Linda de Suza (Beringel, Beja, 22 de fevereiro de 1948 – Gisors, Eure, França, 28 de dezembro de 2022), nome artístico de Teolinda Joaquina de Sousa Lança, foi uma das mais icónicas cantoras portuguesas da história da emigração. A sua voz inconfundível e as suas canções carregadas de saudade e emoção transformaram-na num verdadeiro símbolo da luta e resiliência dos portugueses que partiram à procura de um futuro melhor. “A Mala de Cartão”, título do seu livro autobiográfico e uma das suas canções mais emblemáticas, tornou-se o reflexo da sua própria história e da de muitos emigrantes que atravessaram fronteiras em busca de uma vida digna.

Uma infância difícil e os primeiros passos no mundo
Linda de Suza teve uma infância marcada pela adversidade. Criada num orfanato, o asilo D. Pedro V, dos 5 aos 11 anos, conheceu cedo a dureza da vida. Antes de emigrar, trabalhou numa fábrica têxtil e como empregada de servir na Amadora, ocupando-se de tarefas domésticas para sobreviver.
A sua decisão de partir para França em 1970 foi um ato de coragem e desespero. Com um filho pequeno nos braços, atravessou a fronteira clandestinamente, como tantos outros portugueses da época. Durante anos, trabalhou como mulher-a-dias em Paris, enfrentando dificuldades extremas, mas mantendo sempre vivo o sonho de cantar.
A ascensão ao estrelato e o reconhecimento internacional
O seu talento natural e a sua história de vida cativaram o público francês. Começou a cantar no restaurante “Chez Loisette”, em Saint-Ouen, onde foi descoberta pelo compositor André Pascal. Apresentada a Alex Alstone, outro compositor influente, Linda de Suza encontrou a oportunidade que tanto procurava.
A primeira grande prova de fogo chegou quando participou no programa televisivo “Les Rendez-vous du Dimanche”, de Michel Drucker, interpretando “Un Portugais” para uma audiência de mais de 20 milhões de telespectadores. A canção tornou-se um sucesso estrondoso, alcançando rapidamente o galardão de platina.
Nos anos seguintes, Linda de Suza lançou uma série de álbuns que a consolidaram como uma das vozes mais respeitadas da música francesa e portuguesa:
- 1979 – “Uma Moça Chorava” e o álbum “Amália/Lisboa”;
- 1982 – “L’Étrangère”, um dos seus discos mais marcantes;
- 1984 – Publica “A Mala de Cartão”, livro autobiográfico que rapidamente se torna um best-seller.
Os seus espetáculos esgotavam salas icónicas, incluindo o Olympia de Paris, onde fez questão de convidar a sua mãe para a ver atuar ao vivo, num gesto simbólico de reencontro e reconciliação com as suas origens.
Linda de Suza tornou-se, assim, um ícone cultural para os emigrantes portugueses e para todos aqueles que encontraram nas suas músicas um espelho das suas próprias vivências e saudades.
Os anos difíceis e o declínio da carreira
Apesar do sucesso, a vida de Linda de Suza nunca foi fácil. Nos anos 2010, enfrentou várias dificuldades financeiras, tendo sido vítima de esquemas fraudulentos que a deixaram arruinada. Em 2015, revelou que vivia com apenas 400 euros de reforma, sem receber praticamente nada em direitos de autor.
Os problemas de saúde também se agravaram. Em setembro de 2022, foi internada em estado grave num hospital francês, sofrendo de distúrbios psicológicos e recusando-se a comer. Em 28 de dezembro de 2022, faleceu em Gisors, Normandia, vítima de complicações associadas à COVID-19.
A sua morte representou o fim de uma era, mas o seu legado permanece intacto na memória de todos os que cresceram a ouvir a sua voz e a emocionar-se com as suas histórias cantadas.
O legado de Linda de Suza
O impacto de Linda de Suza transcendeu a música. Ela foi uma verdadeira embaixadora da cultura portuguesa em França, uma voz que contou as histórias de tantos emigrantes e deu-lhes representação num país que os acolheu.
A sua autobiografia “A Mala de Cartão” foi adaptada para televisão e cinema, sendo um dos testemunhos mais marcantes sobre a experiência da emigração portuguesa. Em 1986, a história foi transformada numa comédia musical, e em 1988 foi produzida a versão cinematográfica, com participação de nomes como Irene Papas e Raul Solnado.
Ao longo da sua carreira, Linda de Suza cantou em cinco línguas (português, francês, alemão, espanhol e inglês) e recebeu diversas distinções. A 1 de outubro de 1985, foi feita Dama da Ordem do Infante D. Henrique, reconhecimento do seu contributo para a divulgação da cultura portuguesa no estrangeiro.
Uma estrela que nunca se apagará
Linda de Suza pode ter partido, mas a sua música continuará a ecoar nos corações de muitos. A sua vida foi um reflexo da força e determinação de milhares de portugueses que, com uma “mala de cartão”, partiram em busca de um futuro melhor. E tal como ela, nunca esqueceram as suas raízes.
Na voz de Linda de Suza, a saudade, o amor e a esperança ganharam melodia. E essa melodia nunca deixará de ser cantada.