O Imposto Único de Circulação (IUC), popularmente conhecido como o antigo “selo do carro”, vai sofrer uma das maiores alterações da última década. A partir de 2026, o pagamento deixará de estar associado ao mês da matrícula e passará a concentrar-se no mês de fevereiro, num modelo que pretende “combater esquecimentos” e tornar o processo mais simples. Mas a mudança traz consigo dúvidas legítimas — e consequências que poderão mexer com o orçamento das famílias portuguesas.
Um novo calendário para o imposto automóvel
Atualmente, o IUC é pago todos os anos no mês da matrícula do veículo. Ou seja, um automóvel registado em março paga em março, outro registado em setembro paga em setembro, e assim sucessivamente. A partir de 1 de janeiro de 2026, o sistema muda radicalmente:
- Se o valor do IUC for até 100 euros, o pagamento deve ser feito até ao final de fevereiro.
- Se o valor ultrapassar os 100 euros, o contribuinte pode pagar tudo em fevereiro ou dividir em duas prestações, sendo a primeira em fevereiro e a segunda em outubro.
Esta concentração de pagamentos poderá, no entanto, ter impacto nas finanças familiares. Quem tem mais do que um carro verá os pagamentos coincidir no mesmo mês, reduzindo a margem de gestão do orçamento.
Por que razão o Governo decidiu mudar
De acordo com o Ministério das Finanças, a alteração insere-se na Agenda para a Simplificação Fiscal e visa resolver um problema prático: o esquecimento.
Com o fim do sistema antigo de matrículas, que incluía o mês do registo (por exemplo, “21-AB-07”), muitos contribuintes deixaram de saber em que mês deveriam pagar o imposto. Resultado: aumentaram os atrasos e as coimas por incumprimento.
Assim, o Governo optou por uniformizar o calendário, concentrando o pagamento no mesmo mês para todos os contribuintes, o que, segundo a tutela, facilitará também a gestão administrativa por parte da Autoridade Tributária.
O que acontece a quem paga o IUC em dezembro de 2025
Este é um dos pontos que mais dúvidas tem gerado. A Deco Proteste esclarece que quem tiver um carro com matrícula de dezembro e pagar o imposto no final de 2025, ainda ao abrigo do regime antigo, terá de voltar a pagar em fevereiro de 2026.
Isto significa que, por uma questão de transição entre regimes, haverá casos em que o intervalo entre dois pagamentos será de apenas dois meses.
Por outro lado, quem adquirir um automóvel novo em janeiro de 2026 fará o primeiro pagamento do IUC nos 30 dias após o registo e só voltará a pagar em fevereiro de 2027, já dentro das novas regras.
Como o valor do IUC é calculado
O montante a pagar depende de diversos fatores, entre eles:
- Categoria do veículo (existem sete categorias distintas, de acordo com o Código do IUC);
- Ano da matrícula;
- Cilindrada do motor;
- Tipo de combustível e emissões de CO₂.
Veículos mais poluentes e com maior cilindrada tendem a pagar valores significativamente mais altos, enquanto os automóveis elétricos estão atualmente isentos deste imposto.
Pagamento e prazos
O pagamento do IUC deve ser feito preferencialmente através do Portal das Finanças, utilizando a referência multibanco gerada automaticamente. O não pagamento dentro do prazo pode implicar juros de mora e coimas, além de possíveis impedimentos na venda do veículo.
No caso das duas prestações, se o automóvel for vendido entre fevereiro e outubro, a segunda prestação passa a ser responsabilidade do novo proprietário — o que exige atenção redobrada no momento da transação.
Impacto financeiro e previsões
Especialistas em finanças pessoais alertam que a mudança pode parecer simples, mas terá impacto direto na tesouraria das famílias, sobretudo nas que possuem vários veículos.
Quem até agora tinha os pagamentos distribuídos ao longo do ano, passará a ver as despesas concentradas num único mês — um pormenor que poderá fazer diferença no orçamento mensal.
A recomendação é clara: planear com antecedência, rever os valores de cada viatura no Portal das Finanças e, se possível, reservar o montante necessário antes da chegada de fevereiro.
Conclusão
O novo modelo de pagamento do IUC vem simplificar o calendário, mas exige mais disciplina financeira. A medida promete reduzir esquecimentos, mas também pode pesar no bolso de muitas famílias, especialmente durante o primeiro ano de transição.
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