Passar férias na Ilha da Madeira é uma experiência memorável. No entanto, há muito a explorar no arquipélago. As Ilhas Selvagens apresentam-se em estado puro.
A ilha da Madeira é um destino de sonho, unanimemente reconhecido como uma das ilhas mais belas da Europa. Visitar a Ilha da Madeira equivale a conhecer a Natureza no seu máximo esplendor, apresentada no máximo requinte e sofisticação.
A Ilha da Madeira é um lugar perfeito, um paraíso na terra. O arquipélago da Madeira tem uma riqueza imensa. Por exemplo, as Ilhas Selvagens não são um destino onde se escolha viver, mas não deixam de fazer parte da imensa riqueza do Arquipélago.
O Arquipélago da Madeira
Este Arquipélago ocupa uma área total de 801 km², sensivelmente. O arquipélago da Madeira está situado no oceano Atlântico. No entanto, encontra-se a apenas 560 km da costa de Marrocos. Este Arquipélago tem uma população de 270.000 pessoas.
O arquipélago da Madeira é constituído pela Ilha da Madeira, a maior e mais popular das ilhas, onde o Funchal surge como a capital. Além dessa ilha, há também a ilha de Porto Santo, que também está habitada.
Porto Santo e a Madeira foram ilhas (re)descobertas no século XV por navegadores que se encontravam ao serviço do Infante D. Henrique. O arquipélago da Madeira também é constituído pelas ilhas Desertas e pelas Selvagens.
Ilhas Selvagens, uma das maiores áreas protegidas do mundo fica na Madeira
Localização
As Ilhas Selvagens integram o Arquipélago da Ilha da Madeira. Elas estão situadas a sudeste da ilha da Madeira. Elas são consideradas um sub-arquipélago da Madeira constituído por duas ilhas maiores (a Grande e a Pequena) e oito ilhéus.
As Ilhas Selvagens constituem o território português que se encontra mais a sul. Estas ilhas estão situadas a cerca de 300 km a sul do Funchal. Estas são as ilhas que se encontram mais próximas de África (a 250 quilómetros do continente africano). Além disso, as Ilhas Selvagens encontram-se mais perto das Canárias do que da Madeira. Estão a apenas 165 quilómetros das espanholas ilhas Canárias.
Curiosidades
Estas Ilhas são as primeiras representantes de um conjunto de áreas protegidas na Região Autónoma da Madeira. As Ilhas Selvagens foram as primeiras a serem classificadas como Reserva a nível nacional. Esse momento aconteceu em 1971. Estas ilhas eram conhecidas pelos Romanos. Na época, estes designavam estas ilhas como “Ilhas da Púrpura”.
Características
Todas as tentativas de colonizar estas ilhas foram abortadas devido à falta de água potável.
As Ilhas Selvagens são ilhas de origem vulcânica. As Selvagens são duas ilhas próximas e com as suas especificidades existe a ilha Selvagem Grande e a Ilha Selvagem pequena. As Ilhas Selvagens são apenas habitadas por elementos de uma equipa de guardas do Parque Natural da Madeira, por membros da Polícia Marítima e por elementos da Capitania do Funchal.
Estas ilhas são um autêntico santuário ornitológico. As Ilhas Selvagens não podem ser visitadas sem autorização. Há uma permanente vigilância contra os caçadores furtivos.
A Selvagem Grande
Esta ilha é a que tem maiores proporções, como o nome indica. É nesta ilha que se localiza a Estação principal de apoio à área protegida. Esta ilha é maioritariamente plana, embora tenha algumas falésias que se elevam 100m acima do nível do mar.
O clima na Selvagem Grande é marinho subtropical, por isso, por aqui, apresentam-se regularmente os ventos de nordeste que trazem consigo o ar quente (e até a areia) do deserto do Sahara.
Na Selvagem Grande, houve um genuíno esforço de colonizar a terra. As ruínas de muros ainda permanecem visíveis, sinal do inglório esforço de tornar o local habitável. No século XV, foi realizada a introdução de cabras e coelhos na ilha, mas essa decisão acabou por ter efeitos devastadores sobre a vegetação da Selvagem Grande.
Ao longo de séculos, esta ilha assegurou aos seus proprietários fartos rendimentos por via do comércio da urzela e de líquenes, elementos utilizados na tinturaria e no fabrico de sabão.
