Infante D. Henrique ficou conhecido como o Navegador, mas foi em terra firme que teve um papel decisivo na Era dos Descobrimentos, como impulsionador das viagens marítimas.
Há um português que foi filho e irmão de reis e teve um protagonismo determinante na época histórica mais dourada de Portugal. O Infante D. Henrique tornou-se num dos nomes mais emblemáticos da história portuguesa. O seu papel na expansão ultramarina que, mais tarde levou novos mundos ao mundo, foi crucial.
Ficou conhecido como o Navegador, mas foi em terra firme que teve um papel decisivo na Era Descobrimentos, como Impulsionador das viagens marítimas. Por isso, o Infante D. Henrique tornou-se igualmente uma personalidade ilustre e incontornável da História da humanidade!
Infante D. Henrique: a história de um herói
O Infante D. Henrique (1394-1460)
O infante D. Henrique nasceu a 4 de março de 1394, na cidade do Porto. O seu pai foi o rei D. João I e D. Filipa de Lencastre foi a sua mãe. O seu irmão, Duarte I, foi o décimo primeiro rei de Portugal.
Educação
O filho do Rei D. João I, Infante D. Henrique, recebeu uma educação exemplar, segundo a tradição da época. Naturalmente, era uma educação profundamente religiosa.
A moral do Infante D. Henrique enquadrou-se no moralismo puritano inglês. Tal pode ser revelado nos escritos do seu pai e dos seus irmãos, que se mostravam preocupados em emitir juízos morais e em dar conselhos. O próprio Infante D. Henrique deixou conselhos escritos e um breve tratado de teologia.
Valoriza o conhecimento
Ao longo da sua vida, o Infante D. Henrique teve a oportunidade de exercer diversos cargos. Alguns demonstraram o seu interesse pela descoberta. Ele valorizava o conhecimento.
O Infante D. Henrique exerceu o cargo de “protetor” da Universidade de Lisboa. Foi procurador desta instituição, exercendo a sua influência, enquanto se encontrava junto do rei.
Este era um cargo de grande prestígio, por isso os reis apenas atribuíam este cargo a figuras de grande importância social. Um dos grandes destaques da ação do Infante no interior da Universidade vai para a renda concedida ao curso de Teologia.
O interesse do Infante D. Henrique pela navegação levou a que patrocinasse uma escola de cartografia. Chegou a trazer de Maiorca um conhecedor da ciência, um judeu de nome Jaime.
O Navegador
O grande objetivo do Infante D. Henrique era conhecer novos mundos. O Infante D. Henrique ficou conhecido como o Navegador, pela importância que teve na Era dos Descobrimentos, pela forma como contribui (em terra firme) nas primeiras viagens expansionistas.
O Atlântico era um oceano “virgem” de navegação. Foi este homem singular que incentivou a exploração deste vasto oceano. A ele deve-se o primeiro impulso e o seu grande incentivo em contribuir para as navegações posteriores.
O infante D. Henrique ficou assim eternamente ligado a este período glorioso da História de Portugal. A sua ação no Norte de África e no Atlântico revelou-se crucial. O Infante D. Henrique revelou-se um homem extremamente poderoso. Ele foi nomeado dirigente da Ordem de Cristo.
Reputação
A obra do Infante D. Henrique era, então, conhecida na Europa, Poggio Bracciolini, sábio italiano, escreveu uma carta ao Infante que atesta isso mesmo. Poggio Bracciolini comparou os feitos do português ao de outras figuras históricas de grande relevo, nomeadamente Alexandre, o Grande, e Júlio César.
O letrado italiano enalteceu ainda mais os feitos do Infante D. Henrique por se tratarem de conquistas de locais desconhecidos de toda a Humanidade. A atitude e perseverança do Infante D. Henrique resultaram em diversos feitos, na descoberta (1419) da Madeira e na respetiva colonização (1425); também contribuiu para o dobrar do cabo Bojador (que ocorreu em 1434); ajudou na descoberta dos Açores (1427) e na sua respetiva colonização (1439).
Outros momentos importantes foram a chegada ao cabo Branco (1441), à ilha de Arguim (1443), ao rio Senegal (1444), às ilhas de Cabo Verde (1456) e à Serra Leoa (1460).
