensidade ao amanhecer e ao entardecer.
- Picadas: mais agressivas e dolorosas, frequentemente múltiplas na mesma região do corpo.
- Áreas de reprodução: prefere pequenos volumes de água estagnada em ambientes urbanos, como pratos de vasos, baldes, tampas de garrafas e ralos entupidos.
Porque importa reconhecer o mosquito-tigre?
Identificar corretamente esta espécie pode ser determinante para travar a sua expansão. Qualquer suspeita de presença deve ser comunicada às autoridades locais de saúde, permitindo ativar rapidamente mecanismos de vigilância e controlo.
Uma luta que exige vigilância permanente
Desde a deteção do Aedes aegypti na Madeira em 2005, Portugal tem assistido ao avanço progressivo de mosquitos invasores. O Aedes albopictus, presente no continente desde 2017, é hoje uma preocupação crescente em diversas regiões. Os especialistas alertam que, com as alterações climáticas e o aumento das temperaturas médias, a expansão deste mosquito poderá intensificar-se, criando novos desafios para a saúde pública nacional.
O que está em risco se o mosquito-tigre se instalar definitivamente em Portugal?
Se o mosquito-tigre se consolidar de forma definitiva em Portugal continental, as consequências poderão ser sérias e duradouras. Para além do incómodo das picadas agressivas e da limitação da qualidade de vida em espaços exteriores, o risco maior é a introdução e propagação de doenças tropicais em território nacional. Num cenário extremo, surtos de dengue, zika ou chikungunya poderiam colocar uma pressão sem precedentes sobre os hospitais e centros de saúde, sobretudo durante os meses mais quentes.
Além do impacto direto na saúde, também setores como o turismo e a agricultura poderiam ser afetados. O receio de epidemias pode afastar visitantes e condicionar a economia local. Por outro lado, zonas rurais, onde os reservatórios de água são mais frequentes, poderiam tornar-se pontos críticos de reprodução.
Em última análise, a questão não é apenas médica, mas também social, económica e ambiental. A presença do mosquito-tigre é um lembrete de que vivemos num mundo globalizado, onde as fronteiras não travam espécies invasoras nem vírus emergentes. A resposta exige união, responsabilidade coletiva e ação imediata.