A esperança média de vida em Portugal está novamente a crescer — uma excelente notícia do ponto de vista social e demográfico — mas com uma consequência que muitos portugueses já antecipavam com inquietação: a idade legal da reforma vai voltar a aumentar. E, para quem se prepara para deixar o mercado de trabalho nos próximos anos, estas mudanças podem significar mais meses — ou até anos — de trabalho adicional.
A idade da reforma continua a subir. Porquê?
Todos os anos, em novembro, é divulgado o valor de referência que determina não só a idade normal de acesso à pensão de velhice da Segurança Social, mas também o chamado fator de sustentabilidade — uma fórmula que calcula penalizações para quem decide reformar-se mais cedo.
E 2025 traz um novo dado com impacto direto na vida de quem está a planear o fim da carreira contributiva.
Segundo estimativas provisórias do Instituto Nacional de Estatística (INE), a esperança média de vida aos 65 anos subiu de 20,02 para 20,19 anos.
Pode parecer uma diferença mínima, mas tem consequências profundas: traduz-se em mais dois meses de trabalho para quem se quiser reformar em 2027. Assim, a idade legal passa a ser 66 anos e 11 meses.
Um marco simbólico? Sem dúvida. Mas sobretudo um sinal claro da tendência que já se avizinha há anos: trabalhar até mais tarde deixou de ser exceção para passar a ser regra.
Reforma antecipada? Prepare-se para cortes severos
Para quem pondera abandonar o mercado de trabalho antes da idade legal, as penalizações continuam duras — e tudo indica que se irão agravar.
As previsões atuais apontam para um corte de 17,63%, ao qual acresce uma penalização de 0,5% por cada mês de antecipação.
Ou seja, quem decidir sair demasiado cedo pode ver uma parte significativa da pensão desaparecer. E importa lembrar: estes são valores de referência, gerais. Na prática, cada situação depende do número de anos de descontos, da idade de início de carreira e da profissão desempenhada.
Portugal entre os países onde se trabalha até mais tarde
A tendência de subida não é exclusiva de Portugal. Mas o país está a posicionar-se num grupo muito restrito — e pouco confortável. Um relatório recente da OCDE revela que um jovem que entrou no mercado de trabalho em 2024, com 22 anos, terá de trabalhar até aos 68 anos.
Portugal junta-se, assim, ao grupo dos oito países com a idade de reforma mais elevada no futuro, a par da Dinamarca, Estónia, Países Baixos, Suécia, Itália, Eslováquia e Reino Unido.
As diferenças entre países continuam expressivas:
– 62 anos na Colômbia, Grécia, Luxemburgo e Eslovénia
– 52 anos na Turquia (um caso isolado)
– 67 anos na Austrália, Dinamarca, Islândia, Israel, Países Baixos e Noruega
Num cenário global em que cada vez mais nações prolongam a vida laboral, Portugal está claramente no pelotão da frente.
Há boas notícias – e são relevantes
Nem tudo é negativo. Os portugueses que trabalham até à idade legal de reforma têm direito a uma pensão líquida que representa, em média, 92% do último salário — uma das taxas de reposição mais elevadas da OCDE. Apenas os Países Baixos e a Turquia ultrapassam este valor, com taxas superiores a 95%.
No extremo oposto situam-se países como a Estónia, Irlanda, Coreia e Lituânia, onde a reposição líquida futura é inferior a 40%.
Adiar a reforma compensa — mas poucos o fazem
Apesar dos incentivos, apenas 14% dos reformados portugueses continuavam a trabalhar em 2023, abaixo da média da OCDE (22%). Ainda assim, Portugal está entre os países que mais bonificam quem decide prolongar a carreira contributiva, explica a Renascença.
Trabalhar para além da idade legal, em muitos casos, não é apenas uma opção financeira: é também uma forma de garantir uma pensão mais sólida e uma velhice com maior conforto económico.




