Foi preciso um simples vídeo no TikTok para mudar os planos de férias de Gergana Krasteva, jornalista búlgara radicada em Londres e repórter sénior de assuntos internacionais do jornal britânico Metro. Em menos de um minuto, as imagens de uma ilha perdida no sul de Portugal — sem hotéis, sem estradas, sem lojas, sem barulho — despertaram nela uma urgência: descobrir com os próprios olhos o que ainda existe de intocado no coração do Algarve.
E assim começou a viagem de mais de 2.396 quilómetros até à Ilha da Barreta, também conhecida como Ilha Deserta, situada no magnífico Parque Natural da Ria Formosa, a poucos minutos de Faro. Aquilo que encontrou ali — e que descreveu numa reportagem comovente publicada no final do mês passado — foi um raro pedaço de mundo onde o tempo desacelera, o silêncio cura e a natureza fala mais alto que qualquer cidade.
O apelo de um paraíso sem filtros: o vídeo que mudou tudo
Gergana viu o vídeo num scroll apressado no TikTok. Era curto, sem grandes produções, mas poderoso: uma ilha cercada por dunas douradas, sem rasto de humanidade à vista. Nem carros, nem multidões, nem resorts, nem vozes. Apenas areia, mar e céu.
“Fiquei imediatamente convencida”, escreveu a jornalista. “Aquela solidão parecia-me libertadora.”
Impulsionada pela imagem de um paraíso secreto algarvio, preparou-se para uma jornada solitária até à extremidade mais tranquila de Portugal.
A travessia para o isolamento: rumo à Ilha Deserta
A viagem até à ilha começa em Faro, com um ferry de 45 minutos que serpenteia pelos canais da Ria Formosa. O barco levava apenas meia dúzia de passageiros: um ornitólogo, uma família portuguesa e uma funcionária do Estaminé, o único restaurante e construção existente na ilha.
Ao desembarcar, Gergana descreve um cenário quase cinematográfico.
“Uma passadeira de madeira guia-me do cais até à praia. Não há recepção, nem placas, nem sombra de um guarda-sol alugado. Senti-me, por um momento, como Tom Hanks no filme O Náufrago.”
O silêncio como luxo: uma ilha que devolve o essencial
A Ilha da Barreta é uma das últimas verdadeiras ilhas desertas de Portugal. Localizada num ecossistema protegido, acolhe mais de 200 espécies de aves migratórias, bem como golfinhos-roazes e golfinhos-riscados que, por vezes, acompanham as embarcações.
Lá, a jornalista entregou-se ao essencial:
- Apanhar conchas ao longo da maré baixa
- Nadar em águas cristalinas
- Construir castelos de areia com as próprias mãos
- Sentar-se a ouvir… o silêncio
“Para quem procura isolamento, a Ilha da Barreta é um dos últimos lugares em Portugal onde ainda existe um silêncio verdadeiramente reconfortante.”
Não há Wi-Fi, não há bares de praia com música alta, não há selfies em massa. Apenas a vastidão azul do mar e a paz absoluta de estar fora do mundo — e dentro de si.
O regresso a Faro: cultura, sabor e autenticidade algarvia
De volta ao continente, Gergana mergulhou noutra dimensão do Algarve: a gastronomia e a cultura local.
Em Faro, seguiu a recomendação de Christophe De Oliveira, proprietário do alojamento The Modernist, e visitou a Santa Maria Petiscaria, onde foi recebida por Ricardo Couto, gerente e apaixonado defensor da autenticidade portuguesa.
“É importante procurar restaurantes frequentados por portugueses, especialmente ao fim de semana. É aí que se prova o verdadeiro sabor do Algarve.”
Polvo, ostras, peixe fresco — tudo apanhado no mar ali ao lado. Nada de menus turísticos estandardizados. Apenas pratos com alma, servidos com orgulho e tradição.
Sobre o ambiente local, Ricardo foi claro:
“Faro é uma cidade tranquila. Está tudo fechado depois da meia-noite. Os turistas britânicos são bem-vindos… desde que fiquem em Albufeira.”
Uma observação com ironia subtil, que espelha bem a diferença entre o Algarve autêntico e o Algarve dos folhetos turísticos.
A despedida entre vinhas e oliveiras milenares
Para fechar a viagem, Gergana escolheu um cenário simbólico: o Morgado do Quintão, uma propriedade vinícola algarvia com alma e história, onde almoçou à sombra de uma oliveira com dois mil anos. O vinho, o silêncio e a paisagem selaram o fim de uma viagem onde o tempo parou, e os sentidos despertaram.
Portugal sem filtros: uma experiência que se vive com o coração
A reportagem de Gergana Krasteva não é apenas um relato de viagem, refere o Postal do Algarve. É um lembrete. Um apelo à redescoberta dos espaços que ainda escapam à pressa, à exploração em massa e à artificialidade do turismo contemporâneo. A Ilha Deserta não é apenas um destino — é um estado de espírito.
Se estás à procura de um lugar onde te possas reencontrar, onde o silêncio não é incómodo, mas uma bênção, talvez esteja na hora de seguires o mesmo impulso que levou esta jornalista britânica ao Algarve. Porque o paraíso ainda existe. E, por sorte, fica em Portugal.
Guia prático para visitar a Ilha Deserta
- Localização: Ilha da Barreta, Ria Formosa, Faro
- Acesso: Ferry diário a partir do Cais da Porta Nova (Faro)
- Tempo de viagem: cerca de 45 minutos
- Infraestruturas: Apenas o restaurante Estaminé
- Dica: Levar água, protetor solar, chapéu e um livro. Não há lojas nem sombras naturais.
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