Portugal acordou mais pobre esta quarta-feira. Morreu Francisco Pinto Balsemão, aos 88 anos – uma das figuras mais marcantes da história recente do país. O fundador do Expresso e da SIC, antigo primeiro-ministro e militante número um do PSD, deixa um legado inapagável na política, na defesa da liberdade de imprensa e na transformação da comunicação social portuguesa.
A notícia da sua morte foi dada por Luís Montenegro durante o Conselho Nacional do PSD, provocando um longo e sentido aplauso.
Pouco depois, o primeiro-ministro anunciou a intenção do Governo de decretar um dia de luto nacional, em homenagem a uma vida dedicada ao serviço público e à democracia.
Em comunicado, a Impresa – grupo que Balsemão fundou – informou que o empresário faleceu “de causas naturais”, rodeado pela família, num momento de serenidade que contrasta com a intensidade da sua vida.
Um homem à frente do seu tempo
Jurista de formação, Francisco Pinto Balsemão foi advogado, jornalista e político, mas sobretudo um homem de ideias. Em 1973, ainda em plena ditadura, fundou o semanário Expresso – um ato de coragem que se tornaria símbolo da luta pela liberdade de imprensa.
Em 1992, voltou a fazer história ao criar a SIC, a primeira estação de televisão privada em Portugal, abrindo caminho para uma nova era mediática e dando voz a uma geração de profissionais que transformaria o jornalismo português.
Fundador do Partido Popular Democrático (PPD) em 1974, ao lado de Francisco Sá Carneiro, foi vice-presidente da Assembleia Constituinte, deputado em várias legislaturas e, após a morte trágica de Sá Carneiro no acidente de Camarate, assumiu o cargo de primeiro-ministro entre 1981 e 1983. Um período desafiante, marcado pela reconstrução interna do PSD e pela consolidação da democracia portuguesa.
Um percurso de coragem e inovação
Visionário e estratega, Pinto Balsemão era também o único português com estatuto de membro permanente do influente Clube de Bilderberg e do seu Steering Committee. Essa posição internacional refletia a sua capacidade ímpar de pensar o país e o mundo de forma integrada e moderna. Foi ainda conselheiro de Estado e membro da Comissão para a Revisão do Conceito Estratégico da Defesa Nacional, sempre com a mesma paixão pelo debate de ideias e pelo progresso coletivo.
Marcelo Rebelo de Sousa: “Portugal nunca o esquecerá”
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi seu sucessor na direção do Expresso, recordou-o com palavras de emoção: “Visionário, pioneiro, criativo, determinado, batalhador, democrata, social-democrata, europeísta e atlantista.
Esteve em quase todos os combates desde meados dos anos sessenta até hoje. Portugal não o esquece. Portugal nunca o esquecerá.”
Marcelo sublinhou ainda que Pinto Balsemão foi uma das “personalidades mais marcantes dos últimos sessenta anos”, destacando o seu papel essencial na afirmação da liberdade de expressão e de imprensa – um pilar da democracia que ele próprio ajudou a erguer e defender, contra ventos e marés.
Um legado que transcende gerações
O Expresso – que fundou e dirigiu até 1979 – e a SIC são hoje símbolos vivos da pluralidade e independência jornalística. Através deles, Francisco Pinto Balsemão criou escolas de pensamento, deu palco a novas vozes e provou que o jornalismo podia ser, ao mesmo tempo, rigoroso, livre e apaixonado. O grupo Impresa, que construiu com visão empresarial e sentido ético, é a prova de que a inovação e a integridade podem coexistir.
De acordo com o ZAP, mais do que um empresário ou político, Francisco Pinto Balsemão foi um construtor de pontes – entre gerações, entre mundos, entre ideias. O seu nome ficará para sempre associado à coragem de desafiar o poder, ao dever de informar e à crença inabalável de que a liberdade é o bem mais precioso de uma nação.
Portugal despede-se de um homem que não viveu para a glória, mas para o legado. E esse legado – de ética, coragem e visão – continuará a inspirar o país por muitas décadas.