O furacão Gabrielle, que nesta segunda-feira se intensificou para categoria 4 na escala de Saffir-Simpson, está a caminho do Atlântico Norte e poderá atingir os Açores já no final da semana. Apesar de ainda se encontrar a mais de 3.000 quilómetros de distância, o seu potencial destrutivo coloca o arquipélago em estado de máxima vigilância.
Uma força da natureza em movimento
De acordo com o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC), Gabrielle atingiu ventos sustentados de 220 km/h enquanto avançava a partir do sudeste das Bermudas em direção a norte-nordeste. Trata-se de um ciclone de grande dimensão, capaz de gerar ondas gigantescas, chuvas torrenciais e ventos de impacto devastador. Embora seja esperado algum enfraquecimento nos próximos dias, a sua chegada aos Açores continua a ser uma ameaça concreta, com possibilidade de atingir as ilhas como furacão de categoria 1.
Açores em alerta: impactos possíveis
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Gabrielle deverá cruzar entre o Grupo Ocidental (Flores e Corvo) e o Grupo Central (Terceira, Graciosa, Pico, São Jorge e Faial) na sexta-feira. A passagem poderá trazer ventos superiores a 120 km/h, chuvas intensas capazes de provocar inundações repentinas e uma agitação marítima com ondas que podem ultrapassar os 10 metros de altura. Os especialistas alertam que, mesmo com a descida para categoria 1, os riscos não devem ser minimizados: a força do mar e a instabilidade atmosférica podem afetar seriamente as populações e infraestruturas.
Lições do passado
Os Açores conhecem bem os efeitos da passagem de furacões. Recorde-se o impacto do furacão Lorenzo, em 2019, que provocou destruição em estradas, portos e habitações, para além de prejuízos avultados em atividades económicas fundamentais como a pesca e a agricultura. Estes antecedentes reforçam a importância da preparação atempada, sobretudo em ilhas que dependem fortemente de ligações marítimas e aéreas.
Preparação e recomendações
As autoridades açorianas apelam à população para que reforce estruturas, assegure reservas de bens essenciais e evite deslocações desnecessárias durante a passagem do furacão. Recomenda-se ainda que sejam evitadas zonas costeiras e encostas instáveis, onde o risco de ondas violentas e derrocadas pode aumentar significativamente. A proteção da família e a prevenção de acidentes devem estar no centro das prioridades.
Gabrielle no contexto da época ciclónica
Este é já o sétimo sistema tropical da época de 2025, que até agora se tinha revelado mais calma do que em anos anteriores. Contudo, a súbita intensificação de Gabrielle mostra como o Atlântico pode transformar-se rapidamente num palco de fenómenos extremos, lembrando que as mudanças climáticas estão a tornar cada vez mais frequentes as tempestades intensas e imprevisíveis.
O que esperar nos próximos dias
Os modelos meteorológicos internacionais (ECMWF, GFS, ICON, UKMO) mantêm uma relativa concordância quanto à aproximação de Gabrielle aos Açores, mas continuam a existir incertezas relativamente ao seu trajeto final e intensidade.
O cenário mais provável é que o furacão chegue na madrugada ou manhã de sexta-feira, afetando sobretudo os grupos Ocidental e Central, mas com possibilidade de repercussões em todo o arquipélago.
Enquanto o Atlântico assiste ao desenrolar da trajetória de Gabrielle, os Açores vivem dias de expectativa e de alerta. O olhar das famílias, das autoridades e das entidades meteorológicas está fixo no horizonte, onde a linha entre segurança e risco se decide ao sabor do vento e da fúria do mar.
Como preparar-se para a chegada do furacão Gabrielle nos Açores
Com a aproximação do furacão Gabrielle ao arquipélago, as autoridades sublinham a importância de cada família e comunidade adotar medidas preventivas para minimizar riscos. Deixar tudo para a última hora pode ser perigoso, por isso a palavra de ordem é preparação.
Guia prático de segurança e prevenção
Em casa
- Reforçar janelas, portas e telhados para evitar danos provocados por rajadas fortes.
- Guardar objetos soltos em varandas e jardins (vasos, móveis, ferramentas) que possam ser projetados pelo vento.
- Garantir que sistemas de escoamento e caleiras estão desobstruídos, prevenindo inundações.
- Preparar uma área segura dentro de casa, longe de vidros e fachadas expostas ao vento.
Bens essenciais
- Armazenar água potável e alimentos não perecíveis para pelo menos três dias.
- Manter lanternas, pilhas, carregadores portáteis e velas sempre à mão.
- Ter medicamentos de uso contínuo devidamente assegurados.
- Guardar documentos importantes em local protegido e de fácil acesso.
Comunicações e energia
- Carregar telemóveis e equipamentos eletrónicos antes da chegada da tempestade.
- Ter rádios portáteis a pilhas para acompanhar atualizações do IPMA e da Proteção Civil.
- Estar preparado para cortes de eletricidade ou falhas de rede móvel.
Deslocações
- Evitar totalmente viagens de barco ou avião durante o aviso de tempestade.
- Não circular em estradas sujeitas a derrocadas ou inundações repentinas.
- Afastar-se de zonas costeiras, falésias e portos, onde as ondas podem ser de grande violência.
Apoio comunitário
- Verificar se vizinhos idosos ou com mobilidade reduzida têm apoio e segurança garantidos.
- Manter contacto regular com familiares e amigos para partilhar informações e apoio.
Um arquipélago resiliente diante da fúria do Atlântico
Os Açores sempre foram conhecidos pela sua resiliência perante os caprichos do Atlântico. Ainda assim, cada furacão traz consigo incertezas e desafios. O Gabrielle pode não atingir os Açores com a mesma violência com que se apresenta hoje no oceano, mas basta um desvio ou uma mudança de intensidade para transformar a paisagem em poucas horas. Preparar-se é não só um ato de prudência, mas também de respeito pela força da natureza e pela vida em comunidade.