Conheça a história das expressões populares que nasceram em Lisboa e ficaram para sempre nos discursos dos portugueses.
A língua portuguesa é uma língua fascinante. Tem uma riqueza encantadora e nós, enquanto portugueses, devemos aprofundar o nosso conhecimento sobre ela, pois podemos encontrar algumas pérolas.
Por exemplo, existem diversas expressões populares que são verdadeiramente intrigantes. Algumas dessas expressões tiveram origem na capital portuguesa. Quer saber mais sobre elas?
História das expressões populares criadas em Lisboa
“Calhandreira”
Já ouviu a expressão “calhandreira”? É preciso recuar até aos séculos XVII ou XVIII para ir ao encontro da origem deste termo. Segundo os estudiosos destes assuntos, o “calhandro” era uma espécie de penico da época, sendo que este era frequentemente despejado e lavado no Tejo. Esta ação era feita por um grupo de serviçais que se encontravam ao serviço das famílias mais nobres e ricas da cidade.
O termo “calhandreira” ficou associado ao facto dessas mulheres aproveitarem o momento para bisbilhotar tudo o que podiam acerca das casas dos patrões. Assim, este termo significa meter-se na vida alheia. Embora, ao mesmo termo, tenha ainda no sentido figurado o significado pejorativo de prostituta. No sentido antiquado, este termo significa mulher africana e escrava, que exercia o ofício de calhandreiro.
“À grande e à francesa” e “Farrobodó”
No Palácio Chiado, edifício histórico na Rua do Alecrim (nº 70) que hoje é um restaurante, nasceram duas expressões bem conhecidas dos portugueses. O primeiro Conde de Farrobo, Joaquim Pedro de Quintela, organizava os faustosos banquetes outrora servidos por Farrobo no então Palácio Quintela.
Esses momentos estão na origem das duas expressões: “à grande e à francesa” que significa abundantemente, com pompa; enquanto “forrobodó”, em sentido coloquial, significa festança; pândega (confusão; trapalhada ou falta de regras ou de disciplina são outros significados do termo que tem origem onomatopeica).
“Resvés Campo d`Ourique”
Existem diferentes teorias sobre a origem desta expressão, sendo que a maioria tende para a versão que a associa ao Terramoto de 1755 (seguido de um violento maremoto) que atingiu a capital com elevado estrondo.
Como os estragos não chegaram ao bairro de Campo de Ourique, ficou a expressão “resvés Campo d`Ourique”, associando-se a “por um triz”!
“Caiu o Carmo e a Trindade”
O Terramoto de 1755 foi um acontecimento trágico que deixou marcas na capital, mas também na língua portuguesa. Além de ter provocado uma destruição ímpar na cidade, nomeadamente nos antigos conventos do Carmo e da Trindade, inspirou a que surgisse a expressão “caiu o Carmo e a Trindade”. E é natural, pois representa dois emblemáticos monumentos daquela época, na capital e em Portugal.
“Caiu o Carmo e a Trindade” foi uma frase repetida diversas vezes, refletindo o assombro sentido pela população nessa ocasião. Assim, a mensagem foi espalhada e, nessa dispersão, a expressão ficou para sempre, estando associada a algo dramático ou a um acontecimento extremamente negativo.
“Ficar a ver navios”
Usa-se a expressão “ficar a ver navios” no sentido de não se conseguir obter o que se desejava ou de se sofrer uma enorme deceção. A origem desta expressão está no Alto de Santa Catarina, embora haja duas teorias para isso.
A primeira remete para o tempo dos Descobrimentos (das Índias, de África e do Brasil) e dos armadores portugueses e das pessoas que subiam até esta colina para ver a chegada dos navios. Outra teoria remete para a descrença na morte de D. Sebastião. Por isso, os lisboetas iam esperar pelos navios, aguardando a chegada do Rei, que nunca regressou…
“Meter o Rossio na Rua da Betesga”
Esta expressão é uma expressão que um lisboeta percebe num instante, tal como alguém que conheça ambos, o Rossio e a Rua da Betesga. Mesmo quem não conhece, pode facilmente deduzir o significado da expressão.
A pequena rua da Betesga, que liga o Rossio à Praça da Figueira, tem uma extensão menor do que o Rossio. Portanto, seria difícil colocar o Rossio nos 35 metros de comprimento da rua. Assim, meter “o Rossio na rua da Betesga” significa o mesmo que querer fazer algo impossível, desproporcionado, ilógico ou incompreensível.
NCultura
Factos históricos levaram ao desenvolvimento de algumas expressões que usamos regularmente. O que achou da história das expressões populares portuguesas? Costuma usar alguma destas expressões no seu dia-a-dia? Diga-nos nos comentários qual é a expressão que mais usa regularmente.
Se gostou deste tema pode procurar outros artigos sobre Português no NCultura.
Se tem outros temas que pretende que sejam explorados pelo NCultura, deixe-nos sugestões.
Se é apaixonado pela língua portuguesa, saiba que há muitos mais artigos para ler no NCultura.
Apaixone-se pelo NCultura e explore diferentes temáticas: turismo e viagens, lifestyle, receitas, vinhos, histórias, entre outras…