Fique a conhecer Luísa de Jesus, uma mulher que demonstrou ser um monstro e que foi condenada e enforcada pelos crimes inenarráveis que cometeu.
A história de Portugal é longa. São quase 900 anos de história. Ao longo destes 9 séculos de existência, aconteceram momentos que levaram o país à Glória, o que permitiu que o nome de algumas pessoas se eternizasse como heróis de Portugal. Contudo, o contrário também aconteceu.
O nosso país também teve pessoas que cometeram ações que as tornaram em temidos vilões. Estas pessoas ficaram para a história pelas piores razões. Não se eternizaram, como aconteceu com os heróis. São notas de rodapé que servem como mera curiosidade.
Por exemplo, houve uma mulher que se tornou num monstro assassino. Ela foi enforcada, após ser condenada pelos seus crimes inenarráveis.
A última mulher condenada à morte em Portugal
Luísa de Jesus (1750-1772)
O apelido Jesus está presente no nome completo desta mulher, mas ela não fez milagres, pelo contrário. Esta mulher nasceu em Figueira do Lorvão, em dezembro de 1748. Luísa de Jesus era filha de Manoel Rodrigues e Marianna Rodrigues. Tal como acontecia com os seus pais, Luísa era de classe baixa. Esta mulher trabalhava como recoveira. Percorria as aldeias fazendo compra e venda de mercadorias.
Luísa de Jesus teve uma infância saudável. Ela não foi vítima de maus-tratos, um contexto delicado que em determinadas ocasiões pode fazer com que algumas pessoas fiquem propensas a desenvolver psicopatia. Por isso, nada fazia prever o lado negro de Luísa de Jesus.
O lado negro
Luísa de Jesus é apontada como a primeira assassina em série portuguesa. Apesar de entrar nos livros de história pelos piores motivos, não se sabe muito sobre esta mulher que revelou o lado mais negro e sombrio do ser humano. Esta é uma personagem enigmática que cometeu crimes hediondos.
Roda dos Enjeitados
Na época, era comum existirem casas com este dispositivo de madeira cilíndrico. Conventos e hospitais servem de exemplo de locais que tinham estes dispositivos. Nestes espaços, havia pessoas (podiam ser enfermeiras, religiosas ou outras que se encarregavam de assegurarem os cuidados mínimos que os bebés necessitavam).
Este dispositivo era dividido ao meio e era giratório. Desta forma, as mães colocavam os bebés neste dispositivo, abandonando a criança em privacidade. Depois, tocavam numa sineta para avisar as pessoas que se encontravam nesta casa que um bebé tinha sido colocado. Desta forma, a criança não ficava à espera e tinha logo a atenção que merecia.
O incentivo
A Casa da Roda de Coimbra pretendia que os bebés e crianças abandonadas fossem acolhidas por famílias. Nesta casa, eram deixadas 200 crianças por ano. Contudo, apesar dos esforços da instituição, metade estava condenada a morrer em pouco tempo. Poucos dos restantes tinham a sorte de encontrarem o carinho para uma família.
Por isso, como incentivo para as famílias que desejassem adotar as crianças, havia a oferta da quantia de 600 réis, além de um enxoval e meio metro de um tecido grosso de algodão.
Oportunidade
Este trabalho como recoveira permitia a Luísa Jesus a oportunidade de lidar com várias pessoas e ficar a conhecer várias casas. Era desta forma que Luísa Jesus ia buscar bebés na Casa da Roda de Coimbra.
Neste espaço, as crianças indesejadas eram abandonadas pelas mães que sentiam não ter condições mínimas para criar os seus bebés. Luísa “adotou” bebés e crianças motivada pelos incentivos. No total, adotou 34 bebés, todos nesta casa.
Os crimes
Adotar 34 crianças podia ser um gesto nobre e bonito. No entanto, Luísa Jesus não tinha as melhores intenções. Esta mulher era a morte em pessoa; ceifava a vida dos bebés e crianças. Luísa asfixiava as crianças com as próprias mãos, mal se encontrava sozinha com elas. Ela apertava-lhes o pescoço até elas libertarem o seu último suspiro.
Depois, seguia em direção ao Monte-Arroio, situado a pouco metros perto da Roda de Coimbra, onde os enterrava. Algumas vezes levou as crianças até ao seu casebre, onde desmembrava os corpos, colocando os pedaços num pote. Posteriormente, guardava-os debaixo de palha ou em buracos no chão.
Os crimes cometidos por Luísa de Jesus foram atrozes. Esta mulher foi condenada pelos crimes cometidos. Foi em finais do século XVIII que chocou a sociedade com os seus crimes. Luísa de Jesus tirou a vida de pelo menos trinta e três crianças, tendo como objetivo obter uma compensação financeira. Os crimes foram cometidos com as próprias mãos.
O lucro dos crimes
Enquanto recoveira, a jovem era transportadora de encomendas da cidade para Gavinhos, que era uma aldeia de moleiros e lavradores e até para toda a freguesia de Figueira do Lorvão. Luísa adotava os bebés e crianças supostamente a pedido de outrem. Tudo fazia crer que era assim mesmo e que depois entregava os bebés e as crianças às respetivas famílias.
