Imagine falar com Jesus e receber as respostas imediatamente. Um experiência realizada numa capela católica, na Suíça, propôs fazer isso com a ajuda da tecnologia.
Uma iniciativa singular está a atrair atenções na capela de São Pedro, a igreja católica mais antiga de Lucerna, Suíça. Trata-se da instalação de uma obra de arte experimental chamada “Deus in Machina”, que combina tecnologia de inteligência artificial (IA) com um espaço tradicional de introspeção: o confessionário.
Este projeto inovador foi concebido para marcar o centenário da paróquia, celebrado em novembro de 2024, e visa explorar o diálogo entre fé e tecnologia.
O funcionamento da instalação
A experiência é simples, mas provocadora. Ao entrar no confessionário, os visitantes encontram uma representação de Jesus Cristo, manifestada através de um programa de IA.
Este saúda os interlocutores com uma mensagem acolhedora: “A paz esteja contigo, irmão”, e convida-os a partilhar pensamentos, preocupações ou reflexões que tenham no coração. De acordo com Marco Schmid, teólogo da paróquia e um dos responsáveis pelo projeto, o programa foi treinado utilizando textos bíblicos e teológicos disponíveis online.
A intenção, explica, não é reproduzir o sacramento da confissão, mas criar um espaço de reflexão orientado por princípios teológicos consistentes. “Em todos os testes realizados, as respostas alinhavam-se com a visão teológica da Igreja de São Pedro”, afirmou Schmid ao jornal swissinfo.ch.
Uma experiência segura e assistida
Para garantir a segurança dos participantes e evitar mal-entendidos, os responsáveis pela instalação recomendam que os utilizadores não partilhem informações pessoais durante as interações. “Não é uma confissão”, reforça Schmid, sublinhando que o objetivo não é substituir o papel humano do sacerdote, mas sim provocar discussões sobre os limites e as possibilidades da tecnologia na esfera espiritual.
Além disso, a paróquia disponibiliza colaboradores próximos à instalação. Estes funcionários estão prontos para conversar com os visitantes que prefiram um contacto mais humano ou que desejem partilhar as suas impressões sobre a experiência.
A conexão entre fé e tecnologia
O projeto culminará numa apresentação pública e discussão dos resultados, a 27 de novembro de 2024. Este debate promete abordar questões profundas sobre o papel da inteligência artificial em práticas religiosas e espirituais.
A iniciativa reflete um esforço de inovação na busca de novas formas de envolver a comunidade e de compreender as mudanças culturais e tecnológicas do século XXI. A escolha de Lucerna para acolher este projeto experimental não é fortuita. A cidade é conhecida pelo seu dinamismo cultural e pela abertura a projetos que cruzam diferentes áreas do saber, tornando-a um terreno fértil para diálogos interdisciplinares.
Reflexões para o futuro
“Deus in Machina” levanta questões éticas e teológicas que desafiam tanto crentes quanto céticos. Pode uma máquina representar uma figura divina? Que implicações tem esta experimentação para a prática religiosa tradicional? E, sobretudo, que papel deve a tecnologia assumir na espiritualidade?
Embora a instalação tenha recebido feedback positivo por parte dos visitantes, que elogiam a inovação, também gerou críticas de quem vê na IA uma possível banalização de espaços sagrados. Independentemente das opiniões, a iniciativa cumpre o seu objetivo: estimular o debate sobre como a fé pode coexistir e evoluir num mundo moldado pela tecnologia.
Conclusão
“Deus in Machina” é mais do que uma simples instalação artística; é uma ponte entre o antigo e o moderno, entre a tradição e a inovação.
Ao oferecer uma experiência que une introspeção espiritual e inteligência artificial, este projeto abre novas possibilidades de interação entre o ser humano, a fé e as ferramentas digitais, deixando no ar a questão: estará a espiritualidade preparada para a revolução tecnológica?