Uma mentira repetida muitas vezes, não deixa de ser mentira. «Estivemos 500 anos em África» é uma das grandes Mentiras da História de Portugal.
A atualidade política vive o problema das fake news (“notícias falsas”, em português). Este é um termo novo, ou neologismo, frequentemente usado para se referir a notícias que são fabricadas. Estas informações falsas não têm por base a realidade. Contudo, elas são como tal, estando factualmente corretas.
Se atualmente, as “notícias falsas”, inverdades e mitos são vistos como um drama, no passado, ainda era pior. Elas também ocorreram e a população encarava-as como factos, como informações verdadeiras. No entanto, os seis efeitos eram ainda mais devastadores no passado, pois o conhecimento do povo era mais limitado.
Noutros tempos, a comunicação verbal ajudava a fazer a história e confiava-se mais na cultura do passa a palavra, existindo poucos elementos escritos a confirmarem-se como fontes credíveis. Ao longo da história, diversas individualidades acabaram por contribuir para a criação de ideias feitas que proliferaram pelo país.
Há quem defenda que quando as mentiras são frequentemente repetidas elas assumem um caráter pernicioso, pois assumem-se como verdadeiras, quando não o são. A frase “se todos aceitam a mentira, a mentira entra na história e torna-se verdade” (1984 – George Orwell) é da autoria do melhor cronista da cultura inglesa do século XX.
Ora, a capacidade que a mentira tem em manter-se sempre a circular comprova o seu pensamento. Existem em Portugal grandes mentiras que muitos elementos do povo julgam ser verdade, quando não o são.
No entanto, estas mentiras encaixaram-se na cultura popular (algumas até terão tido destaque em manuais da especialidade), como momentos da História do nosso país.
Mentiras da História de Portugal: Estivemos 500 anos em África
A presença portuguesa foi efetiva nas colónias africanas. No entanto, Portugal exerceu o seu poder ao longo de décadas, mas não foram 5 séculos.
Era comum ouvir-se falar antes do 25 de abril de 1974 da “presença portuguesa de 500 anos em África”. O regime defendia a ideia-feita de que Portugal teria estado 500 anos em África. Contudo, a nossa presença no continente africano esteve longe de se estender ao longo de 5 séculos. Esta ideia já vinha do tempo da I República.
O ensino era usado como ferramenta de orientação. Nesse tempo, a informação era censurada e o debate de ideias era simplesmente inexistente. Por isso, a opinião pública simplesmente imaginava que países como Angola e Moçambique tinham sido “sempre” o que eram.
Foi desta forma que se usava a ideia de que os “terroristas” queriam colocar termo à nossa longa permanência nesses países. Os “terroristas” encontravam-se armados por potências estrangeiras e criaram uma guerra “a partir do exterior”.
A presença de Portugal em África esteve longe de se manter por 500 anos. A efetiva presença portuguesa no continente africano tinha durado apenas algumas décadas. Os portugueses tiveram uma presença mais acentuada no século XX, na primeira metade e nos meados desse século.
Portugal manteve-se no continente africano sensivelmente pelo mesmo tempo que outros países europeus. A duração temporal de Portugal nos impérios africanos foi equivalente à permanência de países como Inglaterra, França, Bélgica, Itália e Alemanha.
Embora seja verdadeiro que os primeiros contactos de Portugal com o continente africano remontam ao século XV, é mentira que países como Angola ou Moçambique tenham sido nossos desde então.
Portugal foi pioneiro ao alcançar diversos países. No entanto, o processo não passou pela colonização de países ou de povos. Visou apenas o estabelecimento de feitorias costeiras vocacionadas para a comercialização de produtos, especialmente ouro, marfim e escravos.
A Europa só definiu as regras na segunda metade do século XIX, após a Conferência de Berlim
As regras estabelecidas permitiram uma corrida às riquezas de África. A primeira das regras definidas para a Europa era de que era necessário haver uma ocupação efetiva de um país europeu para que este pudesse reivindicar os seus direitos a esse território africano.
Desta forma, o nosso país envolveu-se em grandes guerras em África, especialmente nas últimas décadas do século XIX e também nas primeiras do século XX. Eram guerras “de pacificação”.
Uma das mais populares foi a guerra que resultou na destruição do Império Vátua do Sul moçambicano. Foi o capitão Mouzinho de Albuquerque que comandou as tropas num raide que permitiu colocar Gungunhana na prisão. Era o soberano do Império Vátua do Sul moçambicano.
Este episódio histórico ocorreu em 1895. No entanto, até 1940 foram realizadas muitas campanhas em África, em Moçambique e em Angola. Por isso, África tornou-se mais “portuguesa” nas décadas de 40 e 50 do século XX. Nesse tempo é que esses países adquiram os contornos que conhecemos e foram habitados por centenas de milhares de compatriotas.
Não é na colonização africana que Portugal apresenta grande importância histórica, mas sim na abertura da rota marítima para a Índia e para os países asiáticos. Os portugueses estabeleceram nessa fase os contactos que permitiram o estabelecimento de diversas trocas realizadas entre o Ocidente e o Oriente.
No entanto, o Brasil terá sido mesmo a maior obra portuguesa no mundo, um país imenso, que espelha muita da influência que Portugal teve no mundo. Além da língua portuguesa, existem outras particularidades que fazem com que os portugueses tenham um carinho especial por esta nação que muitos identificam como “um imenso Portugal.”
Completamente de acordo.