Por cada criança, ela embolsava 600 réis, entre outras coisas. Por isso, no total, foram mais de 20 mil réis. Um valor elevado que representava o equivalente ao ordenado de seis meses de uma cozinheira ou o equivalente ao ordenado de um ano de uma moça de cozinha do Hospital Real das Caldas.
A descoberta dos crimes
No dia 1 de abril de 1772, os crimes desta mulher monstruosa chegaram ao fim. Após a Freira Angélica Maria ter tropeçado num cadáver que se encontrava mal enterrado no Monte-Arroio foram realizadas escavações no local. Descobriram-se assim mais dois bebés naquele local. Era possível ver nos pescoços das vítimas marcas evidentes de estrangulamento.
A principal suspeita do caso foi Luísa de Jesus. Após o interrogatório realizado no dia 6 de abril, Luísa de Jesus revelou toda a sua frieza ao confessar ter assassinado os três bebés que tinham sido encontrados naquele local.
Descoberta da verdade
As autoridades decidiram prosseguir com a investigação, mesmo depois de Luísa de Jesus ter confessado os crimes. Foi dessa forma que se descobriu que esta mulher conseguiu adotar várias crianças, após dar à Casa da Roda de Coimbra endereços e nomes falsos.
Supostamente, Luísa de Jesus servia como intermediária, levando as crianças a outras famílias, mas nenhum bebé chegou efetivamente às mãos das supostas famílias que iriam adotá-los; apenas pereceram nas mãos de Luísa de Jesus.
Esta mulher gozava de grande confiança neste espaço. Por isso, a diretora da Roda, Leocádia Maria da Conceição, e a ama Margarida Joaquina depositavam os bebés e crianças nas mãos da jovem Luísa de Jesus, confiando nas informações que ela repassava, sem nunca confirmarem a sua veracidade.
Negligência
A diretora da Roda, Leocádia Maria da Conceição, e a ama Margarida Joaquina acabaram por serem presas, devido ao que hoje poderia ser chamado de ‘negligência criminosa’. No entanto, as duas mulheres acabaram por ser libertadas logo depois.
Luísa deveria ter algum poder especial e conseguiu ludibriar toda a gente até ser descoberta. Esta mulher até conseguiu enganar o advogado Pascoal Luís Ferreira da Silva, pessoa que estava responsável por registar as certidões dos recém-nascidos no cartório. Este homem chegou a atestar a veracidade dos dados fornecidos por Luísa de Jesus.
Por isso, o advogado também foi preso. Contudo, também ele foi solto pouco depois, devido à falta de provas do envolvimento de Pascoal Luís Ferreira da Silva nos crimes de Luísa de Jesus.
A confirmação do Monstro
As escavações no Monte-Arroio prosseguiram e foram feitas novas descobertas. O número de bebés encontrados foi chocante e assustador. Os dias seguintes permitiram testemunhar o crescimento do monstro.
No dia 18 de abril, Luísa de Jesus confessou ter matado mais sete crianças, mas já tinham encontrado 15 bebés no Monte-Arroio. Posteriormente, Luísa confessou ter assassinado 9 bebés. No entanto, negava ser a responsável pela morte das outras crianças.
Seguiu-se outra descoberta macabra. Após terem sido realizadas buscas na casa de Luísa, foram encontrados mais corpos. No total, encontraram-se 18 corpos de bebés na casa desta assassina em série.
Entre esses corpos, oito encontravam-se desmembrados e distribuídos em potes. Havia ainda dez corpos que tinham sido enterrados.
Por resolver
Ao somar-se os 15 que tinham sido encontrados no Monte-Arroio aos 18 encontrados na sua casa, chega-se à quantia de 33 corpos. As autoridades descobriram que no registro da Casa da Roda de Coimbra constava a informação de que Luísa “adotou” 34 crianças.
Porém, nunca foi revelado o paradeiro da 34ª criança. Apesar das autoridades encontrarem 33 corpos, Luísa só confessou ter asfixiado 28 crianças.
A morte
Luísa de Jesus foi condenada, após admitir grande parte dos crimes realizados. Apesar de ter confessado 28 assassínios, ela terá cometido 34, número de crianças que adotou (embora o corpo de uma delas nunca tenha sido encontrado).
Luísa de Jesus recebeu a sentença severa no dia 1 de julho. Ela tornou-se a última mulher a receber a pena de morte em Portugal. O tribunal culpou Luísa de Jesus de todos os homicídios.
Os juízes defenderam que no nosso país nunca se viu “um monstro de coração tão perverso e corrompido”. A assassina em série foi condenada a percorrer as ruas com uma corda no pescoço. Enquanto fazia o percurso pelas ruas, os seus crimes eram lidos em voz alta, atiçando a raiva na multidão que a cercava.
Luísa ainda foi queimada com uma tenaz em brasa e teve as suas mãos decepadas. Luísa de Jesus morreu no garrote e o seu cadáver foi queimado pouco depois. Ela tornou-se a última mulher a ser enforcada no nosso país, na sequência de uma pena de morte.
Luísa de Jesus tinha apenas 22 anos de idade quando deu o seu último suspiro…