Outros elementos que geravam interesse económico eram a pesca e a salga do peixe. A caça às cagarras também representou lucros. Elas eram abatidas e vendidas pela carne e pelas penas.
A Selvagem Pequena
Esta ilha é constituída por uma série de ilhéus e por toda a área marinha adjacente. O principal da Selvagem Pequena é o Ilhéu de Fora. Tanto a Ilha Selvagem Pequena como o Ilhéu de Fora representam vestígios de picos vulcânicos submarinos, elementos com 27 milhões de anos, atualmente, quase integralmente cobertos por areia de cal.
Ao contrário do que aconteceu com a Ilha Selvagem Grande, a Selvagem Pequena (e Ilhéu de Fora) apresenta uma vegetação intacta. Tal acontece porque nunca houve aqui presença humana e não existiu a introdução de gado.
Essa qualidade “intocável” torna este local particularmente fascinante do ponto de vista botânico. Ao todo, na Ilha Selvagem pequena, existem 11 plantas endémicas.
Breves momentos históricos
Embora existam registos que as Ilhas Selvagens já eram conhecidas (os irmãos Pizzigani viram as ilhas em 1394), a descoberta oficial das Ilhas Selvagens é atribuída a um português. Foi no ano de 1438 que Diogo Gomes descobriu e batizou as Ilhas Selvagens.
Logo após a descoberta, as Ilhas Selvagens foram exploradas pelas suas riquezas. As ilhas foram exploradas para a recolha de plantas naturais (que eram bastante úteis na indústria da tinturaria) e dos curtumes, nomeadamente da urzela, pastel e sumagre.
Nestas ilhas, também se explora outras plantas, tais como Barrilha. Estas eram usadas no fabrico de sabão. Estas atividades revelavam-se uma fonte de rendimento excelente para a época.
Ao longo deste século e nos seguintes, as Ilhas Selvagens eram tidas como território de privados. Por isso, estas ilhas foram mudando de proprietário. A posse por herança levou a que as Ilhas Selvagens mudassem constantemente de mãos.
A partir de 1717, as Ilhas Selvagens passaram a constar em testamentos, heranças, inventários, partilhas e embargos.
A 1ª expedição científica às Ilhas Selvagens foi realizada em 1963. A expedição foi organizada pelo Museu de História Natural do Funchal.
Só em 1971 é que as Ilhas Selvagens passam a estar sob a administração territorial da Região Autónoma da Madeira (juntamente com as Ilhas Desertas). Foi neste ano que as Ilhas Selvagens foram protegidas legalmente, tendo sido classificadas como Reserva, a primeira de Portugal!
Após serem compradas pelo estado português, as Ilhas Selvagens foram transformadas em reserva natural. Atualmente, representam um dos maiores santuários de aves marinhas do mundo.
No ano de 1977, a Direção de Faróis da Marinha Portuguesa determinou a instalação de um farol na Selvagem Grande (no Pico da Atalaia) e também foi instalado um farol na Selvagem Pequena (no Pico do Veado, mais precisamente).
No ano de 1992, estas ilhas foram distinguidas com o Diploma Europeu do Conselho da Europa para Áreas Protegidas. Trata-se do certificado de qualidade mais elevada que pode ser atribuído pelo Conselho da Europa a uma área protegida.
Foi o reconhecimento do grande interesse do Património Natural presente nas Ilhas Selvagens. No nosso país, apenas existem 2 áreas com esta distinção e ambas se encontram presentes na Região Autónoma da Madeira.
Em 2022, foi aprovado o novo regime jurídico da Reserva Natural das Ilhas Selvagens. Apresenta uma área total de 2677km2, o que fez com que passasse a ser a maior área marinha protegida com total proteção da Europa. Este é considerado o ecossistema mais intacto do Nordeste Atlântico!
O interesse espanhol
Espanha manifestou diversas vezes interesse no mar das selvagens. As ilhas Selvagens estão mais próximas do território espanhol (por via das ilhas Canárias) do que do território português (da Madeira).
Embora não existam quaisquer dúvidas de que as ilhas Selvagens são portuguesas, há um interesse espanhol nelas. Espanha não quer para si as Ilhas Selvagens propriamente ditas, o seu interesse é marítimo. Por via da localização das ilhas, nuestros hermanos revelam ter interesse nas águas que se encontram à volta do sub-arquipélago madeirense.
