Chega de Foshan, na província chinesa de Guangdong, a notícia de um surto preocupante de febre chikungunya. Até ao momento, foram registados mais de 2.600 casos confirmados desta infeção viral transmitida por mosquitos, todos considerados clinicamente ligeiros. No entanto, as autoridades locais reagiram com rapidez e rigor: foi ativado um plano de resposta de emergência, que inclui a mobilização de 53 hospitais, mais de 3.600 camas protegidas contra mosquitos e a realização alargada de testes PCR específicos.
Este surto surge numa altura particularmente crítica: o verão quente e chuvoso do sul da China cria o ambiente perfeito para a reprodução dos mosquitos transmissores. Por isso, a prioridade tem sido clara — prevenir uma escalada incontrolável de contágios.
O que é afinal a febre chikungunya?
A febre chikungunya é uma doença viral causada pelo vírus chikungunya, transmitido principalmente pelas espécies de mosquito Aedes aegypti e Aedes albopictus. Estes insetos picam, sobretudo, ao amanhecer e ao entardecer, e vivem em ambientes próximos das populações humanas, preferindo locais com água estagnada para depositar os ovos.
A infeção não se transmite diretamente entre pessoas, mas há registos de transmissão vertical (da mãe para o bebé durante a gravidez ou parto), e também através de transfusões de sangue contaminado.
O nome chikungunya tem origem num dialeto da Tanzânia e significa “ficar curvado”, numa alusão direta às dores intensas nas articulações que afetam os infetados.
Sintomas que não devem ser ignorados
Apesar de, na maioria dos casos, os sintomas serem ligeiros, a doença pode ser extremamente debilitante. Os sinais mais comuns incluem:
- Febre alta de início súbito
- Dor de cabeça e arrepios
- Náuseas e vómitos
- Fotofobia (intolerância à luz)
- Erupções cutâneas
- Dores articulares e musculares incapacitantes, especialmente nas mãos, punhos e tornozelos
Grupos de risco, como idosos, grávidas em fase avançada e pessoas com doenças crónicas (cardíacas, renais, etc.), são mais vulneráveis às formas graves da infeção. Entre 0,6% e 13% dos casos exigem hospitalização, embora as mortes sejam raras.
A ameaça silenciosa já chegou à Europa?
Sim, e Portugal não está fora do radar. Embora não existam casos confirmados de chikungunya no nosso país, o mosquito Aedes já marca presença — desde 2005 na Madeira (Aedes aegypti) e desde 2017 no continente, primeiro em Penafiel e depois em vários concelhos do Algarve, Mértola e, mais recentemente, Lisboa.
Itália, França, Espanha, Bélgica e Alemanha já registaram surtos ou casos pontuais nos últimos anos, o que mostra que o vírus circula com facilidade em regiões onde os mosquitos se instalaram.
Como prevenir? A proteção começa em casa
A febre chikungunya não tem cura específica nem antiviral eficaz. O tratamento é sintomático e centra-se no controlo da dor e febre. A boa notícia? Em junho de 2024, a European Medicines Agency (EMA) aprovou uma vacina contra o vírus chikungunya, um avanço promissor no controlo de surtos futuros.
Até lá, a prevenção é a melhor arma. Eis algumas medidas essenciais:
- Usar repelente de insetos em todas as zonas expostas do corpo
- Vestir roupas compridas, claras e de tecido leve
- Dormir com redes mosquiteiras e usar ar condicionado sempre que possível
- Eliminar águas paradas: pratos de vasos, baldes, piscinas, pneus, etc.
- Evitar estar no exterior ao amanhecer e ao entardecer
- Proteger janelas com redes
A globalização e as alterações climáticas como combustível da epidemia
A expansão da chikungunya reflete uma realidade cada vez mais difícil de ignorar: os efeitos da globalização e das alterações climáticas. As mudanças nos padrões climáticos favorecem a sobrevivência e expansão dos mosquitos vetores para zonas onde antes não existiam. Ao mesmo tempo, o aumento das viagens internacionais e transporte de mercadorias facilita a propagação de doenças tropicais para áreas temperadas.
Conclusão: alerta sem pânico, mas com responsabilidade
O surto de chikungunya na China serve de alerta global. Não é motivo para pânico, mas sim para vigilância, responsabilidade e ação. Portugal, apesar de ainda sem casos confirmados, está inserido num cenário europeu de risco crescente. Manter-se informado, adotar medidas preventivas e estar atento aos sintomas são gestos simples que podem fazer toda a diferença, explica a Sic Notícias.
Num mundo cada vez mais interligado, a saúde pública é um bem coletivo — e começa por cada um de nós.