Breve biografia
Em 1414, o Infante tinha apenas 20 anos de idade, quando convenceu o pai a organizar uma expedição a Ceuta. Esta cidade foi conquistada em 1415. A conquista desta cidade foi bastante importante, pois permitiu o controlo da navegação na costa norte da África.
Este feito de D. Infante Henrique foi considerado como o verdadeiro início da expansão ultramarina portuguesa, abrindo assim uma Era de ouro na nossa história. Esse momento foi decisivo. O jovem D. Infante Henrique percebeu que as rotas comerciais transaarianas poderiam revelar-se bastante lucrativas.
A rota de escravos e do comércio de ouro permitiu ligar a África Ocidental ao Mar Mediterrâneo durante séculos. Ele percebeu que os poderes muçulmanos tinham controlo sobre grande parte do território, por isso D. Henrique sabe até onde se estendiam os territórios muçulmanos.
Ele tinha esperança em ultrapassá-los por mar. Por isso, quis encontrar aliados em terras cristãs que se acreditava existirem para o sul. A sua intenção era chegar às Índias, nação com riqueza que assegurava o lucrativo comércio de especiarias.
No ano de 1418, D. Henrique e o seu navegador João Gonçalves Zarco redescobriu a ilha de Porto Santo. Um ano mais tarde, em 1419, Tristão Vaz Teixeira chega à Ilha da Madeira. A localização destes pontos era importante. Eram locais estratégicos, por isso existia interesse de portugueses e castelhanos nos arquipélagos da Madeira e das Canárias.
Diogo de Silves alcançou o arquipélago dos Açores em 1427. Por ordem do Infante D. Henrique, estas ilhas foram logo povoadas.
Feitos
Gomes Eanes de Zurara é das poucas pessoas que nos deixam algo que nos ajuda a descobrir mais sobre a complexa e enigmática figura que foi o Infante D. Henrique. Na sua
Crónica da Guiné, Gomes Eanes de Zurara exalta o Infante a um nível quase sobrenatural.
Uma das definições feitas ao Infante revela a sua vasta admiração. D. Henrique é um “príncipe pouco menos que divinal”. Gomes Eanes de Zurara realiza o retrato psicológico do Infante e enaltece as respetivas qualidades virtuosas e pias.
O cronista dá ênfase à castidade e ao facto do Infante D. Henrique não beber vinho. Segundo Gomes Eanes de Zurara, o português não demonstrava avareza. Pelo contrário, era tido como um muito aplicado trabalhador. Segundo o cronista, o Infante D. Henrique suprimia horas do seu repouso noturno para dedicar mais tempo aos seus projetos.
O episódio do irmão
O feitio obstinado do Infante D. Henrique está ligado a um momento trágico para a sua família. O Infante D. Fernando foi o oitavo filho do rei João I de Portugal (e de sua mulher Filipa de Lencastre). Ele era o mais novo dos membros da Ínclita Geração.
D. Fernando fez uma ousada expedição militar ao Norte de África. A campanha foi desastrosa. No entanto, para evitar a chacina total dos portugueses, foi estabelecida uma rendição.
O infante D. Fernando foi deixado como penhor da devolução de Ceuta (que tinha sido conquistada pelos portugueses em 1415). D. Henrique regressou a Portugal para contar ao rei que a expedição tinha sido um completo desaire e revelou que tinha sido selado um compromisso que permitia o resgate de D. Fernando.
Decisão
A decisão de entregar Ceuta (que se tratava agora de uma cidade cristã) revelava-se uma decisão bastante delicada. Seria o renunciar da primeira conquista realizada em África. D. Duarte convocou a assembleia mais importante do reino, num espaço onde as Cortes ficaram reunidas em Leiria.
Diversos representantes do clero estiveram presentes e também se encontravam representantes da nobreza e dos concelhos. Foi realizada a leitura de uma carta proveniente de Arzila, cidade onde D. Fernando se encontrava.
Pontos de vista
Na mensagem que foi lida para todos os presentes, D. Fernando dirigia-se diretamente ao rei, pedindo-lhe que o acordo assumido por D. Henrique fosse cumprido e que Ceuta fosse devolvida para que ele fosse liberto.
Os infantes D. Pedro (futuro regente do reino) e D. João estavam a favor da entrega de Ceuta. Alguns fidalgos e a maioria dos procuradores dos concelhos (o “povo”) manifestaram-se por essa decisão que permitia a libertação de D. Fernando.
