O Atlântico Norte prepara-se para receber um dos fenómenos meteorológicos mais intensos e raros desta época do ano: o ainda furacão Erin, que ao longo do fim de semana irá perder as suas características tropicais e transformar-se numa poderosa tempestade extratropical. Apesar de não atingir diretamente Portugal, a sua passagem poderá deixar marcas indiretas no território, com impacto no mar, no vento e até nas temperaturas.
A explosão inesperada do furacão Erin
O furacão Erin surpreendeu a comunidade científica e os meteorologistas quando, de forma quase súbita, passou da categoria 1 para a categoria 5 em apenas 24 horas.
Os ventos chegaram a ultrapassar os 260 km/h no dia 16 de agosto, quando o sistema se encontrava a nordeste de Porto Rico.
Este crescimento explosivo tornou-o um dos fenómenos mais temidos e monitorizados deste verão.
Agora, ao atravessar o Atlântico, Erin entra numa nova fase: perderá a sua energia tropical, mas alargar-se-á em dimensão, convertendo-se numa tempestade extremamente cavada e anormalmente forte para esta altura do ano.
O percurso no Atlântico Norte
Os modelos meteorológicos europeus, como o do ECMWF, indicam que Erin será absorvido por um vale depressionário de grandes dimensões entre a Islândia e as Ilhas Britânicas. Embora alguns cenários iniciais tenham apontado para uma eventual aproximação a Portugal continental ou a Espanha, as últimas previsões são claras: o ex-Erin não atingirá diretamente o nosso país.
Contudo, a sua transformação num ciclone extratropical trará consequências indiretas, especialmente ao nível da agitação marítima e da circulação atmosférica, alimentada pela corrente de jato polar. O que chama ainda mais a atenção é a altura em que isto acontece: finais de agosto, um período em que fenómenos meteorológicos tão intensos no Atlântico Norte são extremamente raros.
O que pode acontecer em Portugal?
Embora não se espere um impacto direto, os efeitos indiretos do ex-furacão Erin não devem ser subestimados. Eis o que as previsões apontam:
Agitação marítima extrema
O mar será o primeiro a reagir. Ondas que poderão ultrapassar os 7 metros no litoral Norte (Viana do Castelo, Braga e Porto) e atingir entre 5 e 6 metros no restante litoral ocidental, de Aveiro até Faro, estão previstas a partir de terça-feira, 26 de agosto. A costa portuguesa enfrentará um mar bravo e perigoso, sobretudo nas zonas expostas ao Atlântico.
Rajadas de vento intensas
Entre terça e quarta-feira (26 e 27 de agosto), o vento fará sentir-se com rajadas que poderão variar entre os 50 e os 60 km/h. Os efeitos mais notórios deverão ocorrer nas terras altas do Norte e Centro (Vila Real e Guarda), no litoral Oeste (Leiria e Lisboa), no litoral alentejano (Setúbal e Beja) e no Barlavento Algarvio.
Chuva residual e temperaturas mais frescas
Embora a precipitação não seja um dos efeitos principais, não se descarta a possibilidade de aguaceiros ocasionais. As temperaturas, por sua vez, deverão descer ligeiramente, oferecendo uma trégua face ao calor que normalmente marca o mês de agosto.
Uma lembrança da força da natureza
O caso do furacão Erin é um lembrete poderoso da vulnerabilidade das sociedades face aos fenómenos naturais. Mesmo sem atingir Portugal de forma direta, a sua presença será suficiente para agitar mares, alterar padrões atmosféricos e obrigar à atenção redobrada de autoridades marítimas, pescadores e comunidades costeiras.
O Atlântico continua a ser palco de tempestades históricas e, neste final de verão, Portugal poderá testemunhar novamente a força de um sistema que nasceu como furacão mas que regressa como uma tempestade de proporções invulgares.