Quando pensamos na história de Portugal, geralmente associamos a sua origem à fundação do Condado Portucalense por D. Henrique e à independência conquistada por D. Afonso Henriques. No entanto, antes disso, houve um período em que a Península Ibérica estava dividida em vários reinos muçulmanos, chamados de taifas, que surgiram após a queda do Califado de Córdova. Um desses reinos foi o de Badajoz, que chegou a ser a capital de metade do território que hoje conhecemos como Portugal.
As origens do reino de Badajoz
O Reino de Badajoz, também conhecido como Emirado ou Taifa de Badajoz, foi fundado entre 1009 e 1013, na sequência da fragmentação do Califado de Córdova, então o centro do poder islâmico na Península Ibérica. O seu primeiro governante foi Sabur, um ex-escravo eslavo do califa Aláqueme II, que aproveitou a crise política e social que abalava o califado para se declarar independente.
A capital deste reino era a cidade de Badajoz, fundada em 875 pelo muladi Ibne Maruane, um muçulmano de origem cristã que estabeleceu um reino de facto, resistindo às tentativas do califado de o subjugar. Fortificada e estrategicamente localizada junto ao rio Guadiana, Badajoz tornou-se um importante centro político e cultural.
O Reino de Badajoz abrangia uma vasta área da antiga Lusitânia romana, incluindo cidades como Mérida e Lisboa. Estendia-se desde o rio Douro até praticamente todo o Alentejo e abrangia partes da zona ocidental de Castela, quase até Leão. Este era um dos maiores e mais poderosos reinos muçulmanos da Península Ibérica.
Governantes e conflitos
O Reino de Badajoz teve dois períodos de independência: o primeiro entre 1009 e 1094, e o segundo entre 1144 e 1151. Durante esses períodos, foi governado por duas dinastias principais: os Sabúridas e os Aftácidas.
Sabur foi sucedido pelo seu vizir, Abedalá ibne Alaftas, que usurpou o poder e fundou a dinastia Aftácida. Sob os Aftácidas, o reino atingiu o auge da sua influência. Entre os governantes mais notáveis destacam-se Maomé I, que expandiu o território do reino, e Iúçufe, um mecenas das artes e das ciências.
Os Aftácidas conquistaram diversas taifas vizinhas, como Lisboa, Mértola e Silves, mas também enfrentaram derrotas significativas, incluindo a invasão dos Almorávidas em 1094 e dos Almóadas em 1151, dinastias berberes do Norte de África que acabaram por absorver o reino.
Um centro de cultura e conhecimento
Para além do seu poder político e militar, o Reino de Badajoz destacou-se como um centro cultural e científico do Islão na Península Ibérica. Sob a proteção dos seus governantes, floresceram as artes, as letras, a filosofia, a medicina, a astronomia e a matemática.
A cidade de Badajoz abrigava uma das mais importantes bibliotecas da época, além de escolas que atraiam estudiosos de diversas partes do mundo islâmico. Figuras como Ibne Maruane, fundador da cidade e líder rebelde, e Alaftas ibne Maomé, historiador e poeta, deixaram um legado intelectual significativo.
Uma sociedade diversa
A sociedade do Reino de Badajoz era diversa e marcada pela convivência entre muçulmanos, cristãos moçárabes e judeus. Cada grupo mantinha a sua própria identidade cultural e religiosa. Esta diversidade contribuiu para o dinamismo económico e cultural do reino. A economia baseava-se na agricultura, pecuária, indústria têxtil e cerâmica, além de um ativo comércio com o Norte de África e outras regiões da Península.
O declínio e a herança
Conforme explica a VortexMag, o Reino de Badajoz deixou de existir como entidade independente após a conquista pelos Almóadas em 1151. No entanto, a sua influência perdurou na região até à Reconquista Cristã. A cidade de Badajoz foi conquistada definitivamente pelo rei de Castela, Afonso IX, em 1230.
Com o Tratado de Alcanizes, em 1297, os territórios que outrora fizeram parte do reino foram divididos entre Portugal e Espanha, consolidando a fronteira que ainda hoje separa os dois países. A maior parte ficou sob administração espanhola, enquanto a região portuguesa integrou os distritos de Portalegre, Évora e Beja.
O Reino de Badajoz é um exemplo fascinante de como a Península Ibérica foi moldada por uma interação complexa de culturas e civilizações. A sua história é um lembrete de que as raízes de Portugal estão profundamente entrelaçadas com os eventos que ocorreram muito antes da sua fundação como nação independente.