Houve um grupo que preferia manifestar-se a favor do resgate do infante, sem a entrega de Ceuta e defendia que a libertação fosse por via de outros meios, diplomáticos ou militares. A proposta consistiu numa nova expedição a Marrocos que obrigasse os mouros a libertá-lo. A hipótese de entregar Ceuta era encarada como último recurso.
O arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra (que era bisneto de D. Pedro e de D. Inês), foi um dos que se opôs à entrega de Ceuta. Sem existir primeiro a licença do Papa, Ceuta era uma terra cristã nesse momento. Se voltasse a ser muçulmana, seria considerado uma grande derrota.
Ele contou com o apoio da maioria do clero. Numa posição encabeçada pelo conde de Arraiolos (depois, duque de Bragança), a maioria dos nobres também recusou entregar Ceuta.
O final (in)desejado
O infante D. Henrique não marcou presença nas Cortes de Leiria, tendo sido apontadas pelos participantes responsabilidades ao Infante pelo falhanço de Tânger. Os participantes censuraram a inabilidade de D. Henrique como chefe militar. Posteriormente, o Infante D. Henrique encontrou-se a sós com o rei.
O Infante D. Henrique deu o seu parecer ao rei: Ceuta não devia ser entregue! Poucos meses depois, mais precisamente em setembro de 1438, D. Duarte morreu de peste, com 46 anos de idade. No entanto, no seu testamento, deixou a vontade de libertar o irmão, mesmo que isso implicasse a troca de Ceuta.
D. Fernando encontrava-se então noutra cidade. Já tinha sido levado para Fez. Ao longo do tempo, foi tratado de diferentes formas. Ora, era tratado com todas as honras, ora era tratado como um prisioneiro de baixa condição. Portugal chegou a organizar uma tentativa de evasão, mas saiu gorada e D. Fernando sofreu as consequências.
D. Fernando chegou a escrever uma carta ao seu irmão D. Pedro, que era regente do reino (enquanto D. Afonso V era menino), e apelou novamente à entrega de Ceuta de forma a que fosse assegurada a sua libertação.
O infante D. Pedro manteve a correspondência com D. Fernando até 1442. Enquanto regente tentou ao máximo negociar a libertação de D. Fernando, mas não conseguiu. Em 1471, D. Afonso V conquistou Tânger. Nesse momento, trouxe os restos mortais de D. Fernando, que foram trasladados para o mosteiro da Batalha. Os restos mortais de D. Fernando encontram-se neste monumento na Capela do Fundador, junto dos pais e irmãos.
A Era dos Descobrimentos
Estas viagens resultaram na expansão portuguesa. As conquistas portuguesas deram um contributo fundamental para delinear o mapa do mundo. Os portugueses procuravam alternativas às rotas do comércio no Mediterrâneo e encontraram diversas riquezas.
Os descobrimentos portugueses consistiram na Era mais dourada da nossa história.
Os portugueses desenvolveram os primeiros navios capazes de navegarem com segurança em mar aberto no Oceano Atlântico. Eles oram responsáveis por descobertas maravilhosas.
O conjunto de viagens dos nossos navegadores e as respetivas explorações marítimas realizadas permitiram a Portugal ocupar uma posição privilegiada entre 1415 e 1543, quando foram asseguradas para o reino diversas riquezas.
Primeiro, foram os nossos navegadores, seguiram-se os espanhóis e, mais tarde, foram outros países europeus a explorar o globo terrestre. Exploravam intensivamente o mundo à procura de novas rotas de comércio.
A “Era dos Descobrimentos” europeus durou do século XV até ao XVII. Nestes anos, foram realizados avanços importantes em diferentes áreas, nomeadamente na tecnologia náutica, cartografia e astronomia.
A morte
O Infante D. Henrique tinha sessenta e seis anos, quando faleceu em Sagres, no dia 13 de novembro de 1460. Os seus navios encontravam-se às portas do golfo da Guiné.
Legado
Este homem apresentou uma atitude pragmática, consciente, avisada ao longo da sua vida, que se revelou determinante e, por isso, ficou ligado às conquistas que se seguiram. O Infante D. Henrique criou as bases que permitiram aos portugueses dar continuidade à expansão marítima que iniciou.
Ele inspirou os portugueses a seguirem com o seu legado e inspirou outros povos europeus a fazerem o mesmo. Ele foi decisivo num dos feitos de maior relevância na História, a Era dos Descobrimentos.