Portugal apresentou às Nações Unidas uma proposta do Projeto de Extensão da Plataforma Continental. Na sequência disso, Espanha objetou e colocou em causa o estatuto de ilha das Selvagens.
Para os espanhóis, era importante que as Ilhas Selvagens não fossem consideradas ilhas, mas sim rochedos. Se tal acontecesse, Espanha ficaria maior. Os espanhóis ficariam com mais 74 milhas marítimas de Zona Económica Exclusiva (ZEE), uma quantidade assinalável que se encontra à volta das ilhas.
No entanto, a objeção espanhola foi retirada em 2015 e as Selvagens são consideradas Ilhas (como os portugueses queriam) e não rochedos, como era desejado pelos espanhóis.
Ilhas com interesse
Estas Ilhas são visitadas todos os anos por centenas de pessoas. É sempre necessário solicitar autorização prévia da entidade gestora da área, o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza IP-RAM.
As pessoas podem deslocar-se ao local através de embarcações privadas, através de embarcações marítimo-turísticas ou através dos navios de Guerra da Marinha Portuguesa.
Atualmente, as únicas visitas às Selvagens que são autorizadas são científicas, ou seja, visam aprofundar o estudo da botânica e da vida selvagem local.
O objetivo é dar a conhecer o património natural da Região. Dar a conhecer as ações de conservação que têm vindo a ser desenvolvidas. O objetivo é tomar as medidas adequadas, tendo sempre em vista a salvaguarda do meio ambiente.
A principal atividade de turismo desenvolvida aqui é a visita guiada, realizada num percurso interpretativo, onde se pode fazer a observação das Ilhas Selvagens.
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Visitas oficiais
A 1ª visita oficial do mais alto representante da nação portuguesa às Ilhas Selvagens ocorreu em 1991. Essa visita do Sr. Presidente da República, Dr. Mário Soares, representou um marco importante. Posteriormente, mais três chefes de Estado fizeram questão de visitar as Ilhas Selvagens.
Estas ilhas foram visitadas por Dr. Jorge Sampaio, momento que aconteceu em 2003. No ano 2013, pelo Presidente da República da época, Dr. Aníbal Cavaco Silva. Mais recentemente, em 2016, mais precisamente, foi o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa a visitar as Ilhas Selvagens.
As cagarras
É nas Ilhas Selvagens que vive a maior colónia de cagarras do mundo. Esta ave marinha migratória instala-se nas ilhas entre os meses de março e de setembro com o propósito de nidificar.
A cagarra é assim um símbolo das Ilhas Selvagens. Os direitos de caça das ilhas eram vendidos até à década de 70 (do século XX). Nessa época, os caçadores da cagarra saíam do Funchal em setembro, para caçar os juvenis de cagarra, antes que estes partissem para África, como fazem por essa altura.
No entanto, após as ilhas terem sido classificadas como reserva natural, as aves foram protegidas. As cagarras põem apenas um ovo por ano. A sua proteção foi vital para elas conseguirem estabilizar a população nas Ilhas Selvagens. Existem cerca de 30 mil casais a habitar o arquipélago durante o verão.
A Lenda
Curiosamente, as Ilhas Selvagens estão ligadas a uma lenda encantadora. Ao que parece, elas escondem um tesouro perdido. Segundo reza a lenda, um famoso pirata escocês atacou um galeão espanhol.
Tratou-se do capitão William Kidd que, em 1701, ficou com as riquezas da catedral peruana de Lima que o galeão espanhol carregava. William Kidd teve de esconder o produto do saque à pressa e foi nas Selvagens que viu o local perfeito para o fazer.
Por causa dessa lenda, foram realizadas quatro expedições (pelo menos) durante o século XIX, que tinham como objetivo descobrir este tesouro.
Mais tarde, em 1923, mais precisamente, foi Sir Ernest Shackleton a visitar o Funchal com essa missão. O explorador inglês informou ter elementos fornecidos pela própria marinha britânica que permitiam descobrir a localização desse tesouro.
Nessa altura, pediu então autorização ao proprietário das Selvagens da época, Luís Rocha Machado. No entanto, só iria iniciar as buscas após o regresso à viagem que tinha programado fazer no Pólo Sul.
Ora, como Sir Ernest Shackleton morreu durante essa expedição, a localização exata do tesouro, se existia, perdeu-se com a morte do explorador inglês.