A tranquilidade de um dos destinos de praia mais emblemáticos de Portugal foi abalada. A Câmara Municipal da Nazaré investiga agora uma possível sabotagem à conduta de saneamento, após a interdição dos banhos na zona Norte da praia. O episódio, que interrompeu a época alta, trouxe à tona um problema antigo: um sistema de saneamento com cerca de 60 anos, claramente incapaz de suportar a pressão turística que a vila recebe todos os verões.
O presidente da Câmara, Manuel Sequeira (PS), explica que “Estamos a reunir um conjunto de informações e a perceber o que é que está a acontecer”, afirmou o autarca deste concelho do distrito de Leiria, reconhecendo que “há muita coisa estranha a passar-se: é um facto que há muita gente que conhece o sistema, tão bem, e, se calhar, alguns melhor que nós, e é um facto que estamos a sentir algo que não é normal”.
Um incidente que levantou alertas
O entupimento, registado junto à Praça Manuel Arriaga, provocou uma escorrência de efluentes durante cerca de hora e meia. Como medida preventiva, a praia foi imediatamente interditada a banhos.
Embora não haja registo de casos de intoxicação ou sintomas de doença, o impacto na confiança dos veraneantes e na imagem turística da Nazaré é evidente.
Este é já o segundo incidente do género em menos de um mês. No início de agosto, uma descarga nos esgotos pluviais levou à proibição temporária dos banhos e resultou no atendimento de 116 pessoas na Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, muitas delas jovens com sintomas de gastroenterite.
Um sistema antigo e sobrecarregado
O episódio expôs uma fragilidade há muito denunciada: a rede de saneamento da zona Norte, envelhecida e sem capacidade para responder ao elevado fluxo de turistas.
Segundo o autarca, “não é normal retirar panos de cozinha, toalhitas ou até toalhas de praia das condutas”, o que agrava os bloqueios e potencia incidentes como este.
Apesar de já ter havido investimento significativo na parte Sul do sistema, as obras na zona Norte têm sido sucessivamente adiadas. E a história repete-se: em 2020, um caso semelhante provocou também a interdição da praia.
A verdade é que a Nazaré, que se tornou mundialmente famosa pelas ondas gigantes e pelo surf de competição, vive hoje sob uma pressão turística sem precedentes. Milhares de visitantes chegam anualmente, não apenas para o verão, mas também para eventos desportivos e culturais, aumentando exponencialmente a utilização das infraestruturas locais.
Exigências e medidas urgentes
O Bloco de Esquerda, em comunicado, considera “intolerável” que a antiga conduta de esgoto junto ao canto das pedras continue operacional. Para o partido, a situação coloca em risco não só a saúde pública, mas também a economia local, profundamente dependente do turismo balnear. Exige-se, assim, o encerramento imediato dessa conduta, a modernização urgente da rede de esgotos e a divulgação pública, de forma transparente, das análises à qualidade da água.
Não se trata apenas de um investimento técnico, mas de uma questão estratégica para proteger o futuro económico e social da Nazaré. O turismo é a principal fonte de rendimento de muitos residentes, e um problema de poluição pode ter repercussões devastadoras, afastando visitantes e prejudicando a imagem internacional da vila.
Mais do que um problema técnico, uma questão de segurança e confiança
A Nazaré construiu ao longo das décadas uma reputação de excelência turística, marcada pelas suas ondas gigantes, tradições e beleza natural. Porém, acontecimentos como este ameaçam essa imagem. A confiança dos visitantes e a segurança da população não podem ser postas em risco por falhas técnicas, negligência ou atos deliberados de sabotagem.
Segundo o ZAP, o impacto não é apenas imediato. Notícias de poluição ou riscos para a saúde permanecem na memória coletiva e circulam rapidamente nas redes sociais, podendo afetar as reservas hoteleiras e a procura por serviços turísticos durante meses ou até anos.
Manuel Sequeira reforça que os resultados das análises do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge serão conhecidos em breve, garantindo que “não há registo de pessoas com sintomas” neste último incidente. Ainda assim, para muitos residentes e empresários locais, a incerteza paira — e com ela a urgência de garantir que estas situações não se repitam.
Nazaré precisa de uma resposta firme e imediata
É imperativo que as autoridades atuem rapidamente. Um plano robusto de investimento em saneamento, aliado a campanhas de sensibilização para evitar o despejo incorreto de resíduos nas condutas, é essencial para preservar a qualidade da água e proteger a saúde pública.
A Nazaré é mais do que um destino turístico: é um símbolo nacional de coragem e tradição, de pescadores que desafiam o mar e atletas que enfrentam ondas gigantes. Deixar que problemas de saneamento comprometam essa imagem seria não apenas um erro estratégico, mas uma injustiça para todos os que amam e vivem desta terra.
O futuro da Nazaré passa pela proteção do seu maior património: o mar e a confiança de todos aqueles que o procuram.
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