À falta de telemóveis, marcava-se encontro na bola Nivea. Levava-se a lancheira azul, um guarda-sol com franjas e umas cadeiras de metal e lona. Assim era a praia na segunda metade do século passado.
Nos anos oitenta, ainda não se usavam telemóveis, por isso os amigos tinham de marcar encontro à hora certa junto da única bola estival que rivalizava em popularidade com a bola de Berlim: “encontramo-nos na bola Nivea?” A jogada publicitária foi certeira e punha o nome da marca alemã nas bocas de todos durante o verão.
Mas a maioria das estruturas metálicas com uma grande bola azul no topo (que era retirada no inverno), outrora espalhadas pelo litoral de norte a sul, acabou por desaparecer; para matar saudades, há que visitar as que ainda sobrevivem na praia da Nazaré ou a praia da Claridade, na Figueira da Foz.
Entre as muitas avionetas que passavam nas zonas balneares a fazer publicidade a marcas ou a divulgar eventos, havia umas que voavam mais baixinho para lançar brindes aos banhistas, que se acotovelavam na primeira linha do mar para conseguir agarrar uma bola de praia insuflável ou, com sorte, uma t-shirt.
Com a contenção de custos publicitários e uma maior consciência ambiental, o negócio das avionetas terá hoje muito menos saída e a ideia de atirar brindes do ar tornou-se quase impensável.
Uns anos antes, era comum apresentar-se na praia um teatro de fantoches, popularmente conhecidos como “robertos”, em que a moral da história era quase sempre definida com uma carga de paulada na cabeça do fantoche prevaricador.
Nas cotações da venda ambulante de praia, as bolas de Berlim têm ganho terreno aos gelados e à “batatinha frita”. Em meados do século passado, quem fazia as delícias da pequenada era o vendedor de barquilhos, uma bolacha parecida com a língua-da-sogra.
A piada estava não só na guloseima, como também no jogo de sorte: as crianças faziam girar uma roleta que definiria a quantos barquilhos teriam direito. Descubra estas e outras memórias balneares:
Memórias de praia da nossa infância
01
A bola Nivea era ponto de encontro nas praias de norte a sul do País.
02
Antes disso, a marca alemã investiu a sua publicidade nas bolas insufláveis, também muito populares. E até havia quem usasse (erradamente) o creme hidratante da famosa lata azul como protetor solar.
03
Nos anos 80 quase todos os guarda-sóis tinham franjinhas.
04
As cadeiras de metal e a lancheira azul ainda podem ser encontradas nas praias de hoje, mas nos anos 80 eram quase obrigatórias.
05
Quem não usou umas destas? Eram especialmente úteis para prevenir picadas do famigerado peixe-aranha.
06
Nos anos 80, muito antes da chegada das Havaianas a Portugal, os chinelos de tira eram a norma.
07
O jogo do prego era outro clássico na praia. O objetivo era espetar um prego na areia na vertical, a partir de várias posições de lançamento.
08
Algumas das avionetas de publicidade lançavam brindes sobre o mar e os banhistas corriam a apanhá-los.
09
O teatro de fantoches (os “robertos”) era presença frequente nas praias de norte a sul.
10
Os “robertos” animavam a praia desde o início do século XX, como se pode ver neste postal de uma praia da Foz do Douro.
11
A tradição durou, pelo menos, até finais dos anos 70, e de vez em quando ainda é recriada nas nossas praias.
12
O vendedor de barquilhos era uma das visitas mais aguardadas em meados do século passado.
13
Em troca de uma moeda, cada criança fazia girar esta roleta e a sorte ditava quantos barquilhos (uma bolacha semelhante à língua-da-sogra) poderia comer.
Autor: Tiago Tavares
O mais importante acontecimento nas praias, na minha infância, era a chegada do “Catitinha” Um homem, de idade indeterminada -claro que para mim era velho- com uma história trágica de que se falava, mas não ele. Era um amigo das crianças. E curiosamente, todos o acolhiam com gritos de alegria e, que me lembre, nunca ninguém troçou dele ou o afugentou. Olha, o Catitinha!
Então e o farnel que as nossas mães levavam?
A minha até levava um tacho de arroz acabadinho de fazer, e embrulhado em jornais para não arrefecer! A acompanhar lá iam os deliciosos panados! O pior vinha depois, quando tínhamos de esperar 3 horas para ir à água!…